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Conselhos de notáveis

Haverá de existir um sistema político que funcionará através de Conselhos de Notáveis em níveis municipal, estadual e federal. Definirão-se os critérios de quantidade e da forma como isto funcionará, e o basilar do sistema será poucos componentes a comporem os conselhos, mas que sejam as mentes mais brilhantes e os caráteres mais íntegros. Não custa sonhar que o Brasil não mais terá prefeitos, vereadores, deputados, senadores, presidentes, congresso, jetons, imunidade, pilantragem, maracutaia, sinecura, falcatruas, nepotismo, malversação, grampos, sujeira, insegurança, hipocrisia, fome, seca, deseducação, etc.

É claro (e isso deve ser ressaltado com todas as letras) que existem os que fazem da atividade política sua profissão de fé num Brasil próspero, moderno e justo. Mas estes travam batalhas inglórias contra uma ordem estabelecida na qual são impotentes de lograr revertê-la. “Em Alagoas, a Assembléia Legislativa vai gastar R$ 160 mil para deixar os 27 deputados estaduais alagoanos bem-vestidos, perfumados e na moda. A presidente da casa, Ziane Costa (PMDB) autorizou o depósito de R$ 5,9 mil para compra de roupas e acessórios para cada um dos 27 deputados que não terão de prestar contas da verba. Além dos R$ 5,9 mil para as roupas, os parlamentares vão receber R$ 78 mil para o pagamento de assessores e custeio de gabinete. Cada parlamentar pode ter até 30 assessores. O custo total no primeiro mês de trabalho será de R$ 8,1 milhões”. (Jornal do Brasil, 4/3/99).

Em Pernambuco, “irresponsáveis políticos desviaram para seus próprios bolsos até as cestas básicas que o governo e o povo brasileiro mandaram para que os miseráveis não morram de fome. É a própria indústria da seca no seu mais chocante grau de perversidade. (…) Roubar, para eles, é um direito político que lhes foi conferido pelo próprio voto dos miseráveis roubados, é uma questão de cultura transmitida de pai para filho desde os invasores que levavam nosso ouro para seus países (…)”. O Globo, 28/12/98.

Em Jaboatão dos Guararapes-PE, “o prefeito do município deve ser o recordista do nepotismo. Empregou a mulher, os 10 filhos, 24 sobrinhos, 4 genros, 3 cunhados, 2 irmãos, 1 neto e mais outros 3 parentes, num total de 48”. O Globo, 15/12/98.

No congresso havia, no fim de 1998, 131 denúncias, inquéritos, queixas e ações penais contra parlamentares. Só se recorda da cassação de Sérgio Naya (parece que consideraram grave o crime de ter construído um prédio com material de última categoria e matado algumas pessoas, além de ter deixado centenas ao desabrigo). Um ou outro boi de piranha muito eventualmente também é sacrificado, mesmo assim se for pego em gravíssimo flagrante delito.

O corporativismo na casa é algo absurdo e até surreal. A desmoralização atinge tal ápice sob a chancela de um código penal primitivo e benevolente em suas filigranas jurídicas, que Hildebrando Pascoal assumiu sua cadeira no congresso com 101 inquéritos na Polícia Federal e acusado de ser o líder de um grupo de extermínio no Acre, com mais de 30 mortes imputadas. Talvane Albuquerque, seriíssimo suspeito de ser o mandante do assassinato da Deputada Ceci Cunha para ficar com sua vaga, também assumiu.

Figuras desse naipe também são os legítimos representantes dos interesses dos brasileiros e arquitetos do futuro da Nação.

O sonho dos conselhos não faz sentido?

Publicado em junho/1999

Promessa não é dívida

Chico Alencar, professor de História e deputado estadual/PT/RJ, em artigo no JB de 22/4/00, afirma: “Os processos sociais abortados e as revoluções interrompidas são fruto do esmero das classes dominantes brasileiras, ao longo desses cinco séculos, de impedir o acesso à informação crítica à imensa massa herdeira da população escrava. Política é escolha e informação. Sem informação, a política se reduz à cultura da delegação, que é você poder eleger do vereador ao presidente da República e achar que isso é democracia. Isso é apenas um elemento da representação política, mas se não vier junto com um acompanhamento crítico dos mandatos, é pura delegação, uma das principais marcas da política brasileira dos tempos atuais. Autoritarismo, paternalismo, machismo, patriarcalismo, coronelismo, populismo e individualismo são algumas das características da política praticada pelas elites brasileiras desde o tempo da Colônia”.

