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Satã não é o culpado; assaltantes dos cofres públicos são os piores demônios!

Ultimamente o diabo anda recebendo bastante atenção. Há gente que jura ser ele o responsável pelos ataques terroristas ao WTC. Uma americana que afogou os filhos alegou que foi ele quem a instigou. Uma prefeita da Flórida “baniu” oficialmente o diabo da sua cidade, e um homem de Nova York, acusado de ter cometido um estupro, disse que, no momento do crime, havia sido possuído pelo demônio. Na Alemanha, um adolescente matou recentemente os pais em nome do capeta. Na Arábia Saudita, os muçulmanos realizam o ritual de “apedrejar o demônio”, simbolizando a rejeição ao ente maléfico. E no Vaticano o papa João Paulo II afirmou que o abuso sexual cometido por padres católicos teria sido motivado em parte pelas artimanhas diabólicas.

Toda a fama que o Príncipe das Trevas está desfrutando parece ser injustificada, embora não se possa afiançar peremptoriamente sua inexistência. Culpar o demônio pelos males do mundo é uma desculpa conveniente, uma fuga das responsabilidades, pois é mais fácil culpar alguém ou alguma entidade do que a si mesmo. Entendendo definitivamente que as tragédias humanas não são culpa de ninguém eterno e etéreo, senão das próprias deformações de caráter dos chamados seres pensantes, especificamente dos que conspiram isoladamente ou em grupo contra a paz, a justiça e o bem-estar dos semelhantes, urge que o lado do “bem” implante ações drásticas, radicais para eliminá-los sumariamente do convívio social.

É o caso dos assaltantes de cofres públicos. Há uma enorme diferença entre o criminoso que mata de forma literal com requintes de sadismo e de perversidade daquele que rouba seu município, seu estado, seu país. Este último é mais nocivo porque promove a fome, as desigualdades, a injustiça, a insegurança, o desespero e a desesperança a milhares, milhões de famílias. Ele impede o progresso, sabota a cultura, tolhe as liberdades ao promover o medo e a ignorância.

Nos exemplos do primeiro parágrafo é grande a revolta com o tinhoso etéreo, mas os tinhosos de carne e ossos agem nas sombras, e o que os olhos não veem o coração não sente. Tal excrescência dos instintos deve ser erradicada em nome da justiça social, desobstruindo de passagem o senso de repulsa e reavivando a mortiça disposição em punir. Os larápios de São Gonçalo e tantos outros criminosos de colarinho branco são em última análise os que fomentam a violência, a discórdia e a guerra; os cúmplices que detêm alguma forma de poder público, igualmente. Mais que estes, Justiça complacente e iníqua se transforma em escudo intransponível a uma nesga de luz nas trevas da corrupção e da safadeza.

Publicado em maio/2002

Qui-lo mas não fi-lo

A esperança venceu o medo! Esta frase de enorme efeito criada pelo suprassumo das eminências marqueteiras no ápice da euforia pela vitória de Lula em 2002, incensada por uma romântica constelação de lágrimas parecia a princípio ser o maior e mais espetacular simbolismo de catarse coletiva. Era supostamente a tradução em três simples palavrinhas, como simples era seu inspirador, da opressão de um povo que enfim se livrava do que parecia ser uma inexpugnável barreira de infâmia bem concatenada em décadas e décadas de tirania econômica e de exploração de uma imensa quantidade de seres humanos por uns poucos gêneros de sua própria espécie.

As lágrimas de há muito já secaram, no entanto. A realidade nua e crua torna forte e incômodo como o vento do deserto o sentimento de prostração que, seguindo um traçado perverso, dá sinais tenebrosos da condução ao conformismo e à resignação pacífica e autômata. A frase era então mentirosa, equivocada, exagerada? Não. Era natural, autêntica, mas (aí é que reside toda a engenhosidade diabólica) não era direcionada ao povão sofrido e angustiado, deduz-se hoje. Este, no paroxismo da sedução como um coelho ante a serpente, em frenesi nas ruas e defronte às telas da TV em atitudes vigorosas de ufanismo, não percebeu o ardil de estar legitimando involuntariamente um bem concebido plano que visava retemperar seu próprio tormento.

A esperança vencera o medo, sim, das oligarquias, dos banqueiros, dos especuladores. Estes, com a capacidade camaleônica do mimetismo, da dissimulação perceberam que a representatividade de Lula seria mais útil para eles do que o tucano de bico trincado que ousou se arremeter contra organizações corporativas multinacionais, como as que produzem remédios e que se julgavam senhoras do destino inclusive de aidéticos. Engana-se quem pensar que as lideranças petistas forjaram um belo plano de governo sem a aquiescência das elites, que encontraram espaço para protagonizarem papeis principais na política nacional sem um conteúdo bem amarrado, bem definido, mas sobretudo bem aceito pelas oligarquias. A continuidade ainda mais insinuante daquilo que o PT combatia de modo apoplético quando nas trincheiras oposicionistas é resultante da perspicácia das raposas, que percebendo a intempérie gradual do terreiro botaram uma barbicha e se travestiram de gatinhos para ganharem o pleito do livre trânsito entre as presas.

