Sou cronista, pedreiro e pintor. Sempre, sempre, amador

— Paulinho, traz a sexta-feira 13.
— Aqui está.
— Agora pegue a dama e vá dançar um pouco naquele piso.
Achei tão engraçado este diálogo entre um pedreiro e seu ajudante que passei a prestar mais atenção no linguajar desses trabalhadores. Fui me tornando mais íntimo de sua terminologia e de suas agruras a partir do momento em que passei a pôr literalmente as mãos na massa quando da necessidade de fazer os reparos e as manutenções do meu lar doce lar. Explico: sendo de boa monta as referidas necessidades e inversamente proporcionais ao tamanho das minhas finanças, resolvi assimilar um pouco a lida com areia e cimento, com argamassa e revestimento, com prumo e enquadramento, para não fugir à rima. Minha casa, por meus próprios braços e mãos está se livrando paulatinamente da velha pecha de pobre e relaxada. Diria ela, enfatuada: “pobre, mas digna.”
Nesta altura o leitor e a leitora devem estar se perguntando: e eu com isso? Calma. Em troca de sua admiração ao meu talento multifacetado serei um adminículo (que contribui para) à sua cultura. Muita modéstia, liga não. Para começar, você sabe o que é embolsar uma parede? Errou. Introduzir uma parede no bolso só o King Kong talvez conseguisse se usasse roupas. Se alguém embolsar a sua, e ainda assim você pagar por isso, problema seu. Comigo a pessoa teria de realizar um desembolso se quisesse a minha parede. Se ele fosse emboçá-la, porém, eu quem o embolsaria. Sim. O que fazemos é emboçar, sem o L contido em ´polca´, um tipo de dança, mas que muitos entendem equivocadamente ser a fêmea do parafuso. Os que faço são emboços curvilíneos, ondulados, toques originados da inabilidade que pretendo o digníssimo admirador entender como um estilo neo-alguma-coisa, algo entre o barroco e o moderno.
Curiosidade: a palavra “pedreiro” é derivada do latim “petrarium”, relacionado a pedras, aprendo na Internet. A pessoa que levantava paredes com pedras ou outro material era conhecido também como alvanel, ou alvenel, em algumas culturas da antiguidade. Daí a tal alvenaria. E quem estranhar tamanho contraste entre escrever umas mal-traçadas e entijolar, lembro que Agenor de Oliveira foi servente de pedreiro. A pequena, ínfima diferença é que ele começou servente e terminou Cartola, o gênio da música que produziu o hino “As rosas não falam”.
Fichinha, comparado a mim, eh, eh, eh.
P.S. Sexta-feira 13 é marreta, daquelas de uns 10 kg, que aconselho a você não se interessar por ela. E se gosta de dançar agarradinho ou agarradinha sugiro enfaticamente procurar uma dama de carne e osso. A dos pedreiros costuma ser um pedaço de madeira como tocos gorduchos de grandes árvores com dois braços, digo, dois cabos pregados que serve para compactar o solo para receber o contrapiso. Dependendo do tempo da dança os braços humanos, digo, os cabos colados ao corpo costumam terminar pesando mais que a dama.
Publicado em janeiro/2011