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Caminhada sem volta

Joãozinho

Quando eu voltava da costumeira caminhada, em 05/03 passado, ao lado do meu amigo Joãozinho, fomos vítimas de um atropelamento — fatal para ele. Estar no cerne de uma tragédia, passar raspando e sentir o hálito gélido da morte, contemplar um amigo jovem, de quem há alguns segundos você ouviu suas últimas palavras, ali, estirado sem vida, com o olhar esbugalhado pelo assombro e perplexidade é motivo mais que suficiente para reavaliar os conceitos em relação à vida. Só aí você percebe mais exatamente a dimensão da fragilidade e insignificância em relação a tudo o que o cerca, desencadeando um fenômeno psíquico positivo, que é passar a valorizar mais e a aprimorar os sentimentos fraternos, ao mesmo tempo em que procura obliterar os menos nobres. Surpreende-se descobrindo novas e maiores nuances da natureza e desejando interagir de forma mais harmoniosa com ela. Enfim, dissipa-se o elemento que tolda sua sensibilidade e você fica mais humano.

Gostaria de dizer ainda aos adeptos do mais saudável dos exercícios físicos — a caminhada — que a pratiquem em local seguro. É incoerente que se arrisque a vida tentando justamente melhorar sua qualidade. Por fim, não me compete julgar os outros, nem estou aqui para isso, mas entendo que o mais correto quando se fere alguém é prestar o socorro de imediato, sem hesitação. Você pode salvar uma vida, atenua seu comprometimento com a lei, e o que é mais importante: fica em paz com a consciência.

Tudo o que o atropelador não fez!

Publicado em abril/1999