Bom Jesus do Norte e São José do Calçado, entre inúmeros municípios brasileiros, conservam os esqueletos daquilo que seriam casas populares, cujos recursos foram intempestivamente brecados pelo governo do PT antes de sua conclusão. Elas ilustram, apresentam um quadro em miniatura da estagnação do Brasil em todos os setores. O salário-mínimo, que seria triplicado, os 10 milhões de empregos, que seriam criados, e outras falsidades mais, acredita-se não terem sido premeditadas pelo brasileiro, pelo homem, pelo calejado e sofrido nordestino Lula. Ele, enquanto “povão”, também foi, por assim dizer, vítima do maquiavelismo das entidades indestrutíveis. Mas passa da hora de ele se aperceber disso, e como Jânio Quadros, mas com motivos evidentes e justos, dar adeus às forças ocultas como forma de preservar a própria dignidade antes de se tomar um fiasco histórico, pois não há solução para miséria e fome sem a destruição de monopólios e privilégios, sem abalar as estruturas da elite sacrossanta.

Qui-lo mas não fi-lo seria menos traumático com o consolo daquele líquido inolvidável para muitos, que come-lo-iam se fosse sólido.

Publicado em junho/2004

Sinais e sinais inquietantes; estão esperando uma tragédia de grandes proporções para resolverem o problema no cruzamento mais movimentado de Bom Jesus

O problema da sinalização no cruzamento da XV de Novembro com a Ten. José Teixeira é um dos exemplos clássicos no rol que inspirou o adágio “há duas coisas infinitas: o universo e a estupidez humana”. Há muito tempo a imprensa vem denunciando o perigo para o pedestre que é aquele local onde se localiza a Pastelaria Chinesa e a Igreja Universal, interseção de maior acúmulo de veículos e de gente em Bom Jesus do Itabapoana. Os semáforos (não confundir com metáforas — as do caos), ou pelo menos as suas configurações de fechamento e de abertura afiguram-se paridos em pranchetas robotizadas cuja engenharia de fancaria, para rimar, só considerou os veículos, como se não houvesse gente transitando pela cidade. O pedestre, em qualquer posição que se encontre jamais tem um sinal amigo fechado para os veículos, tendo de aventurar a sorte se quiser se locomover. Aquela mixórdia está para o transeunte daqui como o estádio da Fonte Nova para os baianos, que só terá solução quando acontecer uma tragédia no local. Aí então implode-se o problema explodindo-se as responsabilidades.

Será que nunca a fechadura será colocada antes de o ladrão arrombar a porta? Hein, senhor prefeito, senhores vereadores? Lembrem-se do Padre Antônio Vieira: “Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias obras. A nossa alma rende-se muito mais pelos olhos do que pelos ouvidos”. Lojistas das imediações têm muitos casos arrepiantes para contar, mostrando que a providência divina tem tido trabalho por ali. Tomara que ela não se extenue a ponto de precisar de uma folguinha. Na segunda-feira, 3/12, eu testemunhei um desses casos. Mais até, fui parte integrante. Aconteceu que eu voltava de moto do Colégio Batista, onde tinha ido buscar meu filho, mais ou menos às 17h. Ao curvar à direita, em direção a Bom Jesus do Norte, o susto: um casal de idosos no meio da pista, em frente à Ótica Art Visão, com um ricto de pavor frente ao meu pequeno veículo ficou alguns segundos imobilizado ali, na contramão, atrapalhando o tráfego, estático, confuso pelos reflexos já há muito tempo incompatíveis com a pressa humana, sem saber se terminava de atravessar ou se voltava.

E eu parado, aguardando a decisão, correndo o risco de ser abalroado por trás naquela confusão de carros grandes e pequenos, bicicletas, gente, motos…, até que no cada um por si e Deus por todos, o velhinho resolveu voltar e sua companheira seguir, ou vice-versa – inteiramente aparvalhados, via-se nos semblantes. Mas sãos e salvos, haja adrenalina e coração!

Não sou engenheiro, então será perda de tempo me consultarem para o serviço completo, o que eu faria com prazer se qualificado fosse, e de graça. Mas me parece que o caminho das pedras começa no estabelecimento de mão única na Ten. José Teixeira para os veículos procedentes da ponte, sentido Bom Jesus do Norte, em direção ao Hospital São Vicente de Paulo. E também campanhas de conscientização, de orientação principalmente ao pedestre e ao ciclista, bem como fiscalização, multas a quem não obedecer às regras do trânsito, essas coisinhas que causam pruridos nos políticos, mas que são imperativas para a segurança.

Que a modernidade dê o ar de sua graça, esta teimosa que em alguns casos — mormente no setor público — ignora solenemente Bom Jesus desde priscas eras que bem longe vão e já se tornou crônica, ridícula e vexaminosa, entra ano, sai ano, entram eleições, saem eleições.

