Canto de desagravo a Bom Jesus do Itabapoana

Vejam o senhor e a senhora o quanto é triste/
o que acontece nesta terra desditosa./
Tudo é insano e até parece que é chiste/
de brincalhão com sua mente tortuosa./
Maledicência e maldade apontam em riste,/
onde a cidade tem de ir desvalorosa,/
ao rubro inferno da tertúlia que existe/
apenas para em má dizente tenebrosa/
que lhe aprofunda igual punhal da traição/
no torpe intento em macular outra eleição!/
Aqui refiro Bom Jesus Itabapoana,/
que bem recente sofreu mais os tais tormentos,/
por legião que de per si se diz bacana/
mas insensível aos surdos, roucos, vãos lamentos,/
de uma cidade há muito tempo qual fubana,/
que quer ganhar também os seus belos momentos/
e acabar de vez co´a tola e vil chicana/
de seus políticos que não têm entendimentos,/
que em vez de obrar para si sós sofregamente/
deviam dar um bom destino a toda a gente./
Como é que pode uma eleição ser como coito/
mal-ajambrado a conceber aberrações/
como aquela que se fez em dois mil e oito/
para, depois, cinco prefeitos quadradões/
se revezarem na cadeira igual biscoito/
nas prateleiras, em frenesis degustações?/
Enfado trágico ao lugar outrora afoito/
em seu crescer e progredir aos borbotões,/
correndo atrás da modernista Itaperuna/
que não perdeu nenhuma chance oportuna!/
Só que aqui o besteirol é prolongado;/
ninguém se entende, todos na devassidão./
Que é um flato a quem j´está todo borrado?/
Que mal terá em bagunçar outra eleição?/
Mas eu lhes digo, meus senhores, desvairado,/
que tal propósito não terá nenhum perdão/
e a História apontará o celerado/
maledicente do próprio natal torrão./
Aí depois nas fímbrias franjas do Planeta,/
irá gemer na quente cauda do cometa!/
N´estou aqui a defender quem quer que seja,/
pois considero tudo igual e tão cediço,/
tão só que joguem o jogo limpo da peleja/
conforme as leis eleitorais, e apenas isso./
Por que ganhar e depois ser que já não seja,/
se antes foi das leis tão grande insubmisso?/
Não é melhor cortar o mal antes que enseja/,
de advogados tão enorme rebuliço?/
Que triste sina este campo de batalha/
que leva o povo a tecer sua mortalha!/
Dois mil e treze está também recalcitrante,/
pois a prefeita foi cassada aos cinco meses;/
agora o mais será tão só irrelevante/
— toda energia em prol daquilo o mais das vezes,/
que é a defesa, com exército impressionante,/
do belo cargo que é desejo até dos deuses./
E quem não quer emprego assim inebriante,/
que nem exige a quem lhes paga, ser corteses?/
Mas a cidade que lhes dá a sinecura,/
recebe em troca o sentimento da amargura!/
Pior é que não haverá escapatória,/
pois quem já é não quer sair de nenhum jeito/
e quem está fora quer firmar sua história/
de qualquer forma, inda que no sangrado peito,/
de u´a Viúva que dá mão à palmatória,/
por incapaz de dar a todos igual direito/
— reparte o bolo só pra aquela imeritória/
gente covarde que não lhe dá nenhum respeito!/
Como é terrível e assaz tão deprimente/
a falsidade que existe tão latente!/
O fim da história é como filmes repetidos/
que já cansamos de assistir placidamente./
Lá eles brigam e cá ficamos submetidos/
ao resultado que nos é sabidamente;/
eles que erram e nós que somos os punidos/
com o sobejo da carência a mais urgente,/
reflexo sórdido dos esforços exauridos/
na luta insana em se dar bem pessoalmente./
Encerro aqui este meu canto tão grotesco/
que para eles nada mais que pitoresco./
Produzido em novembro/2008