Aqui eu guardo meus escritos.

Obrigado pela visita.

Papiro teria indicado que Jesus Cristo foi um homem casado; nada demais, se tivesse sido

 

Sou contra o celibato de líderes religiosos. Se tiver de me aprofundar na doutrina, nos conceitos que a Igreja tem para defender este comportamento radical e milenar, poderei ser ridicularizado porque não tenho capacidade intelectual para isso. Valho-me apenas da lógica, da racionalidade: se o padre é um ser humano, por que lhe negar exercer instinto tão humano como o da relação sexual? Principalmente se tal relação esteja em consonância com a ética, com os costumes, afiançados, atestados pela própria Igreja na instituição do casamento, que mal haverá?

Eu até escrevi um texto a respeito, na ocasião em que, aqui mesmo, em Bom Jesus, um padre teria caído na tentação da carne. E principalmente após vir à tona os escândalos de pedofilia na Igreja, o celibato tornou ao cenário da polêmica. Até mesmo Jesus Cristo, segundo Karen L. King, historiadora da Universidade de Harvard, teria sido casado, fato que, segundo ela, é comprovado num papiro do século IV.  Foi o que bastou para o criativo cartunista Nani criar a charge engraçada.

Publicado em maio/2013

Sou liberal, progressista, esquerdista, centrista, direitista, tradicionalista, conservador, com muito orgulho, com muito amor…

 

Um leitor me acusa de ser reacionário, conservador; de que sou uma espécie de carpideira da ditadura dos generais; de que sou um imperialista que derramou lágrimas de sangue pelo recente falecimento de Mrs. Tatcher — a Dama de Ferro; de que não vejo a hora de Fidel se encontrar com o Tinhoso, e tive orgasmos múltiplos quando Chávez o fez; de que sou um preclaro direitista, antiliberal, e acusações outras.

Tolinho! Eu não passo de um pobre-coitado carente de ideologia (queria uma pra viver). Como estou me referindo a ideologia política, e como quem as tecem são os líderes políticos, querem ver como é difícil achar uma para encostar o esqueleto carcomido pelo tempo? Por exemplo: algum bom-jesuense pode apontar um político contemporâneo da terrinha, unzinho só e dizer: aí está um exemplo de idealista? Um homem ou uma mulher nos quais se pode observar princípios claros, valores transparentes? Que sacrifiquem uma eleição se tiverem de ganhá-la com acordos espúrios, incompatíveis com seus conceitos e referenciais de vida?

Se o político A é inimigo figadal de B (inclusive no aspecto doutrinário), mas se a união de ambos for interessante personalisticamente para os dois, alguém duvida de que se unirão? Não aposto uma mariola mordida! Aliás, vejam as últimas eleições por estas bandas. Em nível nacional, Fernando Collor, quando em campanha em 1989, dizia ser a primeira coisa a fazer ao conquistar a Presidência era mandar prender o antecessor, José Sarney. Vejam na foto que cena comovente do “prendedor”, à esquerda, e do “prendido”, hoje.

Pelo bem da nação, um não prendeu o outro
Se alguém tivesse sido conservado em criogenia logo após ter ouvido a ameaça do antigo “caçador de marajás”, de que não só iria prender Sarney, como também raspar seu indefectível bigode, e esse alguém entrasse na contemporaneidade depois de ser descongelado, poderia até pensar que a vestal Collor, na foto, estivesse confabulando com o facínora arrependido, depois que este purgou, pela lei dos homens, todos os seus pecados. Voltaria instantaneamente para o gelo químico logo que conhecesse a realidade!E tantos outros casos, que quem quiser pesquisar na Internet encontra à mancheia, como a do próprio Lula, que vivia “combatendo as elites” e os “imperialistas”, mas se encantou com um daqueles “bichos” que mais combatia. O multimilionário legítimo exemplar da elite, o ianque empedernido, fã de carteirinha do verde-oliva e dos coturnos, Paulo Maluf, procurado pela Interpol em 186 países onde será preso se desembarcar nalgum deles, virou amigo do ex-presidente, assim, tipo unha e carne, vejam a foto.

Pois é. O tal do pragmatismo foi comendo, de forma voraz e inclemente, tal como aquele joguinho Pacman, os fundamentos filosóficos da política. Acaso temos direita aqui no Brasil? Esquerda? Centro? Não há nada disso, gente, apenas interesses muitíssimo bem orquestrados. Agremiações políticas de há muito perderam a aura romântica de serem representativas de uma causa. Nesse estado de vazio ideológico, as críticas e (vá lá) os elogios são direcionados aos agentes, e não ao que inexiste, é óbvio.

