Bonjesino e a faculdade

Bonezinho acredita que agora vai! Repudia a hipótese da implantação de uma faculdade em Bom Jesus continuar a ser falsa promessa de campanha, uma ladainha ridícula que já não desperta credulidade alguma. Lastreia sua convicção evocando o princípio de modernidade e ação empreendedora alardeadas por seus políticos, através das quais desenharam o caminho do poder. O raciocínio até que é racional e lógico:
— Vê só, chefia, dá pra continuar suportando a humilhação de ainda enviarmos ônibus e mais ônibus abarrotados com os nossos jovens em direção a outros municípios na busca de um ensino superior?
— Tem jeito não, Bonjesino. Uma incoerência da gota serena, nosso lugar tão pródigo em gerar intelectos privilegiados ainda não possuir uma mísera faculdade.
— Não comece a criticar, chefia. Tenho certeza de que as autoridades competentes, sensíveis e convergentes a essa necessidade estão efetuando gestões junto ao Ministério da Educação.
— Ô, se tão.
— Tão sim. Tomam as devidas providências para formar nossos estudantes aqui mesmo, o que disponibilizará oportunidades para mais pessoas e consequentemente melhorar o padrão cultural, que por sua vez vai balizar demais melhorias.
— Uau, Bonjesino! Onde diabos aprendeu a falar bonito assim, homessa?
O colosso esboçou um gestual de alguém emocionado e disse:
— Naquele comício, chefia. O candidato a prefeito falou tão bonito que cheguei a chorar…
— De emoção?
— Claro. Nunca vi ninguém tão preocupado com nossos estudantes, com nossas cidades, com nosso futuro. Gravei o discurso e até decorei as palavras…
Publicado em fevereiro/1999