Aqui eu guardo meus escritos.

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Temos de perseverar na luta pela Cultura, líquido medular da cidadania

O educador e intelectual calçadense Edson Lobo me parabenizou certa feita por entender que contribuo pela Cultura. Eu lhe respondi “temos de perseverar”, pensando nos obstáculos que a dita-cuja enfrenta para fincar raízes mais profundas na incrível superficialidade comportamental de então. A Cultura, definida como tudo o que resulta da criação humana passa por preocupantes reveses. Se por exemplo o Big Brother da TV Globo é resultante da criação humana, então pode-se afirmar que Big Brother é Cultura. Logo, Cultura também é o ridículo, o baixo nível, a apelação, o egocentrismo, a fogueira das vaidades.

A obtusidade no Brasil atual alcançou nível inacreditável. A instantaneidade da informação, em vez de melhorar o nível cultural parece estar promovendo efeito inverso. Com a Internet, ninguém precisa “saber nada”, basta saber procurar. Apertam-se algumas teclinhas…, e pronto: já estou culto.

O ensino superior no Brasil, de uma maneira geral, está “supletivizado”, “mobralizado”, “projetominervalizado”, isto é, exercido perfunctoriamente, de modo ligeiro, superficial. Nunca, jamais, em tempo algum o diploma foi tão banalizado, a obtusidade tão diplomada, a ignorância tão com olhos de cigana oblíqua e dissimulada como a Capitu, de Machado de Assis. Há muito venho recebendo reprimendas de alguns leitores, censuras ao “vocabulário elaborado”, como um que colocou nestes termos, educadamente, para não ir direto ao ponto, deselegantemente, de que quero parecer erudito, o que definitivamente não sou.

Uma comerciante bom-jesuense-do-norte, dia destes, falou baixo, quase sussurrando, cheia de dedos, “que ela temia dizer”, e já dizendo, que “escrevo coisas interessantes, mas uso algumas palavras difíceis”. Tinha receio de que, em represália, eu parasse de entrar no seu estabelecimento. Receio infundado, até por sua simpatia e qualidade dos produtos que comercializa. Um pouco chateado, sim, fiquei, não pela repreensão, mas pelo nível cultural que ela revela, sendo eu não mais que mediano em português (honestamente, sem falsa modéstia).

Acontece que os textos jornalísticos não podem reproduzir integralmente a linguagem falada, até porque o papel — e as telas, hoje em dia — não reproduz os trejeitos e demais expressões corporais que potencializam ou suavizam a mensagem oral. Além disso, como se aprende em qualquer curso de Comunicação no primeiro dia de aula, tudo o que se deseja expressar tem um vocábulo adequado. Se quero escrever “ele é uma pessoa que só admite existir no mundo princípios antagônicos e irredutíveis, só o bem e o mal”, digo que ele é “maniqueísta”, economizando aí umas 20 palavras, uns 80 caracteres.

“Maniqueísta?!”, se escandalizarão meus censores. “Este cara quer dar uma de sabichão, de intelectual. O povão não entende essa palavra”, diriam os que profetizam um Aurélio 99% mais magro, um Caldas Aulete com corpinho de faquir, um Michaelis anoréxico. São desejos duplamente injustos. Diria até perversos: 1) os mais instruídos terão de descer ao nível dos menos; 2) desmotiva a luta pelo progresso cultural, passaporte da cidadania. Qualquer semelhança com o Brasil político de hoje não é mera coincidência.

Felizmente ninguém até então se queixou de não ter entendido perfeitamente o teor dos meus textos. Melhor: os que confessam admirar minhas mal-traçadas são em número bem maior dos que querem mutilar, humilhar, reduzir à míngua o idioma. Semelhante ao Russo de Vladimir Nabokov, nosso belíssimo português nos propicia mais provisão de acessórios,”o espelho de truques, o pano de fundo de veludo preto, as tradições e associações implícitas — de que o ilusionista local, com as abas do fraque a voar, pode valer-se magicamente a fim de transcender tudo o que lhe chega como herança.”

Temos de perseverar!

Publicado em maio/2013

Crescei e multiplicai-vos; ou, o celibato sacerdotal tornou-se um anacronismo estimulador de crimes sexuais

 

O celibato não estará contrário às Escrituras? O padre que teria caído nas tentações da carne em Bom Jesus do Itabapoana — fato de domínio público, porém oficioso — é mais um caso a questionar a disciplina exigida milenarmente pela Igreja Católica, que de há muito deveria ser eliminado: o celibato compulsório. É preciso lembrar que o voto de castidade a todos os eclesiásticos não é um dogma da fé católica, não está propriamente ditada pelos princípios do Cristianismo, mas é apenas uma norma interna, uma exigência da Igreja aos que nela queiram ingressar como sacerdotes.

