Aqui eu guardo meus escritos.

Obrigado pela visita.

Podridão escancarada

A safadeza explícita com a certeza da impunidade, que culmina com a fome, a incerteza e a desesperança para milhões de almas tem extrapolado limites. Rogar a maldição é o pouco que resta num país onde a decência na política está definitivamente morta e sepultada, resguardadas as poucas e honrosas exceções. Então, às favas os preceitos que excluem a grossa adjetivação num texto elegante. Nste não, violão!

Ladrões, canalhas, corruptos, salafrários, torpes infanticidas, capazes de matar pai e mãe para entrar na festa dos órfãos. Torquemada, Hitler, Napoleão, Nero, Idi Amin, todos juntos com o reforço do canibal Bokassa formariam uma confraria de anjinhos de asas douradas perto de suas asquerosas figuras. Vocês personalizam o cancro brasileiro, metastaseado até o tutano dos ossos dos dedos mindinhos dos nossos pés. Vocês, todos vocês que de alguma forma se nutrem do sangue contaminado pela endemia da injustiça social e se banqueteiam do líquido medular dos combalidos brasileiros, com o tremor febril do frenesi tal e qual o Conde Drácula com os caninos profundamente penetrados num pescoço virginal, hão de conhecer o pavor da vindita coletiva quando esta emergir dos subterrâneos da amargura, da dor e da tristeza.

A podridão está escancarada. Malditos sejam os corruptos, que nada deixam sobrar no imenso cofre, nem para o remédio dos velhos ou a merenda das crianças. Malditos, mil vezes malditos pelo seu caviar ser brutalmente arrancado das entranhas dos semelhantes e por suas finas bebidas degustadas em copos do mais puro cristal terem na composição as lágrimas dramáticas do mar de choro convulsivo dos bebês sem leite. Que todos vocês (isso ardentemente lhes desejo) purguem seus crimes hediondos na terra devastada da besta em liberdade e da meretriz no trono.

Dedico esta sincera e singela homenagem a todos os corruptos deste imenso Brasil. A maracutaia flagrada pelo Fantástico, dias atrás, em São Gonçalo/RJ, é um mini-retrato sem retoques do que rola nos desvãos sombrios de Brasília e nos palácios estaduais. Imagino o tamanho da roubalheira…, bem, não dá pra imaginar, meu circuito cerebral não possui os terabites necessários. Só o que consegue é pensar na complexidade de uma investigação como essa e lembrar que o país possui mais de 5500 municípios. Haja jornalistas!

Por muito menos a corja pereceria num paredón em Cuba ou receberia um tiro na nuca em território chinês, com os familiares pagando a conta pelos projéteis utilizados na solução final da infâmia. Algo bom alguns comunistas produzem. Aqui…, bem, aqui, numa analogia ao programa do Silvio Santos, os crápulas pedem ajuda aos universitários do Direito, que nunca têm a menor dificuldade em lhes fornecer o salvo-conduto. Este, impresso pelas firulas jurídicas com a tinta pútrida extraída do tumor maligno da im(p)unidade, é normalmente adornado com a terna e meiga chancela de um Código Penal anacrônico, serelepe em trancafiar ladrões de galinhas mas doce e condescendente com os que assaltam os cofres públicos.

Publicado em abril/2002

Mobilidade urbana em Bom Jesus: Bonjesino acha que os políticos da terrinha estão se mexendo, como seus congêneres de Brasília. Tola ilusão, penso eu

Lamento dizer, mas não acredito que as manifestações meio barro, meio tijolo, em Bom Jesus, foram capazes de sacudir as estruturas do provincianismo político, suas decenárias idiossincrasias e o modus faciendi ultrapassado, canhestro, de gestão pública. A ponte sobre o Rio Itabapoana (foto), que os ingleses construíram no início do século passado mais para tráfego de carroças de tração animal, unindo Bom Jesus do Norte (Extremo-Sul Capixaba) e Bom Jesus do Itabapoana (Noroeste Fluminense), hoje suporta o pesado trânsito de bólidos guiados por GPSs e que manobram sozinhos nas vagas de estacionamento.

Diria alguém não conhecedor das duas cidades que naturalmente a ponte veio tendo ampliações ao longo do tempo, se adequando gradativamente à medida das necessidades pelo aumento constante do tráfego. Ledo e Ivo engano. Ao contrário, ela ficou mais estreita para os veículos devido à construção de duas passagens para pedestres na década de 1970, se não me falha a memória. Adivinhem como está o trânsito sobre a acanhadíssima ponte, atualmente, em especial nos horários do rush.

