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Política em Bom Jesus do Norte não dá chance a uma terceira via

O modelo político de Bom Jesus do Norte é um pequeno retrato em 3 x 4 da barafunda que assola a questão em todo o Brasil, onde os políticos de forma geral perderam a noção de partidarismo e convicções ideológicas. Aqui, como em todo lugar, é um salve-se-quem-puder individual generalizado, com a luta pelo poder se desenvolvendo à margem de programas comuns partidários, até porque os partidos deixaram de existir há muito tempo como agremiações catalisadoras de ideais para se transformarem em meros e burocráticos intermediários entre as urnas e os cargos públicos.

Como em quase todos os pequenos municípios, a política daqui é polarizada em apenas dois grupos: Messias (leia-se Umberto Messias) x Baptista (Tadeu Baptista). Quem obtiver a anuência de ambos terá tido meio caminho andado para se eleger prefeito ou garantir uma cadeira na câmara municipal. Foi assim quando Umberto e Tadeu (eles próprios) se elegeram ou catapultaram irmão e esposa, respectivamente, à vitória. Essa ordem estabelecida impede a ascensão de novas lideranças com independência de ação, impedindo a ampliação do leque de proposições que poderia descortinar novos horizontes para Bom Jesus e dar um molho mais picante nas disputas.

Alternativas para mudanças estruturais que revertam esse quadro há, assim como material humano de boa qualidade para implementá-lo. No entanto, os que têm essa possibilidade ainda não perceberam a necessidade de uma mudança conceitual no modo como deveriam encarar a empreitada, unindo-se para formatar uma terceira via com um programa correto, consistente e verossímil, aliado a uma fidelidade de princípios partidários sérios e duradouros. Em vez disso procuram a forma mais fácil — e menos meritória — gravitando na órbita dos dois astros-rei.

As eleições do próximo ano, dado o atual conjunto circunstancial, parecem favoráveis à situação. Não bastasse, ao que tudo indica, ter sido aprovada como administradora, Daisy Batista tem ainda a favor a condição de mulher como contraponto à atmosfera pesada que sempre prevaleceu no Clube do Bolinha”, e parece que Messias não projeta grandes apostas em ninguém. Talvez forçado a manter uma postura de neutralidade por exercer o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (seria difícil demonstrar imparcialidade na apreciação das contas de um escolhido), o certo é que ele tem se mantido muito à parte, numa discrição quase franciscana.

Como a política é institucionalmente dinâmica (no Brasil, aliás, exageradamente), e ainda não esquentou para valer, tudo é possível. Nada, porém, que não passe necessariamente em primeira instância pelo crivo de Tadeu e Messias. Quem quiser se habilitar a caminhar independente em 2004, que comece a pavimentar o seu caminho desde já. O maior pecado em qualquer atividade é a falta de planejamento, a improvisação ao sabor das circunstâncias. Ganhar por um projeto bem elaborado que acene com novas propostas, detonando o marasmo, é mais prazeroso para o eleito e costuma fornecer uma melhor contrapartida para a sociedade.

Publicado em setembro/1999

Adeus às ilusões?

Até que se prove o contrário, o presidente Lula é um homem direito, que pode estar com as mãos limpas em todos esses episódios que envergonham o Brasil e os brasileiros. Mãos limpas, porém, são uma coisa; irresponsabilidade, outra. Esta parece que não lhe será fácil excluir da biografia.

O presidente se meteu numa encruzilhada difícil, na circunstância de, se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come. Se ele realmente sabia das maracutaias e não tomou nenhuma providência além de estancar a sangria de dinheiro público usado para a mesada dos deputados, cometeu crime de responsabilidade. Afinal, a autoridade máxima do país teria de ser a primeira a abrir as portas das grades para os ladrões.

Se não sabia, fica caracterizado que na realidade ele não governa, por inaptidão ou desleixo, deixando o encargo para gente periculosa. A traição dessa gente não o absolve perante o povo, que investiu suas últimas esperanças não em Jefferson, Dirceu, Delúbio, mas em Luis Inácio Lula da Silva.

