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Passarela que une as cidades de Bom Jesus precisa de manutenção; corrosão dá incômodos sinais de presença; fiação improvisada oferece riscos de choque elétrico

Construída e inaugurada em 2000, num esforço conjunto dos dois municípios de Bom Jesus (do Itabapoana/RJ e do Norte/ES), a Passarela da Amizade, uma obra de inegável proveito das duas comunidades começa a ficar ameaçada pelo tempo. Os transeuntes já notam sinais de corrosão em suas colunas e vigas, o que requer serviço de pintura o quanto antes para prevenir futuros comprometimentos na estrutura.

Outro problema que ameaça a segurança dos usuários são os fios elétricos, improvisados de modo temerário, soltos, sujeitos às intempéries, com riscos potenciais de causar choque elétrico. Alguns problemas foram solucionados na passarela desde que foi inaugurada. Um cano galvanizado foi colocado verticalmente, impedindo o trânsito de carros e carroças. A própria iluminação foi melhorada, e a instalação de uma guarita policial no lado fluminense inibe não só as ações dos desocupados, como também a passagem de animais, ciclistas e motociclistas.

Publicado em dezembro/2004

Bom Jesus sitiadas pelas águas: nível do Itabapoana subiu seis metros, e muitos compararam a enchente com a de 1979, de trágica lembrança

Mais uma vez a população sofre com as cheias do Rio Itabapoana. Pior: o que era antes um fenômeno esporádico vem se transformando ano após ano num fato sinistramente contínuo. Pior ainda: a enchente deste ano suplantou a anterior, e muitas pessoas acham inclusive ter superado a de 1997, de grande intensidade. Idosos apostam que foi maior até que a contemporânea mais famosa — a de 1979.

Seja como for, o legado de drama e devastação é bastante comum. Este ano o problema começou no último dia de fevereiro com um forte vendaval seguido de chuvas torrenciais. A enxurrada em Bom Jesus do Norte destruiu até o calçamento de ruas, e em Bom Jesus do Itabapoana danificou uma residência e uma creche no bairro Asa Branca por queda de árvores. A barragem do Valão Santa Rosa se rompeu mais uma vez (o que está se tornando um fato corriqueiro), levando destruição e angústia aos moradores do entorno.

O Coordenador de Defesa Civil do município, Alexandre de Alcântara, disse que o rompimento da barragem foi o segundo ocorrido: “temos casos de duas famílias que perderam tudo, e outras desalojadas. O prefeito já autorizou a retirada das manilhas para desobstruir o fluxo”, afirmou, acrescentando que futuramente deverá ser feita uma obra semelhante à do Valão Soledade.

No dia 4/3 uma tromba d´água que caiu em Divino de São Lourenço/ES ocasionou o transbordamento do Itabapoana, que já vinha enchendo com as chuvas constantes. No dia seguinte, outra tromba d´água, em Dores do Rio Preto/ES, deu cores mais dramáticas à tragédia, com o rio subindo seis metros.

Publicado em março/2005

Prevaricação anunciada

Há algum tempo se vêe com estranheza caminhões de carga transitarem pela ponte velha que divide os dois municípios de Bom Jesus, divisa entre os estados do RJ e ES. São veículos de todos os portes, até imensas carretas fazendo misteriosamente o percurso nos centros urbanos de cidades de ruas acanhadas, grande quantidade de quebra-molas e obstáculos de toda ordem, renunciando ao conforto do caminho pela ponte nova do Contorno.

É esquisito esse cortejo urbano até mesmo por parte dos motoristas que se dirigem a São José do Calçado ou localidades naquela direção, pois a alternativa de acesso se revela indubitavelmente melhor. Ressalvando um eventual, remoto e inusitado senso masoquista de um ou outro caminhoneiro que estaria na contra-mão daquilo que a classe mais devota — a pressa de chegar — enfrentando percalços e manobras arriscadas para evitar colisões com copas de árvores em alguns veículos transportando cargas altas, a suposição de que haveria algo mais no chão do que simples caminhões de carreira foi recentemente reforçada pelo episódio da prisão, em São .José do Calçado, de um fiscal de rendas de Bom Jesus do Norte suspeito de subornar um caminhoneiro para fazer vistas grossas à documentação irregular e venda de notas fiscais frias.

