Aqui eu guardo meus escritos.

Obrigado pela visita.

Algumas dessas vadias são vadias porque a alma é vadia, os cérebros, vadios, o nível moral e intelectual, vadio; não são vadias por uma causa, a causa é que são vadias

 

Enquanto muitas vadias “chulavam” suas genitálias e “genitaliavam” as chulices, eu entendia o conjunto das tristes imagens que via como uma apoplexia de instintos degradantes causada pela vadiagem mental que, incapaz de coligir três neurônios solitários só encontrou essa forma deprimente, escatológica de saciar a vontade irresistível de desfrutar seus 15 minutos de fama. Desde os idos de 1976, uma cena que nunca me saiu da cabeça foi a da menininha Reagan — interpretada por Linda Blair no filme “O Exorcista”, do diretor William Friedkin — socar com violência um crucifixo na vagina, simulando relação sexual com o próprio Cristo, que a desvirgina.

Já disse de minha orientação religiosa agnóstica, sublinhando, entretanto, respeito e admiração pelas religiões e pelos religiosos em razão de constituírem referenciais éticos a balizarem a vida em sociedade. Por isso entendo que o respeito à profissão de fé de cada um, a seus símbolos religiosos, a suas entidades etéreas, à ritualística na operacionalidade de seus credos, é sagrado. Algumas cenas dessa “Marcha das Vadias” conseguiram causar a estes olhos que já viram muita coisa imenso desconforto visual, ao mesmo tempo em que me despertaram também o mesmo tédio de um entomologista ao contemplar uma borboleta ridiculamente comum.

O padrão estético formado por peitos nus e orifícios expostos à visitação pública foi algo deprimente de se ver, conquanto tedioso, melancólico. Mas até aí, cada qual se expõe da maneira que é capaz e do que dita sua criatividade e noção de civilidade. Contudo, a ninguém é dada a prerrogativa de infringir as leis. O direito de criticar os dogmas religiosos é um exercício da liberdade de expressão e de opinião devidamente assegurada pela Carta Magna, desde que feito sem desrespeito ou ódio. Mas a intolerância religiosa com atitudes ofensivas a crenças e práticas é crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade humanas.

Como, por exemplo, a destruição acintosa de imagens sacralizadas, de objetos simbólicos da fé. Uma manifestante chegou a pegar um pedaço do que sobrava de uma cruz, vestiu-lhe uma camisinha e o introduziu no ânus de seu parceiro de vadiagem. Outra, que se escondia covardemente com um capuz, colocou a cabeça de uma santa na entrada da vagina, transformando a imagem sagrada num gigantesco dildo!

Acho as marchas válidas e até necessárias contra a coisificação do corpo da mulher, contra o machismo, mas as performances citadas — pelo que li, isso não estava programado como parte do evento — me impressionaram mais que a cena do crucifixo no filme. Isso porque Reagan foi uma personagem da ficção, mas esses minoritários e tristes participantes da Marcha, que chocaram pela ousadia blasfema, são seres humanos reais, com as almas malsãs como a extirpada pelos padres Merrin e Karras em O Exorcista.

Há momentos em que sinto vergonha de ser moldado com a mesma matéria de certos semelhantes!

Publicado em mídia impressa em agosto/2013