Estamos vivenciando no Brasil hoje o paroxismo da hipocrisia. Quem acredita em duendes tem a percepção de que vereadores, prefeitos, congressistas, estão de fato trabalhando em favor do país e do seu povo.  Claro que não se pode generalizar, existem as exceções, mas parece ofuscantemente claro que estas são as minorias que, por mais eloquentemente indignadas, ficam com as vozes abafadas pela algaravia do submundo e dos porões infectos da bandalheira. E o presidente Lula, que não tem nada de ingênuo, precisa explicar o porquê submerge sob as águas do pântano coalhado de sáurios gigantescos e lagartos venenosos, inteiramente desarmado.

E mais ainda: sobre o porquê não ter movido uma palha para as mudanças acenadas, que na parolagem presidencial mudariam esse estado de coisas. Ainda que desgastada — e de gosto duvidoso — a figura de retórica “a esperança venceu o medo” precisa ser lembrada para configurar o tamanho gigantesco da traição ao povo, que vai se delineando de forma brutal, estarrecedora! É angustiante pensar que os coturnos possam estar sendo carinhosamente lustrados e os generais, almirantes e brigadeiros vivendo o frenesi da nem tão remota possibilidade de retorno ao cenário, legitimados pela pergunta que não quer calar: quem vai investigar quem?

Publicado em junho/2005

Carta aberta ao governador do Espírito Santo

Senhor governador Paulo Hartung

Vidas serão sacrificadas por negligência do Estado. A rodovia ES 297, que liga Bom Jesus do Norte ao trevo com a BR 101 ameaça se transformar em rodovia da morte por culpa do DER, que a abandonou à própria sorte. Verdadeiras crateras na pista, em especial no trecho a partir de Ponte do Itabapoana (distrito de Mimoso do Sul), por milagre ainda não redundaram em tragédia. Os usuários que trafegam naquela via certamente fariam este apelo, rogariam de V.Exa. providências imediatas antes que vidas inocentes sejam ceifadas.

E o senhor, mais que meramente por uma questão administrativa, mas sobretudo por um desagravo preventivo da própria consciência haverá de tomar as medidas necessárias e contrariar a percepção de que as autoridades só as tomam depois que o sinistro ocorre. As armadilhas oriundas do crime de omissão, senhor governador, são compostas de descaso e irresponsabilidade. Ainda que o poder público estadual esteja engessado por crises políticas, econômicas e policialescas que parecem não ter fim, nada justifica tamanho desleixo e pouco caso com a vida humana. O pouco tempo que o senhor está à frente do Executivo tampouco vale como desculpa, até porque os buracos têm a mesma idade e não podem ser contabilizados juntos à pilha de mazelas herdadas, senão nas novas mazelas que espera-se não se perpetuem.

Seu antecessor, acusado de ter deixado buracos astronômicos nas finanças do Estado, ao menos tapava os das estradas (pelo menos desta específica), presume-se que para legar algo de útil. O senhor e muitos de seus assessores talvez não tenham a real percepção do perigo porque se utilizam quase sempre de veículos aéreos, além do que nossa região, muito embora seja a mais carente, historicamente pouco recebe visitas ilustres, exceto nas épocas de campanhas eleitorais. Mas se o senhor por acaso vier a trafegar por aquela rodovia, ficará estarrecido com a precariedade das condições e, aceite o conselho, decuplique a atenção.

Como subsídios à sua prestimosa equipe do setor responsável (perdoe a ironia), no km 3 há um buraco de quase 10 metros de comprimento com mais de 10 de profundidade, que invadiu metade da pista; no km 13 há outro, impávido, bem no centro da rodovia, aguardando pequeníssima desatenção dos motoristas; No km 15, para variar, fortalecer o risco e elevar à milésima potência a adrenalina dos que aos poucos vão adquirindo experiência para esportes radicais, há um bem em cima da ponte sobre o rio Muqui. Todos esses buracos-mãe orgulham-se de seus filhotes robustos e netinhos perversos, traiçoeiramente acomodados ao longo de toda a rodovia e que fazem a alegria dos mecânicos de automóveis.

Desculpe-me a contundência, governador. É que pelo que depreendi dos seus discursos de campanha, julgava que esta missiva nunca fosse necessária.