Na realidade o celibato, ao contrário dos que acreditam ser um costume inspirado no comportamento de Jesus Cristo, nada mais é que uma forma sutil de aproveitar todo o tempo disponível do sacerdote para o trabalho único e específico da Igreja, sem ter que dividi-lo com filhos, esposas e as implicações decorrentes. Tanto é que até 303 d.C. isso não era obrigatório, apesar de haver forte militância voluntária, até que o Concílio de Elvira (Espanha) recomendou o celibato como norma para os religiosos. Não há dúvida que o assunto é uma tremenda dor de cabeça para o Vaticano. Ao sentir o avanço agressivo das religiões protestantes, com a liberalidade sendo o maior poder atrativo, a Igreja Católica vem afrouxando devagarinho seus preceitos herméticos. A exigência do celibato poderá vir a ser um deles, onde a Igreja certamente contabilizará mais lucros que prejuízos. O abuso sexual praticado por padres é uma prática que poderá vir a ser drasticamente reduzida.

O Pe. José Lisboa Moreira de Oliveira faz uma análise a respeito, ressaltando que ela deve ser vista no contexto do fato em questão, a fim de se evitar colocar no mesmo caldeirão todos os padres e toda a formação presbiteral. “Este fato do abuso sexual cometido por padres é antes de tudo uma denúncia grave. Certos setores da Igreja costumam acobertar fatos graves, achando que se pode tapar o sol com a peneira. Não coloco aqui em discussão a preocupação de não provocar escândalos nos fiéis ou de salvaguardar a honra e a dignidade de quem foi envolvido. Isso é necessário e compreensível. O que questiono é o fato que, mesmo internamente, com os meios disponíveis, justos e corretos, não se procure averiguar melhor o problema, deixando a coisa correr. O que escandaliza é o pouco caso com o qual situações sérias e graves são tratadas. Com isso fica muito claro que, no fundo, o que se pretende é proteger o mais forte. Neste caso, o homem, o ´macho´, o padre. Quando freiras e mulheres são violentadas, abafa-se o caso inclusive com suborno, com promessas e até com ameaças. O caso morre ali, a vítima, muitas vezes pobre e indefesa, não tem como se defender. Com isso dá-se o caso por encerrado, não se encara de frente o problema e as coisas ficam como estão. Não se trata, é claro, de agir com punições rigorosas, expulsões ou coisas assim. Mas de sermos menos hipócritas, mais cristãos, abordando a questão com serenidade, com seriedade, na tentativa de verificar a raiz de problema e de, sem falsos pudores, encontrarmos saídas para diminuir o sofrimento de muita gente, inclusive dos próprios padres. Cabe salientar que, mesmo se tratando somente de ´algumas situações negativas´, isso tudo tem um preço. E o preço mais alto quem geralmente paga é a mulher, violada em sua dignidade, tratada como objeto e obrigada a permanecer no anonimato. Mesmo que tivesse sido apenas um único caso, isso já seria motivo de séria reflexão, pois uma só mulher abusada sexualmente é filha de Deus, é gente. E nada justifica tal violência.”

Publicado em dezembro/2001

Mais um taxista assassinado em Bom Jesus. Categoria deve se unir em prol de ações que aumentem a segurança

 

Lembro-me de que, em março de 2004, o taxista bom-jesuense-do-norte, Valdir Pereira de Araújo, então com 70 anos de idade, foi morto num assalto nas proximidades de Guaçuí. Exatamente um ano depois, em março de 2005, Sidney Lacerda Silva, na época com 27 anos, também de Bom Jesus do Norte, teve melhor sorte: assustado pelo anúncio do assalto, perdeu a direção do seu táxi, e colidiu com outro veículo. Na confusão os bandidos fugiram, e os motoristas nada sofreram.

Lembro-me ainda, embora não da data (uns três ou quatro anos atrás), de outra vítima: Leandro Antônio Ferreira, também taxista de Bom Jesus do Norte. Ele conduzia dois elementos na faixa de 22 anos para Apiacá, mas na descida de Iurú eles pediram para o taxista parar porque “queriam” urinar. Desconfiado, Leandro também foi urinar, mas do lado contrário da pista, e quando voltou eles sacaram um revólver e anunciaram o assalto. Colocaram-no no porta-malas e rodaram bastante, presumivelmente para utilizar o veículo em atividades criminosas. E felizmente, pouparam a vida da vítima. Agora (19/5/13) foi José Wilson Calvário Pereira, 62, taxista que fazia ponto na rodoviária de Bom Jesus do Itabapoana, morto por asfixia por três homens que o escolheram ao acaso para praticarem o latrocínio.