Hoje em dia todo mundo tem acesso ao carrão financiado em trocentas vezes, com preços reduzidos por renúncias fiscais do socialismo tupiniquim. Só que os çábios, com c e com cedilha, não atentaram para o simples fato de que teriam também de investirem em estrutura viária onde esses veículos pudessem trafegar. Resultado: todo mundo tem carro, mas não tem como usá-lo de forma desejável principalmente nas cidades, sem estresse, sem engarrafamentos monstruosos.

Como dizia Ulisses Guimarães, político só tem medo de povo. De povo que reivindica, que faz pressão, bem dito. E depois destas últimas pressões – e que pressões!, a politicada está igual manada sem rumo, galopando em círculos, entrando em qualquer porteira que vê aberta.
Estão prometendo ao povão até revogar a lei da gravidade; inclusive, já anunciaram a liberação de R$ 50 bilhões para mobilidade urbana.

Diria Bonjesino, o meu personagem apaixonado pelos políticos da terrinha, que os prefeitos daqui já estão unidos entre si, e articulam com suas respectivas representatividades em níveis estadual e federal para viabilizarem a construção da 2ª ponte urbana. Guardando uma estratégica e cautelar distância de Bonjesino, em verdade vos digo: em 2016, ano das próximas eleições municipais, com certeza ouviremos nos palanques as mesmas promessas, os mesmos tatibitates com os quais há décadas tratam de assunto tão importante para ambos os municípios e seus quase 50 mil habitantes, somados, fora as populações de lugares adjacentes e de outras plagas, em trânsito, numa região fronteiriça entre dois dos mais destacados Estados da Federação.

Publicado em junho/2013

O recall político é mais ou menos como um impeachment, ou seja, o impedimento, a cassação do mandato. A diferença é que o impeachment é decidido pelos deputados (representantes do povo), e o recall, diretamente pelo povo. Nos EUA e em outros países existe o dispositivo do recall na política. Comprovada a corrupção, incompetência ou inoperância do parlamentar, os próprios eleitores dele o retiram do cargo, pelo voto. Na esteira das reivindicações por uma ampla reforma política no Brasil, o instituto do recall surge como um possível componente dessa reforma, defendido até pelo presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa.

Fazer recall de produtos, todos sabemos, é quando uma determinada fabricante detecta algum problema e convida os consumidores a trocarem as determinadas peças defeituosas ou mesmo todo o produto, gratuitamente. Há recalls de variadas categorias, mas o de veículos é o que mais se destaca. O cartunista Nani foi na veia. Roubar é um defeito difícil de consertar. Se hipoteticamente esse recall passasse a valer imediatamente, já pensaram o tamanho da frota de deputados e senadores que teríamos de trocar?

Publicado em junho/2013

Lula entrou mudo e saiu calado no momento em que o país mais necessitava das palavras de um verdadeiro líder. É um puaiento!

A charge de J. Lima retrata o ex-presidente Lula calado, suando frio por conta das manifestações que o PT achou que ficaria restrito a São Paulo e detonaria o governador oposicionista Geraldo Alckmin. Lula, que falava pelos cotovelos onde tivesse um grupo de pessoas, em lançamento até de pedra fundamental de quadra de cuspe à distância, guarda um silêncio sepulcral desde que pipocou o escândalo Rosemary Noronha há mais de sete meses. Sobre o escândalo, que o jornalista Alexandre Garcia reputa mais sério que o Mensalão, nenhuma palavra. Sobre as manifestações, o falastrão também emudeceu.

Um político como Lula, que todos sabem é a eminência parda do atual governo, uma espécie de primeiro-ministro informal, porém com enorme influência; um homem que falou até mais não poder quando o céu era de brigadeiro, quando a conjugação de fatores econômicos, políticos e telúricos lhe era enormemente favorável; Que se quer lembrado hoje e na posteridade como um grande líder jamais havido na história deste país. O demiurgo, enfim, que transformou todo e qualquer pobre em classe média (por decreto dos números falaciosos, ao menos), não podia se calar num momento de profunda transformação pelas quais o país atravessa, em plena ebulição das massas que dizem chega a tudo o que há de pernicioso.