Publicado em maio/2003

Decepção

O balanço do primeiro ano do governo petista do presidente Lula, se não chega a ser decepcionante, traz inquietações e muitas dúvidas sobre sua capacidade de gerir o Brasil consoante as enormes expectativas, sonhos e esperanças do povo brasileiro. Um governo que prometia mudanças estruturais sem precedentes, que prometia transformar a doutrina de espoliação e injustiças, tão enfático na disposição de combater a torpe ordem estabelecida da exploração e do sofrimento, não fez nada que trouxesse o menor indício de que haverá realmente mudanças. A Educação, a Saúde, a Segurança Pública e outros setores continuam no mesmo patamar do descaso e da incompetência.

Recebido invariavelmente com pompa e circunstâncias nos quatro cantos do mundo (o presidente que tanto combatia as viagens de seu antecessor FHC, viajou este ano mais do que aquele no primeiro ano de mandato), este prestígio entre aspas começa a inquietar porque não é difícil perceber que os aplausos são condicionantes da mesmíssima ideologia de arrocho e de angústia para o povo brasileiro, mas equivalentes à devoção dos vorazes glutões especuladores internacionais. A única coisa que está dando certo neste “governo da mudança” é exatamente o que nada mudou: a gestão da política econômica e financeira.

Os elogios às escâncaras de Fernando Henrique Cardoso e Armínio Fraga a Lula são a prova cabal de que o país continua trilhando a mesma cartilha que o ex-metalúrgico tanto combatia. O eleitor, que já percebeu há muito tempo que o discurso do PT mudou, começa a dar sinais de mágoa e desilusão. O partido que guerreava para aumentar os salários dos funcionários públicos, e que considerava a contribuição de inativos uma heresia, hoje defende justamente o contrário. O povo começa a compreender que as fulgurantes promessas de palanque eram apenas engodo para conquistar o seu voto, que o PT no governo ignora completamente o que seus candidatos juraram durante a campanha.

O salário-mínimo, cujo aumento real o presidente Lula não pôde dar em 2003, porque acabava de assumir o mandato, ia estudar depois, etc. e tal, será algo em torno de R$ 15 em 2004, um requinte de perversidade que significa desesperança para o pobre, mas lhe garantirá mais palmas e elogios no exterior. Muitos dos candidatos do PT às prefeituras e aos legislativos municipais no ano que breve se inicia estão com as barbas de molho (inclusive gente do nosso Vale do Itabapoana). Principalmente aqueles que não possuem uma identidade própria, um carisma político exclusivo, uma liderança natural peculiar independente deste ou daquele partido, em suma, aqueles que majoritariamente precisam andar a reboque do PT perigam transitar em 2004 por caminhos inóspitos, fustigados pela hostilidade dos espinhos.

É espantoso que na monumental edificação chamada Brasil, que urge tão complexas, urgentes e colossais reformas, nem uma parede foi ainda pintada, sequer foram adquiridas a broxa e a cal.

Publicado em dezembro/2003

Bom Jesus precisa de vontade política; a cidade clama desesperadamente por “terapias”

O ano que se finda marcou um paradoxo em Bom Jesus do Itabapoana/RJ: enquanto a iniciativa privada pontificou fortemente sua vocação empreendedora, o poder público patinou na velha incapacidade de dar conta dos seus mais elementares misteres. Neste 2006 foi ainda pior: sucumbiu de forma lastimável à cegueira do descortino de horizontes em face de equações insolúveis, formadas, pode-se usar a figura, num conjunto de eventos sinistros, simultâneos e imponderáveis, tal como acontece para um desastre real. E foi um desastre figurado de tais proporções que o servidor municipal chega ao fim do ano com quatro meses de salários em atraso (assim é no momento em que estas notas estão sendo produzidas). Se fosse uma empresa privada, a prefeitura teria se pulverizado há tempos.

Em contraponto, os empreendedores locais deram conta do recado mais uma vez. Trabalhando sob a expectativa do velho e universalmente consagrado lucro (o que não é o caso da Viúva assistencialista), o empresariado deu uma aula de planejamento e eficiência, mostrando que a disposição e a criatividade são fortes o suficiente que, às vezes, nem dependem do Estado (no caso o município), entidade que em vez de pavimentar as vias do crescimento só tem feito esburacá-las. Novas lojas de supermercados, shopping, prédios residenciais e comerciais e outros empreendimentos de expressão mostram o particular como um vigoroso condor, enquanto a cidade desorganizada remete o público a uma espécie de Ícaro melancólico.