É imperioso que as autoridades investiguem a fundo o forte indício de crime de sonegação fiscal não apenas para punir alguns eventuais apressados em dar uma molhada no canteirinho esturricado pela dureza da vida, mas sobretudo porque no rastro dos canteirinhos é possível que haja uma extensa área cultivada. Quer dizer, no bom o velho português, que seria ingênuo quem pensasse que, existindo o ilícito, este se restringiria à subalternidade de um mero fiscal pego com a boca na botija. Muito provavelmente há pessoas mais importantes por trás das pressupostas evasões, e isso tem de ser severamente diligenciado a bem da moralidade pública.

Publicado em abril/2001

Athos Fernandes

Em 13/7/1979 falecia Athos Fernandes Monteiro, aos 59 anos. Na foto, a partir da esquerda, Eli Machado, Francisco Barroso, Luiz Teixeira de Oliveira, Athos Fernandes e Astolfo Fassbender. Bom Jesus perdia um filho adotivo (nascera em Itaperuna- J), mas que se revelou, através do amor e dedicação pela cidade, mais legítimo que o mais legítimo bom-jesuense.

Poeta consagrado além-fronteiras, escritor de escol, jornalista diletante, possuía aquele delírio criador que lhe incendiava a imaginação. Possuidor de invejável capacidade de se expressar pelas palavras, Athos foi um mestre na arte de bem escrever. A propósito, peço licença ao também grande jornalista Edison Chaves, e me permito transcrever, na íntegra, seu emocionante depoimento a respeito de Athos, publicado em “A Voz do Povo” em 1976, intitulado ´O invejável Athos Fernandes´:

“Invejável é a posição de quem consegue ser, a um só tempo, grande poeta e excelente escritor. Somente quem escreve pode avaliar, perfeitamente, as dificuldades que se oferecem à transmissão da mensagem, ou, como se diz, para se dar o recado. Nem sempre as palavras condizem com o pensamento. Há entrechoques do querer e do poder. Há limitações gramaticais ou terminológicas. Não é fácil!

Há muito venho acompanhando a participação constante do Athos em nossa imprensa. A cada dia que passa, maior é a admiração que tenho pela pena extraordinária desse incrível jornalista do interior que, sem receio, posso afirmar se sobrepõe a muitos editorialistas da imprensa das metrópoles. Palavra fácil e erudita, inspiração incomum, são ingredientes que não faltam aos seus artigos e poemas.

Ao ler o seu editorial ´As Antinomias da Arte´ senti- me terrivelmente pequeno para estar no mesmo jornal que ele. É uma covardia! Encontrei, sinceramente, a par da clareza, do recado bem dado, do tema bem colocado para os nossos dias, encontrei, repito, e assinalei dez palavras cujos significados não conhecia, algumas totalmente inéditas para mim. Imagino quanta leitura, quanto tempo de autodidatismo deve ter o nosso amigo Athos. A facilidade para redigir, que a gente percebe num simples bate-papo, deve ter-lhe custado muita dedicação, muito amor à arte jornalística. Não fosse a voz rouca, teríamos nele, também, um primoroso orador. Mas já seria demais!

O que mais admiro, no entanto, em Athos Fernandes, é a sua simplicidade pessoal. Na rua, no trabalho, na mesa de botequim, ele é sempre o mesmo: sóbrio, educado, humilde. A acolhida que me deu, aqui ao seu lado, com o meu vocabulariozinho do dia a dia, sem maiores pretensões, aumentou o respeito e a estima que lhe dedico. Daí, a razão destas palavras.”

Retorno
Há que se acrescentar que Athos praticava um jornalismo agressivo e destemido em todas as situações e circunstâncias que contrariavam suas convicções políticas e sociais nos quase 30 anos que trabalhou em “A Voz do Povo”. As críticas mordazes, os textos audaciosos, sempre causavam polêmica e atingiam em cheio o objetivo: defender intransigentemente os interesses coletivos.

PS – Athos tinha um grande defeito, era vascaíno. Mas ninguém é perfeito!

