O que você fez hoje em favor de sua cidade e contra os maus políticos, além de reclamar?

Os problemas que atormentam as populações das cidades brasileiras poderiam ser menores não fosse a maneira tímida dessas populações fazer valer seus direitos. Em outros países cujo povo é menos acomodado, mais exigente, os problemas tendem a ser resolvidos com rapidez, as coisas andam mais céleres porque as populações as empurram com ações cidadãs que transcendem os meros queixumes conformistas. Aqui, os políticos se adaptaram aos reclamos sem o devido complemento da cobrança implacável, sistemática. Criticamo-los mas eles pouco se lixam porque sabem que amanhã esquecemos. Para boa parte deles, a péssima Saúde, a degradada Educação, as cidades mal-conservadas, com ruas sujas e esburacadas não os atingem. A carência do povo é o seu fausto, as dificuldades, suas facilidades, os impostos, suas mordomias, e por mais incrível que pareça, tudo de ruim somado se transforma em votos porque vira promessas.
O que seria dos políticos não fossem as crônicas privações da sociedade, material inesgotável para suas propagandas mentirosas e demagogia barata? É como uma bola de neve: quanto mais demandas, mais promessas. Por que mudariam a mamata eleitoreira? Para que fornecer Educação de boa qualidade, se com ela viria o esclarecimento, e, com este, melhor preparo intelectual em benefício da percepção de suas falácias, de seus engodos? Por que razão as pessoas seriam bem atendidas em Saúde, para mais adiante comprometerem as promessas milagrosas de hospitais e centros de excelência semelhantes aos melhores do mundo? Para que teriam casas decentes, atendimento social adequado, segurança, esportes, lazer?
Tomemos como exemplo as cidades aqui da região. Entram gestores, saem gestores, e o cenário pouco muda. Nada sobre nada vezes nada difere. Quando se contempla um benefício, por mais esfuziante que seja, ele chegou anos-luz do ponto zero das necessidades, sempre defasado. Criatividade, audácia, arrojo são coisas que não se vê por aqui. Tudo é tão monótono, tão enfadonho, tão igual. Parece que a microrregião foi excluída do processo da evolução natural das espécies políticas.
Por outro lado, os políticos são seres integrantes de uma coletividade. E como tal não é justo que se debite todos os infortúnios exclusivamente a eles. Eles não são nós? Não foram gerados pelo gigantesco ventre metafórico da sociedade? Não podemos lamentar se esse ou aquele, essa ou aquela esteja centrado/a nos seus próprios interesses, nas benesses que o poder outorga a si e aos seus. Seria diferente se fôssemos nós os beneficiados pelas urnas?, cabe a pergunta desconcertante.
É necessária mudança de postura. Dentro dos limites da Lei tem de haver barulho, protestos, atitudes em defesa da cidadania. Um posto de saúde abandonado mesmo antes de ser utilizado? Protestem-se ruidosamente, batam-se latas e soprem-se apitos até que um construtor apareça no local. Um mau atendimento? Retumbem-se coletivamente a indignação. Um buraco na rua? Coloquem-se nele placa de comemoração de aniversário, um rabo de papel simbólico nos traseiros dos responsáveis; uma promessa não cumprida? Encham a paciência com a palavra de ordem mentiroso/a. Um remédio básico que falta? protestem-se veementemente nas proximidades dos locais de distribuição, ou melhor, de não-distribuição. E assim por diante.
Publicado em maio/2018