Imaginemos como seria se ambas estivessem por igual no ápice da pujança, esbanjando saúde, unidas como deveriam no esforço desenvolvimentista. Itaperuna que botasse as barbas de molho. Mas, como ensina a Bíblia em Eclesiastes (3,1-3), que “tudo tem o seu tempo determinado. Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de colher; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derrubar e tempo de edificar…”, rezemos e torçamos para que na vida pública de Bom Jesus haja pessoas que não perderão a noção do seu próprio tempo. Aproveitar a seara dos bons augúrios políticos em nível estadual, que possam se espraiar até Brasília parece uma boa aposta para 2007 em diante. Vamos ver.

Se a brisa refrescante finalmente estacionar nos cofres municipais, e o balão de oxigênio puder se aposentar para alegria do funcionalismo, não será de bom alvitre se darem por satisfeitos. A cidade clama desesperadamente por terapias outras que, se não tratadas com vigor no presente, ganharão cronicidade no futuro. O trânsito e o incrível descaso ao código de posturas por parte do cidadão e das ditas autoridades é um dos outros graves males. Impressionante como Bom Jesus está verdadeiramente desorientada neste aspecto! Carros estacionam em qualquer lugar. Dia destes havia um em frente à antiga Ford, bem no meio da faixa de pedestres. Um ônibus que vinha da Av. Padre Mello não conseguiu curvar em direção à Itaperuna: ficou entalado sem poder seguir nem recuar. No meio das quatro direções. Nó cego total. Seis minutos, contados, em que só motos, bicicletas e pedestres puderam seguir seu caminho em todas as direções. Nenhum guarda de trânsito, e provavelmente sequer uma advertência ao folgado ou à folgada que transtornou dezenas de pessoas com sua atitude negligente, egoísta.

Dizia dos carros, mas motos, a mesma coisa; ciclistas que jamais devem ter ouvido a palavra contramão; transeuntes se deslocando no meio das ruas por falta da mais incompreensível noção do perigo (não se sabe o que é feito do instinto de autopreservação da própria vida), e em boa parte simplesmente por não terem opções, já que as calçadas vivem obstruídas pela mais variada tralha, desde materiais de construção, caixotes, engradados e até mesmo a tomada da via pública na mais deslavada cara-de-pau para uso particular.

Estes são alguns desafios que a autoridade tem pela frente e deve enfrentá-los sem medo de cara feia nem da perda de votos. A questão é cultural, de maus hábitos enraizados firmemente ao longo das décadas. Então, é preciso primeiramente ampla campanha educacional. Em seguida, ter aquilo roxo para fazer cumprir os regulamentos. Uma calçada desobstruída, reabilitada ao seu dever original de ofício pode subtrair o voto do comerciante prejudicado, mas certamente adicionará os dos beneficiários da via livre. O convívio com a desordem, com um sistema viário sofrível em meio ao caos promovido por usos e costumes arcaicos, provincianos, anacrônicos, chega às raias do primitivo.

Os hábitos conservadores do tempo das diligências, na era em que o homem planeja viajar em férias à Lua são inteiramente incompatíveis com a modernidade, com uma cidade organizada e aprazível, com uma sociedade cortês e progressista. Se construir elevados, túneis e minhocões é impensável, que pelo menos se alarguem traçados, sinalizem decorosamente as ruas e avenidas e se evitem a indecorosa transgressão à ordem. Isto, sim, é possível. Basta vontade política e disposição para contrariar alguns interesses em prol dos de todos. Uma cidade mais bonita, mais contemplativa, moderna e humana se elevaria por sobre os destroços da apatia, da ineficiência e da acomodação!

PS.: No aspecto desorganização viária, tráfego, tomada de calçadas, falta de sinalização, Bom Jesus do Norte não tem mais crédito do que sua co-irmã. Talvez os projetos pudessem ser elaborados a quatro mãos, quem sabe?

Publicado em dezembro/2006