General da reserva adverte, em manifesto, o que estão fazendo com a liberdade
Em 1999 eu produzi o texto “Trevas na liberdade” alertando para a zona em que estávamos levando a dita-cuja conquistada em 1985 com o fim do regime militar. Lá se vão 14 anos, e a liberdade, então jovenzinha ainda desabrochando para a vida, de menor idade, a molestamos com a concupiscência dos loucos, no lupanar da vida civil que criamos de maneira perversa, na mais delirante insensatez. Pois bem: de nada valeram as advertências de tantos os que, como eu, a consideram uma filha preciosa, porém delicada e melindrosa como um botão de rosa. Hoje, a senhora ainda jovem em que se transformou a garotinha caiu na gandaia, escancarou de vez.
Mas continua sendo muito preciosa para os brasileiros. Então é necessário que todos nós, como pais zelosos, atribuamos limites a ela, sob pena de a perdermos pelo excesso de vício e devassidão. Leiam o texto abaixo, escrito pelo general da reserva, Paulo Chagas. O militar enumera os podres de nossa liberdade, nos dando a oportunidade de refletir sobre um tema de fundamental importância para o futuro do Brasil e de todos nós.
A NOSSA LIBERDADE
Paulo Chagas – 08/06/2013
Liberdade para quê? Liberdade para quem? Liberdade para roubar, matar, corromper, mentir, enganar, traficar e viciar? Liberdade para ladrões, assassinos, corruptos e corruptores, para mentirosos, traficantes, viciados e hipócritas? Falam de uma “noite” que durou 21 anos, enquanto fecham os olhos para a baderna, a roubalheira e o desmando que, à luz do dia, já duram 26!
Fala-se muito em liberdade! Liberdade que se vê de dentro de casa, por detrás das grades de segurança, de dentro de carros blindados e dos vidros fumê! Mas, afinal, o que se vê? Vê-se tiroteios, incompetência, corrupção, quadrilhas e quadrilheiros, guerra de gangues e traficantes, Polícia Pacificadora, Exército nos morros, negociação com bandidos, violência e muita hipocrisia. Olhando mais adiante, enxergamos assaltos, estupros, pedófilos, professores desmoralizados, ameaçados e mortos, vemos “bullying”, conivência e mentiras, vemos crianças que matam, crianças drogadas, crianças famintas, crianças armadas, crianças arrastadas, crianças assassinadas.
Da janela dos apartamentos e nas telas das televisões vemos arrastões, bloqueios de ruas e estradas, terras invadidas, favelas atacadas, policiais bandidos e assaltos à mão armada. Vivemos em uma terra sem lei, assistimos a massacres, chacinas e sequestros. Uma terra em que a família não é valor, onde menores são explorados e violados por pais, parentes, amigos, patrícios e estrangeiros.
Mas, afinal, onde é que nós vivemos? Vivemos no país da impunidade, onde o crime compensa e o criminoso é conhecido, reconhecido, recompensado, indenizado e transformado em herói! Onde bandidos de todos os colarinhos fazem leis para si, organizam “mensalões” e vendem sentenças! Nesta terra, a propriedade alheia, a qualquer hora e em qualquer lugar, é tomada de seus donos, os bancos são assaltados e os caixas explodidos. É aqui, na terra da “liberdade”, que encontramos a “cracolândia” e a “robauto”, “dominadas” e vigiadas pela polícia!
Vivemos no país da censura velada, do “micro-ondas”, dos toques de recolher, da lei do silêncio e da convivência pacífica do contraventor com o homem da lei. País onde bandidos comandam o crime e a vida de dentro das prisões, onde fazendas são invadidas, lavouras destruídas e o gado dizimado, sem contar quando destroem pesquisas científicas de anos, irrecuperáveis!
Mas, afinal, de quem é a liberdade que se vê? Nossa, que somos prisioneiros do medo e reféns da impunidade ou da bandidagem organizada e institucionalizada que a controla? Afinal, aqueles da escuridão eram “anos de chumbo” ou anos de paz? E estes em que vivemos, são anos de liberdade ou de compensação do crime, do desmando e da desordem?
Quanta falsidade, quanta mentira, quanta canalhice ainda teremos que suportar, sentir e sofrer, até que a indignação nos traga de volta a vergonha, a autoestima e a própria dignidade? Quando será que nós, homens e mulheres de bem, traremos de volta a nossa liberdade?
Publicado em junho/2013