Publicado em outubro/1997

Serra X Xuxa; ou, gravidez na adolescência traz riscos adicionais para as mães e encorpa as estatísticas de mortalidade infantil

O recente arranca-rabo envolvendo o Ministro da Saúde José Serra e a apresentadora Xuxa foi um pequeno arroubo de indignação de uma autoridade que deveria ir bem fundo e, com a importância que tem, implementar intensa mobilização para pôr um pouco de moralidade nos programas de TV deste país. Infelizmente as coisas não passam de veemências esporádicas para agrado momentâneo da plateia, caindo rapidamente no esquecimento sem maiores consequências. Falo da forte crítica que o ministro fez à apresentadora por esta dar o mau exemplo da apologia à geração de filhos fora de uma união familiar, aludindo ao flagelo da gravidez na adolescência de jovens brasileiras.

Um pecado que acomete certas pessoas é o temor de parecer antiquadas, conservadoras. Em nome desse temor se conformam em ver a derrocada dos valores morais que sempre fizeram parte dos humanos enquanto racionais e sociáveis, permitindo e até estimulando a permissividade exacerbada que está se tornando uma das mais insidiosas moléstias, das tantas que já estertoram a nação tão combalida.

Cada geração promove mudanças de comportamento, o que é perfeitamente normal em virtude da evolução da tecnologia e dos conhecimentos a influenciarem os costumes. Mas nunca promoveu um declínio tão acentuado das condições morais, cujos sintomas são os filhos ilegítimos, crimes, uso de drogas. O que prevalece hoje é o individualismo exacerbado em detrimento do coletivo, das reivindicações de direitos ilimitados em prejuízo da responsabilidade, da liberdade irrestrita sobre o cadáver da ordem.

A dissolução da família, instituição basilar e milenária parece irremediavelmente deflagrada por um critério de comportamento que associa libertinagem e culto ao egocentrismo com padrões de modernismo. Em 1998, o SUS realizou 698.439 partos em adolescentes na faixa etária entre 10 e 19 anos. É um número assustador, até porque não revela a realidade completa do drama social e humano que é a gravidez precoce. Nele não estão computados os partos feitos na rede particular e os que ocorreram sem nenhuma assistência.

Também não leva em conta os milhares de abortos que certamente são praticados para interromper a gravidez indesejada, a maioria das vezes nas mais precárias condições de higiene. O que mais assusta na estatística do SUS é o fato de que ela inclui 31.857 meninas que se tornaram mães entre os 10 e os 14 anos, idade em que é simplesmente absurda a prática de relações sexuais. Ainda pior: entre 1993 e 1998, houve um aumento de 31% nos partos atendidos pelo SUS nessa faixa que vai até os 14 anos de idade.

Trata-se de mães crianças, na grande maioria pobres, despreparadas para a maternidade sob todos os pontos de vista: material, biológico ou psíquico. Independentemente da classe social a que pertençam, essas meninas interrompem seus projetos de vida antes mesmo de terem completado sua formação. Têm de abandonar a escola, os sonhos, a própria infância e a possibilidade de um desenvolvimento saudável numa fase importante da vida.

São pequenas diante do desafio que é criar um filho e educá-lo, e ainda por cima submetem-se a um risco para o qual ainda não estão preparadas. A grávida adolescente, até os 16 anos, está mais sujeita à eclâmpsia, anemia, desproporção cefalopélvica, hemorragia, parto difícil e prolongado, enfim, à morte materna. O risco da gravidez precoce estende-se ao bebê, comprovadamente sujeito a maior incidência de baixo peso ao nascer, maior índice de prematuridade e mortalidade infantil mais elevada.”

Ditas pelo próprio ministro, as palavras acima realmente merecem uma ampla reflexão. E merecem mais ainda, não apenas da Xuxa, mas de todos os que têm a responsabilidade de formar conceitos e opiniões a reavaliarem o que andam transmitindo aos jovens. O sexo só deve ser praticado no momento certo e com responsabilidades, e uma menina ou um menino de 14 anos seguramente não têm maturidade para perceber realisticamente a pequena tragédia que é gerir um filho nesta fase da vida.

Talvez seja o caso de se apelar aos apresentadores de televisão de nosso país: pensem em seus próprios filhos, senhores! O dinheiro somente, em nenhuma hipótese, os contemplará com a verdadeira felicidade. Os valores morais, com o fortalecimento do referencial familiar, sim, com certeza.

Publicado em outubro/1999