Ainda segundo o professor Chico Alencar, Darcy Ribeiro, um dos maiores brasilianistas de todos os tempos teria dito, em sua irreverência característica que “somos um país de desfeitos, afogados na ninguendade”. Em outras palavras, isso quer dizer que a grande massa ainda está longe de se livrar da manipulação política que prevalece no modelo brasileiro desde priscas eras, sendo que o esclarecimento adquirido, habilitado por maciça informação típica do século que se finda pouco tem revertido o quadro de vulnerabilidade ao convencimento fácil por parte dos políticos, muitas vezes, inacreditavelmente, em troca de pequenos favores e promessas que o próprio eleitor sabe de antemão que não poderão ser cumpridas.

Emprego público é talvez o favor que desperta mais cobiça e atração. Promessas de colocação estão no topo da hipocrisia, que são seguidas por doações de pequenos materiais e serviços. Encerradas as eleições, entretanto, a imensa maioria fica a chupar o dedo, aguardando eternamente seu sonhado emprego, fato que precipita um círculo vicioso que jamais tem fim: aquele que prometeu e que obviamente não pôde cumprir transfere a preferência do voto desse eleitor para os adversários e vice-versa.

Resumindo: o político de respeito nada oferece individualmente, mas obtém conquistas de interesse coletivo; o eleitor consciente, lúcido, nada pede para si somente, vota naquele em quem confia para depois cobrar-lhe benefícios que contemplem a todos.

Publicado em agosto/2000

Réquiem

Miguel Torga

Como é duro conviver e depender dos políticos. Entra ano, sai ano, as mazelas não se arrefecem, ao contrário, sempre se aquecem mais e mais. De eleição em eleição, passando ainda pela possibilidade da reeleição, roubam-nos as já tênues esperanças. Não adianta, é tudo a “lesma lerda”, como diz Carlito Maia, “vinhos da mesma pipa”. Lamentavelmente não há condições de citar alguns que fazem jus a figurar num rol mais digno que não o da ganância de poder ou de dinheiro. Quando algum se aproxima desta meta a máquina o expele.

As cenas se repetem como num velho filme visto e revisto várias vezes. Banqueiros sendo salvos da guilhotina, muito embora tenham cometido crimes financeiros atrozes; anões transformados em gigantes obesos continuando a pilhar a nação; a incrível dificuldade do governo em cobrar dos poderosos a conta pela demagogia intitulada “melhor distribuição da renda nacional” (quem paga realmente é a classe média); aumento substancial dos combustíveis (no período das festas, para ninguém botar sentido), que em algumas cidades chega a 50% para cobrir o rombo colossal da ineficiente, arcaica e obsoleta Petrobrás (que com muita propriedade Paulo Francis chama de Petrossauro), mastodonte que, a exemplo de outros, só serve como cabide de empregos excepcionalmente bem remunerados; parlamentares gastando todo o seu tempo para legislar em causa própria, deixando para um segundo ou terceiro plano a discussão das reformas vitais para o país. E por aí vai.

Pobre de um povo que se contenta com migalhas. Infeliz daquele que compra sua TV financiada em 36 meses, pagando 3, 4 vezes mais por ela e ainda voltando para casa sorridente para sintonizar sua novela predileta e planejando dar novamente seu voto para o mesmo entourage manter o status quo. Mal sabe que acabou de entrar na estatística do consumo, que ora serve para fazer propaganda do governo, ora como justificativa de consumo excessivo (aquele que é necessário cortar para não pôr o plano em risco).

O único alento é que Deus é brasileiro (imaginem se não fosse!), e enquanto Ele está sem tempo de dar uma mãozinha a seus compatriotas, contentemo-nos com o depoimento do poeta português Miguel Torga (1907/1995), depoimento este que deveria estar em toda alma sedenta de justiça e esperançosa de ganhar sua vida honestamente neste país pelo suor do seu trabalho.

“De seguro,
Posso apenas dizer que havia um muro,
E foi contra ele que arremeti,
A vida inteira.
Não, nunca o contornei,
Nunca tentei ultrapassá-lo de qualquer maneira.
A honra era lutar, sem esperança de vencer.
E lutei ferozmente, noite e dia,
Apesar de saber que quanto mais lutava mais perdia,
E mais funda sentia,
A dor de me perder.”

Publicado em janeiro/1997

Vagabundos e perversos; ou, FHC xinga aposentados, que podem não renovar seu contrato para o Palácio da Alvorada

Nosso presidente desta vez acertou na mosca. Que vagabundagem! S. Excia. foi tão enfático, tão coerente, sua exposição de motivos tão justa que já há quem tenha se convencido de que realmente não passa de um reles vagabundo, e acredita que ter sobrevivido quase meio século unicamente do seu suor, mais que contribuir para o desenvolvimento do país foi um exercício relaxante de prazer e luxúria que o arroz com feijão e taioba propicia. A crise de consciência dessas pessoas é grande, pois entenderam, após ouvir as imprecações presidenciais veementes, que ao invés de ficarem vagabundando por aí poderiam muito bem estar no mercado de trabalho que é farto e amplo, especialmente para quem já passou dos 40.

