Oh!, cupido, vê se deixa em paz

Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor./ Finge tão completamente,/ que chega a fingir que é dor,/
a dor que deveras sente/. Eu costumo fazer alguns arranjos de palavras rimadas. Produção caseira, para subsistência; uns bons, outros maus, manda dizer a autocrítica. Mas daí a me considerar um poeta, na plena acepção da palavra, a distância é grande. Mesmo assim também tenho cá meus fingimentos. E quem não os tem?
Lá pelos 30 fiz um soneto intitulado Achar-te-ei, lamento condoreiro sobre a busca utópica do amor. Publicado na Revista Status muitos anos depois, uma leitora gostou tanto que enviou um e-mail me incentivando a continuar a busca (do amor), sem atentar que eventualmente, ao menos, a fantasia pode se dissociar da realidade, mormente nas produções literárias. Não consta que Vladimir Nabokov, por exemplo, gostava de meninas de 12 anos, tal como o seu personagem Humbert Humbert magistralmente concebido no best-seller Lolita.
O porquê destes considerandos é a propósito de cupido, também conhecido como Amor. Era o deus equivalente em Roma ao deus grego Eros. Filho de Vênus e de Marte, (o deus da guerra), andava sempre com seu arco, pronto para disparar sobre o coração de homens e deuses. Teve um romance famoso com a princesa Psiquê, a deusa da alma.
O chargista Nani imaginou como seria cupido na Terceira Idade, banguela e já meio cegueta, sem pontaria. A flecha que deveria cravar no coração da moça, despertando nela o amor pelo “reclamante” atinge tudo ao redor, menos o alvo fundamental. E minha doce leitora me imagina serelepe aos 59 anos, aos berros quiméricos reclamando a falta de pontaria de cupido!
Não carece reclamar, solidária leitora. Meu cupido não pode mais flechar ninguém simplesmente porque já o mandei estudar a geologia dos campos-santos, he, he, he.
Publicado em outubro/2013