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Assim enfraquece a amizade. Pintura da Passarela de Bom Jesus pela metade revela mentalidade curta, tosca

Construída e inaugurada em 6/5/2000 num esforço conjunto dos dois municípios de Bom Jesus (do ltabapoana/RJ e do Norte/ES), a Passarela da Amizade, que une os bairros Silvana, no lado capixaba, e o Lia Márcia, no fluminense, caminha para seu 8° aniversário amargurada pelo descaso que a vitimou. A estrutura mais parece uma pinguela tamanho família! Grades de proteção arrebentadas, gambiarras elétricas sujeitas às intempéries servindo para ninhos de pássaros, corrosão.

A insensibilidade das autoridades, que parecem não se preocupar sequer com a segurança dos passantes (que dirá com o visual melancólico, provinciano no pior sentido) intensifica a probabilidade do risco tanto de acidentes quanto de assaltos. Na única cabine, que fica no R.J., não há mais policiais; e não consta que haja inspeções periódicas para aferir a integridade estrutural. Há cerca de um ano a prefeitura de Bom Jesus do Norte realizou uma pintura, mas levando ao pé da letra a característica de obra conjunta: só meia passarela recebeu as demãos abençoadas, o que, para o aspecto geral, foi inútil como um cônego, segundo Almeida Garret. Ficou pra lá de esquisita aquela união com tão gritante “diferença de idade”.

O outro lado não fez a sua parte menos, talvez, para ridicularizar a valorosa passarela, e mais porque a tinta, presume-se, está com o preço pela hora da morte. Ou terá sido por outros motivos? Ninguém ignora que a reação mais negativa quando da construção veio do lado fluminense, especialmente de alguns residentes no bairro Lia Márcia que torceram os narizes com o maior fluxo de pessoas transitando em seu território. Mas vale acentuar que a ponte beneficia ambos os municípios e seus munícipes: um lado beneficia-se do encurtamento das distâncias; o outro, dos que trafegam. Perguntem aos comerciantes de Bom Jesus/RJ se gostaram da facilitação do acesso aos seus fregueses; perguntem aos trabalhadores capixabas que ganham a vida no lado fluminense se é bom economizar sola de sapato. Só não perguntem como vão os entendimentos entre os dois governos.

O silente protesto da passarela é mais eloquente do que as palavras. Ela diria, se pudesse: “fica combinado que de dois em dois anos os municípios se revezam na pintura, mas que sejam práticos. Deem as louváveis pinceladas em toda a minha extensão para não me deixarem com a cara limpa e o traseiro sujo, ou vice-versa; inspecionem de vez em quando minha estrutura, pois não quero me espatifar no leito do rio com gente a bordo; que o R.J. mande assentar a “fantástica quantidade” de uns 300 paralelepípedos no meu portal de entrada. Eu e os que me utilizam merecemos; que o E.S. instale uma cabine de polícia para revezar com o Estado fronteiriço; que se esmerem na minha limpeza e conservação; que coíbam alguns mal-educados que insistem em pilotar suas motos e guiar suas bicicletas em cima de mim, colocando em risco a integridade física dos outros; que atentem, enfim, para a minha aparência e pela dos demais próprios públicos, que muito revelam do sentimento que os povos e respectivos governantes nutrem por seus campos que, diz o Hino, têm mais flores.

Publicado em novembro/2007