O pouco escrito do muito sentido. Dedicado às crianças assassinadas na escola de Realengo/RJ

— Estou ansioso para ler sua Coluna, Zé Henrique. Com certeza você vai escrever a respeito do massacre das crianças na escola em Realengo, não vai?
— Não, respondi a Paulo Xavier, o Pepê, um amigo que nas horas vagas faz poemas inspiradores.
— Por quê?
— Porque sou incapaz de traduzir em palavras o que me vai na alma — expliquei, aproveitando para pedir que ele próprio compusesse um poema em homenagem aos inocentes chacinados.
De minha parte, apenas isso: envergonha-me a semelhança de gênero com o assassino tresloucado, com criatura tão infame. Ser constituído da mesma matéria universal com que foi moldado aquele sanguinário me torna pequeno demais, insignificante demais, a despeito de a maioria de nós dignificar a espécie humana. Também me penitencio por ter derramado catadupas de lágrimas, por ter chorado convulsiva e incontrolavelmente em frente à TV e à tela do computador.
Fui oportunista porque, como dizem, chorar faz bem. E eu não tinha o direito de me fazer bem com os eflúvios de tamanha atrocidade!
Eis o poema do meu amigo:

Publicado em maio/2011