A profissão de taxista sempre foi uma das mais perigosas nos grandes centros urbanos, mas a violência vai também se insinuando no interior. No caso dos taxistas, desconfiar sempre parece ser o X da questão. Como ninguém traz uma estrela na testa, e uma blindagem que separe o motorista dos passageiros é inviável, ideal seria que os profissionais se unissem para definir normas e regras de comportamento comum a todos. Como sugestão, por que não fazer uma parceria com a polícia, de modo a revistar todos os passageiros desconhecidos que tomam os táxis à noite, principalmente em direção a locais fora do perímetro da sua cidade?

Eis uma sugestão, de outras que certamente a polícia pode sugerir para a categoria praticar em defesa da própria vida.

Publicado em maio/2013

A faxina tem de ser ampla, geral e irrestrita. Depois do susto que os próprios fantasmas do povo sofreram, podem se recuperar e assombrar com força redobrada. Olho vivo!

Imagem gerado por IA

Grande parte das pessoas que hoje protestam nas ruas era criança quando Lula foi eleito em 2003. Em 2002, ano da sua primeira eleição, votei nele (deixo claro que só cometo tal tipo de erro uma vez). Em 1/1/2003 — lembra-me até a marca da TV de 20 polegadas — verti uma lágrima quando ele disse duas coisas no discurso triunfal de posse, com a voz embargada; se não literal, mais ou menos assim: “nunca tirei diploma, agora tenho o de presidente do meu país”; “nós não temos o direito de errar.” Referia-se a ele próprio e à companheirada do PT).

Meu Santo Padim Padi Cisso Romão Batista. Como ele errou. Como esse PT errou, erra e errará. Como traíram toda uma nação, todo um povo que acreditava em mudanças profundas! Nada, meus jovens, nadica de nada mudou. Aliás, vocês protestam justamente por isso. Vocês protestam porque a única bandeira dessa turma é a bolsa família e algumas outras benesses — as migalhas que sobram dos palácios suntuosos — que já não podem mais calar ninguém.

Não. Não estou esquecendo que essas suas manifestações de agora são apartidárias, que não protestam contra agremiações políticas ou ideologias específicas. Aliás, embora eu tenha certos princípios que se encaixam em determinado viés filosófico, não me sinto representado pelos partidos que temos (aqui, um texto que fiz sobre isso). Mas me sinto à vontade para falar desse (des)governo porque fui um dos que contribuíram para alçá-lo à vez primeira, como creio ter sido um dos primeiros a me arrepender, pelos motivos que escrevi à mancheia, como por exemplo já em fins de 2003 (aqui). Vai um trechinho: “o Fome Zero, aliás, expõe uma brutal face contraditória. Um governo que disponibiliza recursos insignificantes para a Educação, diante das enormes necessidades (fato criticado pelo próprio Ministro da Educação Cristóvão Buarque) e corta verbas para a Saúde, não pode estar falando sério em dar R$ 75 para o pobre comprar comida.”

Este, de 2005, trato da incoerência do partidão, e este, de abril deste ano, seu título até parece profetizar as manifestações de agora: “estão destruindo o Brasil. A geração futura vai penar terrivelmente para pagar a conta da farra de hoje.”

Ah, José Henrique, Lula nem é o presidente…

Engano. Assim como a jabuticaba, que só existe no Brasil, somos o único país que tem um ex-presidente como primeiro-ministro, com aspas, que na maioria dos regimes parlamentaristas, sem aspas, é quem realmente manda. Engano ainda pior: as manifestações de agora beneficiam Lula, que o PT está doidinho para lançar sua candidatura ano que vem. Acho até que a maioria do partido, se não está estimulando as manifestações, deve estar torcendo para que os protestos inviabilizem a candidatura de Dilma à reeleição, para então lançarem com toda a pompa e circunstância o “deus” do povo brasileiro: Lula. Aí, meu jovem, você poderá ser (des)governado mais oito anos diretamente por ele, e mais oito por algum outro poste que ele enfiar novamente goela abaixo do povo. Fazendo as contas, você, que estará ao fim de mais uma triste aventura, já quarentão, contemplará seus filhos, e até netos, com aquela cara de bunda, pensando nas manifestações de agora que não deram em nada.

— Mó derrota, pai (ou vô) dirão eles, ou alguma variante dessa expressão que estiver na moda no ano da graça de Nosso Senhor de 2032, se você não definir claramente o que quer para o seu país daqui em diante.

Publicado em junho/2013

Estão destruindo o Brasil! A geração futura vai penar terrivelmente para pagar a conta da farra de hoje

 

Sei que os leitores estão fartos de ler sobre política e políticos, mas perseverem. Tudo o que os inimigos do povo querem é justamente que desistam. Vejam que fazem todo o possível para desestimularem os brasileiros a ler, a se instruir, porque o conhecimento gera consciência cidadã, que gera comprometimento com uma vida sã e ética, e com o futuro da pátria.