Apegado aos rótulos, às nomenclaturas remanescentes apenas como referências, quem me acusa de estar ao lado direito de Deus Pai (acredite, leitor, os comunistas de hoje comem hóstias e fazem o Sinal da Cruz três vezes ao dia) considera-se certamente um esquerdista. Não é não, sinto dizer que você também não tem uma ideologia pra chamar de sua. Você, amigo, embora bem-intencionado, é apenas mais um figurante, como eu, da tragicomédia brasileira.

E vamos combinar: eu sou o início, o fim e o meio, como cantava Raul.

Publicado em setembro/2013

A superficialidade nossa de cada dia nos dai hoje

Se alguém não sabe, a palavra “eufemismo” traduz um tipo de linguagem mais suave, agradável, que substitui outra considerada rude, desagradável. “Falto com a verdade”, é eufemismo de mentiroso, assim como ladrão é “apropriador de bens alheios”; e por aí afora. O tal do “eufemismo” juntou-se com a má companhia do “politicamente correto” e desgraçou a sair distribuindo por aí nomenclaturas: negro deve ser chamado de “afrodescendente”; gay passou a ser “homoafetivo”; deficiente é “portador de necessidades especiais”; doméstica é “secretária, ou auxiliar de serviço do lar”; prostituta é “profissional do sexo”; faxineiro é “supervisor de higiene”; mendigo se transformou em “vivente da caridade alheia”; “limitado” substitui incompetente; craque em algum esporte passou a ser “jogador diferenciado” (aqui, aliás, nem entendo, já que chamar um cara de craque não soa desagradável); “ele, calado, é um poeta!”, diz-se de alguém inoportuno, ignorante, enjoado; “interrupção da gravidez” no lugar de aborto; mãe solteira virou “chefe de família monoparental”; criança levada, desobediente, bagunceira, virou “hiperativa”; velho passou a ser cidadão da “terceira idade” ou, pior, da “melhor idade” (dose elefantina!) e coisa e tal.

Dia destes estava escrevendo uma matéria sobre um grupo de gestantes. Na programação, em meio a palestras e atividades integracionistas para aquelas pessoas simples, lá estava a expressão indefectível: tal hora, “coffee break”. Coffee break, viram jovens senhoras, como vocês são chiques? Não, não. Pausa para o lanche, ou em tradução literal “para o café”, não pode. Vocês provavelmente se sentiriam ofendidas se um burocrata qualquer as julgassem gente comum, que apenas lancha. Ao contrário, vocês “degustam”, com aquele gestual fino como o de esposas de lordes ingleses, um suculento “coffee” no decorrer da “break”.

O problema aqui é que os burocratas são tão superficiais que, ao as enganarem com as mesuras falsas como uma nota de 3 Reais, esqueceram de lhes ensinar-lhes a traduzir “coffee break”. Pensando bem, esqueceram coisa nenhuma. É proposital. Sabendo traduzir, interpretar a informação, vocês saberiam também traduzir, interpretar que a única coisa que interessa a eles é o seu voto.
A fabricação de eufemismos também se faz em língua estrangeira, como o tal do coffee break. Mas há também o cara viciado em trabalho, antigamente denominado “caxias” (que já era um eufemismo), e passou agora a workaholic; diretor ou executivo de uma empresa, virou CEO (Chief Executive Officer), coisa e tal. Falácia e sofisma são outras palavrinhas muito em voga. Traduzem embuste, logro, falsidade. E nossos políticos adoram. Pensando nisso, alguém criativo bolou uma tabelinha para facilitar a vida desses políticos, que não mais precisam queimar neurônios para falar bonito ao povão de olho rútilo e lábio trêmulo de emoção ao ouvi-los.

Basta a ele, político, escolher ao acaso uma frase da 1ª coluna, emendando com outra da 2ª, com outra da 3ª e outra da 4ª. Segundo o cara que bolou a tabela, são mais de 10.000 combinações de falas para um discurso belíssimo, embora vazio como os originados nas sinapses próprias. Vejam como é simples: pensando nos nossos políticos aqui da região, eu peguei a 3ª frase da 1ª coluna; juntei com a 5ª da 2ª coluna; com a 6ª da 3ª e com a 7ª da 4ª. Olha que lindo discurso: “Não podemos esquecer que/o desenvolvimento de formas distintas de atuação/facilita a definição/das condições apropriadas para os negócios. Se me acusarem de estar pensando em “negócios” particulares, eu nego. Ene é gê ó – NEGO!

