A faxina tem de ser ampla, geral e irrestrita. Depois do susto que os próprios fantasmas do povo sofreram, podem se recuperar e assombrar com força redobrada. Olho vivo!

Grande parte das pessoas que hoje protestam nas ruas era criança quando Lula foi eleito em 2003. Em 2002, ano da sua primeira eleição, votei nele (deixo claro que só cometo tal tipo de erro uma vez). Em 1/1/2003 — lembra-me até a marca da TV de 20 polegadas — verti uma lágrima quando ele disse duas coisas no discurso triunfal de posse, com a voz embargada; se não literal, mais ou menos assim: “nunca tirei diploma, agora tenho o de presidente do meu país”; “nós não temos o direito de errar.” Referia-se a ele próprio e à companheirada do PT).
Meu Santo Padim Padi Cisso Romão Batista. Como ele errou. Como esse PT errou, erra e errará. Como traíram toda uma nação, todo um povo que acreditava em mudanças profundas! Nada, meus jovens, nadica de nada mudou. Aliás, vocês protestam justamente por isso. Vocês protestam porque a única bandeira dessa turma é a bolsa família e algumas outras benesses — as migalhas que sobram dos palácios suntuosos — que já não podem mais calar ninguém.
Não. Não estou esquecendo que essas suas manifestações de agora são apartidárias, que não protestam contra agremiações políticas ou ideologias específicas. Aliás, embora eu tenha certos princípios que se encaixam em determinado viés filosófico, não me sinto representado pelos partidos que temos (aqui, um texto que fiz sobre isso). Mas me sinto à vontade para falar desse (des)governo porque fui um dos que contribuíram para alçá-lo à vez primeira, como creio ter sido um dos primeiros a me arrepender, pelos motivos que escrevi à mancheia, como por exemplo já em fins de 2003 (aqui). Vai um trechinho: “o Fome Zero, aliás, expõe uma brutal face contraditória. Um governo que disponibiliza recursos insignificantes para a Educação, diante das enormes necessidades (fato criticado pelo próprio Ministro da Educação Cristóvão Buarque) e corta verbas para a Saúde, não pode estar falando sério em dar R$ 75 para o pobre comprar comida.”
Este, de 2005, trato da incoerência do partidão, e este, de abril deste ano, seu título até parece profetizar as manifestações de agora: “estão destruindo o Brasil. A geração futura vai penar terrivelmente para pagar a conta da farra de hoje.”
Ah, José Henrique, Lula nem é o presidente…
Engano. Assim como a jabuticaba, que só existe no Brasil, somos o único país que tem um ex-presidente como primeiro-ministro, com aspas, que na maioria dos regimes parlamentaristas, sem aspas, é quem realmente manda. Engano ainda pior: as manifestações de agora beneficiam Lula, que o PT está doidinho para lançar sua candidatura ano que vem. Acho até que a maioria do partido, se não está estimulando as manifestações, deve estar torcendo para que os protestos inviabilizem a candidatura de Dilma à reeleição, para então lançarem com toda a pompa e circunstância o “deus” do povo brasileiro: Lula. Aí, meu jovem, você poderá ser (des)governado mais oito anos diretamente por ele, e mais oito por algum outro poste que ele enfiar novamente goela abaixo do povo. Fazendo as contas, você, que estará ao fim de mais uma triste aventura, já quarentão, contemplará seus filhos, e até netos, com aquela cara de bunda, pensando nas manifestações de agora que não deram em nada.
— Mó derrota, pai (ou vô) dirão eles, ou alguma variante dessa expressão que estiver na moda no ano da graça de Nosso Senhor de 2032, se você não definir claramente o que quer para o seu país daqui em diante.
Publicado em junho/2013