O Brasil de hoje, ou melhor, a classe dirigente que aí está vai cevando desgraças talvez não para mim, nem para vocês, mas para os nossos descendentes. Desnecessária bola de cristal para percebermos a bomba-relógio que andam preparando: vão aos poucos acabando com a Educação, por exemplo. Alunos que tiraram nota máxima em redação do Enem este ano escreveram “rasoavel”, “enchergar” e “trousse” (Razoável, Enxergar e Trouxe). Para os çábios, isso é normal.

Intentam diuturnamente contra a liberdade de expressão, como essa tal de regulação da mídia (censura, em português claro) que perseguirão até conseguirem. Na exposição de motivos, a enganação: “o PT quer debater na sociedade e no Congresso a necessária regulação da mídia, com o fito de alargar a liberdade de expressão e fortalecer a democracia”, justifica o presidente da sigla Rui Falcão. Mas o próprio Rui confessa o verdadeiro motivo, em artigo publicado na Folha de São Paulo em novembro de 2012: “nosso partido fará agora uma profunda avaliação sobre as injustiças de que tem sido alvo, em reunião do nosso diretório nacional ainda neste ano.”Que será de um país sob censura onde a única oposição são alguns (pouquíssimos, é bom que se diga) setores da imprensa? Vejam a inflação, que ronda ameaçadoramente. Nós, os mais velhos, somos traumatizados com essa que é a doença letal de uma economia. Na época do bigodão Sarney (presidiu o país de 1985 a 1990), que não larga o osso de maneira nenhuma, e ao que parece vai se mumificar no poder, a gente corria aos supermercados de manhã porque à tarde o arroz e o feijão já estavam com preços majorados. Convivíamos com o dragão que chegou a 85% ao mês (média de 17,9% em todo o seu governo, que fechou com estratosféricos 1.076,15%). Entendam os jovens: o videogame de R$ 1 mil no início, custava ao fim daquele governo R$ 10,7 mil. Pior: mesmo que tivesse essa montanha de dinheiro, não se podia comprar o brinquedo simplesmente porque não havia no mercado. Vivia-se a chamada estagflação, monstro ainda mais perverso que a inflação pura e simples porque várias mercadorias não existiam para comprar (estagnação), já que o capital produtivo era direcionado a atividades especulativas.

Aos que me interpretarem como direitista, tucano, oposicionista, reacionário, essas bobagens, se equivocam. Até porque isso não existe mais. A ideologia da maioria dos políticos é o próprio bolso ou a própria vaidade, a ganância do poder pelo poder. Votei no FHC quando ele ganhou e votei no Lula quando FHC ganhou de novo; Votei no Lula quando este ganhou, e votei no Alckmin quando Lula ganhou novamente. Não votei na Dilma, deixo claro, mas no início de seu governo até que imaginava votar nela em 2014. Imaginava! Portanto, minha ideologia é o bem-estar meu, dos meus, de todos nós, em suma, dos brasileiros. Se gosto, digo que gosto; se não gosto, digo que não gosto. Quando o histriônico Fernando Collor falava das carroças que eram os nossos automóveis; em abrir o país à modernidade; quando acabou com o cheque ao portador, eu o elogiei. Hoje? Que vá para os quintos!

Veem as tragédias das chuvas, especialmente na Região Serrana Fluminense? Ano que vem nem precisam ligar a TV, vocês verão a mesmíssima coisa, diferençando apenas no número de mortos, feridos, desabrigados, desalojados, desgraçados. Com pompa e circunstância, Dilma falava quando da tragédia do ano passado de uma força-tarefa com geólogos, hidrólogos, sei lá que mais logos (remetem a lagoas, quanta ironia) evitaria novas tragédias. Sei. Os 25 que morreram este ano, mais o monte que sofre, devem ter escolhido esse destino cruel voluntariamente, com alto sentido masoquista. Enquanto isso, a popularidade de Dilma e Lula roçam a região lunar Mar da Tranquilidade. Por que? O povão trocou a capacidade de indignação pelo bolsa esmola. Podem fazer o que quiserem, desde que garantam o frango com quiabo aos domingos.

É necessário, e com celeridade, que o povão compreenda que não existe nada grátis, e quem faz milagres não são os humanos; que hoje pode estar consumindo o alimento dos futuros filhos e netos, porque alguém, um dia, terá de pagar a conta. Portanto, leitores, apesar das náuseas, continuem a ler e a se imiscuírem no que for possível em assuntos políticos. Abracem essa catequese em benefício do futuro dos seus próprios descendentes.

Publicado em abril/2013