Athos Fernandes

Em 13/7/1979 falecia Athos Fernandes Monteiro, aos 59 anos. Na foto, a partir da esquerda, Eli Machado, Francisco Barroso, Luiz Teixeira de Oliveira, Athos Fernandes e Astolfo Fassbender. Bom Jesus perdia um filho adotivo (nascera em Itaperuna- J), mas que se revelou, através do amor e dedicação pela cidade, mais legítimo que o mais legítimo bom-jesuense.
Poeta consagrado além-fronteiras, escritor de escol, jornalista diletante, possuía aquele delírio criador que lhe incendiava a imaginação. Possuidor de invejável capacidade de se expressar pelas palavras, Athos foi um mestre na arte de bem escrever. A propósito, peço licença ao também grande jornalista Edison Chaves, e me permito transcrever, na íntegra, seu emocionante depoimento a respeito de Athos, publicado em “A Voz do Povo” em 1976, intitulado ´O invejável Athos Fernandes´:
“Invejável é a posição de quem consegue ser, a um só tempo, grande poeta e excelente escritor. Somente quem escreve pode avaliar, perfeitamente, as dificuldades que se oferecem à transmissão da mensagem, ou, como se diz, para se dar o recado. Nem sempre as palavras condizem com o pensamento. Há entrechoques do querer e do poder. Há limitações gramaticais ou terminológicas. Não é fácil!
Há muito venho acompanhando a participação constante do Athos em nossa imprensa. A cada dia que passa, maior é a admiração que tenho pela pena extraordinária desse incrível jornalista do interior que, sem receio, posso afirmar se sobrepõe a muitos editorialistas da imprensa das metrópoles. Palavra fácil e erudita, inspiração incomum, são ingredientes que não faltam aos seus artigos e poemas.
Ao ler o seu editorial ´As Antinomias da Arte´ senti- me terrivelmente pequeno para estar no mesmo jornal que ele. É uma covardia! Encontrei, sinceramente, a par da clareza, do recado bem dado, do tema bem colocado para os nossos dias, encontrei, repito, e assinalei dez palavras cujos significados não conhecia, algumas totalmente inéditas para mim. Imagino quanta leitura, quanto tempo de autodidatismo deve ter o nosso amigo Athos. A facilidade para redigir, que a gente percebe num simples bate-papo, deve ter-lhe custado muita dedicação, muito amor à arte jornalística. Não fosse a voz rouca, teríamos nele, também, um primoroso orador. Mas já seria demais!
O que mais admiro, no entanto, em Athos Fernandes, é a sua simplicidade pessoal. Na rua, no trabalho, na mesa de botequim, ele é sempre o mesmo: sóbrio, educado, humilde. A acolhida que me deu, aqui ao seu lado, com o meu vocabulariozinho do dia a dia, sem maiores pretensões, aumentou o respeito e a estima que lhe dedico. Daí, a razão destas palavras.”
Retorno
Há que se acrescentar que Athos praticava um jornalismo agressivo e destemido em todas as situações e circunstâncias que contrariavam suas convicções políticas e sociais nos quase 30 anos que trabalhou em “A Voz do Povo”. As críticas mordazes, os textos audaciosos, sempre causavam polêmica e atingiam em cheio o objetivo: defender intransigentemente os interesses coletivos.
PS – Athos tinha um grande defeito, era vascaíno. Mas ninguém é perfeito!
Publicado em outubro/1997