Aqui eu guardo meus escritos.

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Sou liberal, progressista, esquerdista, centrista, direitista, tradicionalista, conservador, com muito orgulho, com muito amor…

 

Um leitor me acusa de ser reacionário, conservador; de que sou uma espécie de carpideira da ditadura dos generais; de que sou um imperialista que derramou lágrimas de sangue pelo recente falecimento de Mrs. Tatcher — a Dama de Ferro; de que não vejo a hora de Fidel se encontrar com o Tinhoso, e tive orgasmos múltiplos quando Chávez o fez; de que sou um preclaro direitista, antiliberal, e acusações outras.

Tolinho! Eu não passo de um pobre-coitado carente de ideologia (queria uma pra viver). Como estou me referindo a ideologia política, e como quem as tecem são os líderes políticos, querem ver como é difícil achar uma para encostar o esqueleto carcomido pelo tempo? Por exemplo: algum bom-jesuense pode apontar um político contemporâneo da terrinha, unzinho só e dizer: aí está um exemplo de idealista? Um homem ou uma mulher nos quais se pode observar princípios claros, valores transparentes? Que sacrifiquem uma eleição se tiverem de ganhá-la com acordos espúrios, incompatíveis com seus conceitos e referenciais de vida?

Se o político A é inimigo figadal de B (inclusive no aspecto doutrinário), mas se a união de ambos for interessante personalisticamente para os dois, alguém duvida de que se unirão? Não aposto uma mariola mordida! Aliás, vejam as últimas eleições por estas bandas. Em nível nacional, Fernando Collor, quando em campanha em 1989, dizia ser a primeira coisa a fazer ao conquistar a Presidência era mandar prender o antecessor, José Sarney. Vejam na foto que cena comovente do “prendedor”, à esquerda, e do “prendido”, hoje.

Pelo bem da nação, um não prendeu o outro
Se alguém tivesse sido conservado em criogenia logo após ter ouvido a ameaça do antigo “caçador de marajás”, de que não só iria prender Sarney, como também raspar seu indefectível bigode, e esse alguém entrasse na contemporaneidade depois de ser descongelado, poderia até pensar que a vestal Collor, na foto, estivesse confabulando com o facínora arrependido, depois que este purgou, pela lei dos homens, todos os seus pecados. Voltaria instantaneamente para o gelo químico logo que conhecesse a realidade!E tantos outros casos, que quem quiser pesquisar na Internet encontra à mancheia, como a do próprio Lula, que vivia “combatendo as elites” e os “imperialistas”, mas se encantou com um daqueles “bichos” que mais combatia. O multimilionário legítimo exemplar da elite, o ianque empedernido, fã de carteirinha do verde-oliva e dos coturnos, Paulo Maluf, procurado pela Interpol em 186 países onde será preso se desembarcar nalgum deles, virou amigo do ex-presidente, assim, tipo unha e carne, vejam a foto.

Pois é. O tal do pragmatismo foi comendo, de forma voraz e inclemente, tal como aquele joguinho Pacman, os fundamentos filosóficos da política. Acaso temos direita aqui no Brasil? Esquerda? Centro? Não há nada disso, gente, apenas interesses muitíssimo bem orquestrados. Agremiações políticas de há muito perderam a aura romântica de serem representativas de uma causa. Nesse estado de vazio ideológico, as críticas e (vá lá) os elogios são direcionados aos agentes, e não ao que inexiste, é óbvio.

Apegado aos rótulos, às nomenclaturas remanescentes apenas como referências, quem me acusa de estar ao lado direito de Deus Pai (acredite, leitor, os comunistas de hoje comem hóstias e fazem o Sinal da Cruz três vezes ao dia) considera-se certamente um esquerdista. Não é não, sinto dizer que você também não tem uma ideologia pra chamar de sua. Você, amigo, embora bem-intencionado, é apenas mais um figurante, como eu, da tragicomédia brasileira.

E vamos combinar: eu sou o início, o fim e o meio, como cantava Raul.

Publicado em setembro/2013