O que o pastor divinal diria para suas ovelhas? O que pensa o estadista que, como tal, enxerga à frente, sobre os destinos do país? De que maneira articula esse homem com as forças políticas que domina por intermédio de seu garbo e genialidade, em contributo à nação? Aqui em Bom Jesus, costumava-se dizer de uma pessoa que se deixava seduzir por elogios falsos, que se sentia com o ego afagado quando alguém a enaltecia de maneira dissimulada, hipócrita, como sendo um “comedor de puaia”. E a pessoa que dava as puaias, um “puaiento”. Comer puaia também era acreditar em promessas fantasiosas, em premissas mirabolantes, em discursos triunfalistas.

E Lula não dá as caras agora porque os comedores de puaia se deram-se conta de como ela é indigesta. Como se trata do maior entre os maiores puaientos que o Brasil gestou, o clima lhe é profundamente desfavorável.

Publicado em junho/2013

Mais uma criança brutalmente assassinada!

Acima, à esquerda, Aracelli Cabrera Crespo, morta por pedófilos influentes de Vitória/ES, em 1973, crime que comoveu o Brasil inteiro, cujos assassinos nunca foram condenados; ao centro, o menino bom-jesuense Serginho, morto pelo próprio tio, vulgo Zé do Rádio, em 1977; ao seu lado, Isabella Nardoni, morta pelo próprio pai em 2008; Embaixo, à esquerda, o garotinho boliviano Brayan, esfolado vivo em junho/2013; ao seu lado, Taninha, de quatro anos, morta e incendiada por uma megera amante do seu pai, em 1964, no subúrbio carioca da Penha.  (Aquiaquiaqui e aqui, textos que fiz sobre Serginho, Isabella, Taninha e outros mártires infantis da crueldade)

Desta vez foi o garotinho boliviano Brayan Yanarico Capcha, de cinco anos, filho único de imigrantes pobres que ganhavam a vida com trabalho árduo na capital de São Paulo. Difícil, muito difícil aceitar tanta covardia de vagabundos que se irritaram com o choro da criança, e apesar do apelo desesperado do menino foi executado sem piedade. Em sua ingenuidade, o pequeno tirou moedinhas do seu cofre e as ofereceu aos marginais — os pais não tinham dinheiro — suplicando que não o matassem nem aos pais. Levou um tiro na cabeça e chegou morto ao hospital.

Que raiva de dimensões planetárias, Deus do céu. Que lágrimas teimosas escapando aos borbotões. Quantos nós no estômago a cada menção da barbárie. Que vontade de embarcar num asteroide e fugir para bem longe da órbita terreal! Como dito, o pequenino havia até tentado contribuir com suas moedas para o ganho do assalto dos desgraçados, mas…, infeliz criança, fora incapaz de atender a ordem dos crápulas brutais para conter o choro de desespero, pelo assombro de ver materializado seu mais aterrorizante pesadelo! Pior é que a parte infame do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), aquela que praticamente diz que guarda-roupas parrudos de 17 anos e 11 meses são anjos, ainda que executem à queima-roupa crianças indefesas como Brayan, pode ser novamente evocada neste caso.

Leio que a polícia “apreendeu” um dimenor — ai de mim se não usar o termo correto ´apreender´ ou citar nomes das feras. Fico sujeito a ser enquadrado em alguma coisa. Se publicar a foto do anjinho, então…, arrisco ser processado, executado e queimado no fogo do inferno. Pior ainda é que li no Jornal da Mídia que um dos assaltantes maiores, presos, disse que o autor do disparo foi… bingo:  o “dimenor.”

Já que estamos na onda das manifestações, poderíamos aproveitar e fazermos outra, específica contra a vergonha de sermos um dos pouquíssimos países que deixam impunes esses animais predadores da própria espécie. Inclusive protestarmos contra alguns pelintras que se dizem defensores dos direitos humanos, que nestas horas fazem de tudo por uma nesga de luz dos holofotes, passando a mão nas cabeças dos delinquentes. Falam de leis, de cláusulas pétreas da Carta Magna, com pose impoluta e palavras que afetam erudição. E sobre as vítimas, suas famílias que nada entendem de leis, mas entendem profundamente de dor e melancolia, só a tentativa de consolo das almas bondosas que não têm a prerrogativa do poder.

Tratemos de lutar para que não mais necessitemos desagravar indignação e revolta apenas com a torcida pela justiça do olho por olho. Como neste caso, em que faço votos efusivos de que os canalhas que mataram Brayan sejam devidamente apresentados aos demais detentos com as credenciais de assassinos de crianças bem explicitadas. É que até os bandidos mais sanguinários têm sua ética, e barbarizar crianças é repulsivo até para eles. Que os colegas de cárcere sejam informados de que o pecado do menino foi tão-somente ser incapaz de dominar a própria inocência!

Publicado em julho/2013