As águas vão rolar…

O Carnaval, desde que foi introduzido no Brasil em 1641, sempre foi uma festa alegre e descontraída e que pouco a pouco fora consolidando identidade única até se transformar no maior evento cultural brasileiro. Principalmente nas grandes cidades, porém, a rígida organização dos festejos, em especial a dos desfiles das grandes escolas de samba empanaram a naturalidade com que se brinca o tríduo de momo. Valoriza-se exageradamente hoje o luxo desregrado, os equipamentos sofisticados. Tudo rigorosamente cronometrado, mecanizado, burocratizado demais para um evento cuja essência seria a natural expansividade humana.
Impregnada de artificialismos e de mastodônticos interesses comerciais, a festa momesca despersonalizou-se, tornou-se inacessível para o povão até porque a mentalidade higt-tech foi aos poucos descaracterizando os blocos e desmotivando os foliões de rua com sua antiga irreverência e criatividade. Salvo nos estados do Nordeste, com uma política inteligente de preservação da cultura nativa (frevos e maracatus a cada ano mais animados e vibrantes), o Carnaval no Brasil não é mais o mesmo.
De todo modo, trata-se ainda de uma oportunidade que as pessoas têm de esquecerem um pouco seus problemas e angústias nos três dias de folia, vivendo em fantasia, tanto no sentido literal como no figurado, seus anseios de liberdade e alegria. Brincando moderadamente, sem excessos, a festa é profundamente saudável a corpo e mente, porque é a catarse para as mazelas da vida e dos relacionamentos humanos conturbados.
…garrafa cheia eu não quero ver sobrar…
Autor: José Henrique Vaillant – Publicado em fevereiro/1998