Não se conformam viver com as bocas em constante frenesi ao sugarem mensalmente as tetas da Previdência abocanhando R$ 130, uma fortuna. Que vergonha! Esses deserdados da dignidade, numa autocrítica por vagabundarem tanto, emocionam-se ao ver quem realmente trabalha e tira seu sustento de forma honrada. A começar por S. Excia., que há quatro ininterruptos anos dedica todo o seu tempo a pajear o Real chocando a reeleição, atividades tão desgastantes que não o permitem sequer um momento de folga, que ele poderia aproveitar para se dedicar a coisas menores como a seca do Nordeste, por exemplo, ou incrementar políticas consistentes de bem-estar para seus súditos e desenvolvimento para seu país.

E…coitado…, sempre ganhou tão pouco. Não admira que, num terrível conflito de consciência, tenha se aposentado aos 38 anos de idade e ainda necessita ralar tanto. Ainda bem que os aposentados, consternados, deram-se conta de que além de vagabundos são perversos, por terem dado emprego tão ingrato e indesejável a esse cidadão. Então devem rever esta decisão em 3 de outubro, data em que se encerra o contrato do nosso presidente, provavelmente não o renovando.

Publicado em junho/1998

Vote certo, vote você; ou, que os santos inspirem os eleitores

As fichas estão na mesa. De olho nas jogadas, o eleitor, esta santidade transitória no trono sagrado que costuma receber quadrienalmente muita atenção por cerca de dois meses, e depois fica esquecido, ignorado. Não é necessário ser santo de verdade, como os padroeiros Senhora Sant´Ana, de Apiacá, São Geraldo Majela, Bom Jesus do Norte, Senhor Bom Jesus, Bom Jesus do Itabapoana e São José, São José do Calçado, para perceber as jogadas mais ou menos autênticas, os blefes ou aquelas que objetivam o xeque-mate no atraso, na estagnação. Mas bem que aqueles poderiam dar uma mãozinha para mudar a cultura do eleitor, este santo de carne e osso tão ingênuo e despojado que se contenta com as migalhas de pão, fazendo-o perceber que a política varejista precisa acabar.

O imobilismo tem sido uma marca cruel! A inércia desses quatro municípios vem se constituindo uma questão crônica e vexatória! Ainda que seja justo atribuir culpa maior à conjuntura político/econômica nacional, e até internacional, não avançamos no mesmo ritmo de outros municípios semelhantes. A política populista tem brecado a planificação. Os investimentos a varejo, o assistencialismo desenfreado são opções pouco inteligentes porque não geram frutos em prazos maiores.

No lugar da cesta básica caritativa, certamente os meios que a garantiriam pelo próprio esforço seria melhor e mais plenamente satisfatórios. Que os santos inspirem os eleitores e sobretudo os eleitos. Que estimulem estes últimos a planejarem a médio e longo prazos, que lhes alarguem a visão para projetos perenemente proveitosos, que lhes ajudem a discernir que o benefício permanente é melhor que o favor imediato. E ainda, se não for pedir muito, que promovam a difícil equação de dobrar os personalismos, incutindo nos quatro eleitos a necessidade de mobilização, de integração, de se harmonizarem em prol de objetivos comuns.

A Educação deve ser a prioridade das prioridades. Nenhuma sociedade cresce ou se moderniza sem ela. Criminosamente negligenciada no Brasil porque educar significa politizar, e politizar significa inculcar a consciência dos direitos de cidadania, a Educação se torna uma ameaça ao status quo vigente, um mecanismo intimidatório ao viciado sistema político brasileiro que necessita desesperadamente da alienação e do desconhecimento para se eternizar. E nossa região não foge aos padrões: escolas feias, maltratadas, professores desmotivados, alunos que sequer recebem uniformes escolares, que dirá material didático em quantidade e qualidade ideais.

Se dentre os eleitos por aqui houver algum administrador sensível à causa, não contaminado com a insidiosa enfermidade da demagogia, ele deveria deixar a Educação aos cuidados do pessoal técnico, de gente do ramo, isolando-a e imunizando-a da política. Destinar os recursos previstos em lei, atribuir metas, exigir resultados seriam atitudes de um verdadeiro dignitário. Veremos se alguém se habilita .

Para o eleitor consciente, que procura exercer papel atuante no processo político de seu município, esta será mais uma chance de se manifestar visando erradicar a hipocrisia dos maus políticos, ajudando na construção de uma sociedade mais justa, mais perfeita. É preciso cobrar, cobrar e cobrar. Cobrar responsabilidade, cobrar criatividade, cobrar dinamismo e trabalho, cobrar honestidade e transparência, cobrar, enfim, os resultados que precisam advir do enorme sacrifício do povo.

Como dizia o filósofo inglês Edmund Burk, “o mal só prospera quando os homens de bem se calam”.

Publicado em setembro 2004

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