Publicado em dezembro/2007

Trânsito precisa ser reformulado em Bom Jesus do Norte

Bom Jesus do Norte tem crescido de forma vigorosa nos últimos anos, mas sua estrutura viária pouco mudou. O comércio da cidade serve como parâmetro para aferição desse crescimento, significando que as atividades socioeconômicas no município foram dinamizadas, resultado natural de mais pessoas morando, circulando e fazendo uso dos espaços públicos. Seria desejável a estrutura do trânsito seguir a tendência de crescimento e modernidade, mas isso ainda não acontece por aqui. Sua avenida principal continua a receber a esmagadora maioria do fluxo da mesma maneira que em meados do século passado, quando o lugar era um pequeno e acanhado distrito e os poucos automóveis existentes, luxo de grã-finos que se deslocavam numa ruela de terra batida.

Em muitos trechos da avenida os pedestres são obrigados a disputar com os carros a pista de rolamento, porque as calçadas ou estão obstruídas ou inexistem. Outro ponto que congestiona e fica perigoso é na altura da área de lazer devido ao intenso movimento: trailers, parques e circos ali instalados atraem grande número de pessoas e de veículos, tornando difícil o tráfego em mão dupla, principalmente nos finais de semana.

No seu programa de governo para a gestão 2005/2008, o prefeito Ubaldo Martins disse que vai promover uma completa reformulação e modernização do trânsito, e certamente ele transformará a avenida principal em mão única. E tanto melhor se essa reformulação vier o quanto antes, pois da maneira como está não apenas potencializa o risco de acidentes, mas deixa a desagradável sensação de desordem, de provincianismo na má palavra, ofuscando as outras importantes conquistas públicas e privadas que a população vem gradualmente desfrutando.

Publicado em novembo/2005

Sem arcanjo e sem trombetas “…prevejo dias com o ventre da Terra à mostra, céu sem sol, chuva de bosta…” – Zé Ramalho

É mundialmente corrente a voz de que a Terra, quando destruída, terá sido num átimo, com o toque de dedos em dois ou três botões. Para quase sete mil pessoas que conheceram o pavor nas torres do World Trade Center, número este de aterrorizados que se pode elevar à quarta ou à quinta potências a se considerar filhos, esposas e maridos, pais, demais familiares e amigos das vítimas, que igualmente viram fenecer a vida, os toques dos dedos teriam sido melhor. Sete mil pessoas, seus ascendentes e descendentes, grosso modo a população inteira de Bom Jesus do Norte, de forma direta, e bilhões de seres pensantes sensíveis, que ainda reservam espaço para a piedade nos corações e nas almas, viveram um pesadelo que seguramente mudará o curso de suas vidas.

O que se pode tirar de útil dessa carnificina, dessa comoção interplanetária? De que serviu o sacrifício dos mártires do WTC e o de nossas consciências machucadas, atordoadas, da nódoa que se perenizará na história da vida humana na Terra por todos os séculos e séculos sem amém? Para os norte-americanos e simpatizantes nem mesmo o sabor da desforra, porque esta não subtrairá grande coisa de um inimigo que faz da própria morte a razão de viver. Por ironia, é provável até que a fanática teocracia da qual Osama Bin Laden é um de seus expoentes máximos tenha planificado esse desfecho final como a apoteose de seus planos, no qual os atentados não encerraram em si o objetivo maior, que seria o expurgo de existências atormentadas num sistema econômico e social ditado pelo que consideram como o Grande Satã. E essa espécie de solução final pode ter sido engenhosamente planejada para ser executada à expensa do próprio adversário cego de cólera e sedento de sangue, que moverá as peças do intrincado jogo exatamente na direção de seus objetivos.

Se essa hipótese é verossímil porque pode ter tido a iniciativa de quem desmistifica a morte e torna sem sentido as palavras imprevisível e imponderável — nada mais será — então por que fazer o seu jogo? Por que não mobilizar tamanho esforço e recursos para desfazer justamente as diferenças que levam a essas reações tresloucadas, na tentativa de restaurar o prazer da vida e da contemplação? Essa magnífica metamorfose, que teria como pedra filosofal a eliminação da opressão de todas as naturezas, em especial a econômica em todos os quadrantes é a única possibilidade de o Planeta não se tornar inóspito bem antes do que se imagina, porque se a fé numa divindade pode ter consequências de tamanha destruição, a falta dela pela sucessão secular de desesperança, de injustiça e de fome pode trazer danos e sofrimentos ainda maiores.

Que não seja preciso acionar os botões! Assim como Hollywood viu agora esgotadas as inspirações mais delirantes, é lícito acreditar em roteiros amenos também para a vida real, em que os valores como a moral, o respeito e a fraternidade sejam realçados em sobreposição à decadência do hedonismo, da empáfia e da ambição desmedida e criminosa. Quem tem fé, reze. Em nome dos mártires inocentes estupidamente interrompidos em seus sonhos e em seus projetos; em nome dos que estão na iminência de perdê-los e por nós todos, uma geração fadada a promover o retorno glorioso da era medieval e do primitivismo dos instintos se não puder contar com uma força superior que a guie pelas veredas do amor e da consciência.

Publicado em setembro/2001