Amigos, eu vi

A nostalgia me leva a traçar um paralelo entre a vida contemplativa de antanho e a de hoje. Sou bom-jesuense de quatro costados; nasci, cresci e contribuí para a perpetuação da minha espécie neste querido Vale. Na época da minha juventude — décadas de 1970/1980 — meus patrícios eram mais alegres e descontraídos, mais humanos e solidários. Bom Jesus eram calmas, sem atropelos. Suas festas, de características próprias, eram sempre um marco em toda região. A tradicional Festa de Agosto atravessava fronteiras. Eram épocas memoráveis, onde aflorava o sentimento regionalístico dos que aqui tinham raízes e a admiração despeitada dos forasteiros.
Quem, da minha geração, não se alegrava com os filmes em cartaz no Cine Monte Líbano? Que não se recorda com saudades dos memoráveis jogos de futebol proporcionados pelos legendários clubes Olympico F.C. e Ordem e Progresso? Lembram-se quando jogavam ente si? As duas cidades se coloriam de branco, vermelho, verde e amarelo numa alegria contagiante! Bons momentos em que nadavam-se despreocupadamente nas águas ainda adequadas do velho e inseparável amigo Itabapoana. Aos aficionados da pesca, peixes em abundância. Épocas de gloriosos carnavais de rua com seus blocos irreverentes constituídos de foliões criativos na confecção de suas fantasias, a alegria serena nos salões, onde diversão não era ainda sinônimo de arruaças.
Amigos, eu vi. Quantas noitadas inesquecíveis proporcionadas pelo Aero Clube, que no mínimo uma vez por mês nos presenteava com seus bailes de gala sempre de muito bom-gosto. E as serestas, na verdadeira acepção do termo, que nos faziam viajar pelas músicas de boa qualidade? Não há que se criticar o inexorável crescimento populacional, a mudança de costumes que ocasionam a mudança de tradições, pois a vida é dinâmica e cada geração tem sua própria e diferente prateleira de nostalgia. Por isso não vai aqui nenhuma crítica; apenas e tão-somente a evocação da minha prateleira para o exercício do “recordar é viver”.
Publicado em agosto/1997