E quando eu “partir desta para melhor”, “comer capim pela raiz”, “esticar as canelas”, “vestir pijama de madeira”, “empacotar”, “morar na cidade dos pés juntos”, “bater as botas”, acrescentem este eufemismo: “foi denunciar a Camões o que estão fazendo com a língua portuguesa.”

Publicado em junho/2013

Respondo a quem me acusa de denegrir minha cidade

Sobre dois posts que fiz (aqui e aqui) sobre a falta de gaze nas unidades de saúde de Bom Jesus do Norte/ES, um internauta anônimo disse que o problema da saúde pública é nacional, e que eu deveria ressaltar mais as coisas positivas do lugar em que nasci e no qual vivo. Esse intrépido leitor deve ter feito uma leitura superficial dos meus posts, não percebendo que inclusive ressaltei que a falta de gaze (aspecto superficial do câncer de carências) não é prerrogativa só de Bom Jesus.

Quanto a enaltecer as coisas positivas, aqui temos, como em todo lugar, fatos bons e ruins, feiura e beleza, atitudes louváveis e censuráveis, gente boa e gente má, gozo e dor, preto e branco, crente e ateu, redondo e quadrado, reto e curvo, perfume e catinga, duro e mole, etc. Só mais uma coisa: o leitor não devia, penso eu, se aboletar nos desvãos profanos da acomodação e resignar-se na generalidade, dobrando os joelhos para “isso é Brasil”, “não tem jeito”, “em todo lugar é assim”, e coisa que o valha.

Não é necessariamente assim, não. Se Bom Jesus quisesse — ou melhor dizendo com todas as letras: se a administração pública tivesse vontade e disposição — poderia ser apenas o único dos mais de 5.500 municípios brasileiros onde jamais faltaria gaze nos postos de saúde. A propósito, redigi textos abordando justamente a questão da centralização do poder em Brasília, e que os prefeitos não são eleitos apenas para assinarem papeis de convênios e parcerias.

Assim é muito fácil. Ser muito bem remunerados apenas para servirem de ponte entre os recursos e as benfeitorias? No caso em questão, por exemplo, por que esperarem sentados na sala refrigerada os recursos para a gaze, podendo levantar os traseiros e saírem em busca dos paninhos furadinhos baratinhos para rimar bonitinho? Se houvesse vontade, comprometimento com o povo sofredor, garanto que surgiria uma equação para a busca de recursos alternativos!

Em tempo: O marketing político chega às raias do ridículo. Dia destes houve um evento aqui em Bom Jesus para as gestantes. No programa constou, entre outras atividades, COFFEE BREAK.

Pausa para o café, ou no caso, para o lanche, traduzindo. Até redigi um texto sobre tão fidalga nomenclatura a contrastar escandalosamente com a pobreza que nos assola. Isso foi bolado certamente por um plutocrata habitante da Ilha da Fantasia brasiliense, rodeada de Brasil miserável por todos os lados.

Aqui as futuras parturientes desfrutam de coffee break mas não têm gaze para os curativos!

Publicado em julho/2013

Em Bom Jesus do Norte não há gaze para curativos, mas na Arena Pernambuco tem até Listerine para a galera

 

Minha irmã Rita de Cássia (com a filha Priscila, na foto), que passa uma temporada em Recife, foi conhecer a Arena Pernambuco e torcer pelo Taiti, no dia 23/6, com sua filha Priscila, onde viram os ilhéus perderem para o Uruguai por 8 x 0. Segundo ela, a Arena é realmente belíssima, majestosa, nababesca.

— Zé, meu irmão, até Listerine tem nos banheiros! — disse ela com todos os pontos de exclamação.

Voltando no tempo, eu presenciei inúmeros jogos memoráveis no velho Maracanã. Entre centenas deles, a decisão do Brasileiro de 1980, quando o meu querido Urubu papou o Galo à moda da casa, e em 1983, quando devorou o Peixe à “estabefe” na conquista do tri. Em 1980, eu e o mano Eduardo compramos os ingressos de arquibancada com antecedência, mas cometemos o grave erro de no dia do jogo ansiosamente aguardado ficarmos prelibando umas e outras por demasiado tempo num barzinho nas imediações do “Gigante do Mário Filho”.

Às 16 h (o jogo começou às 17), quando aos trancos e barrancos entramos no estádio bufando de gente, já não havia um centímetro quadrado de espaço no lado reservado à torcida do Flamengo. Fomos obrigados a ficar no do Atlético, mesmo assim imprensados de tal maneira, que uma bunda tinha de caber em 30 cm. Euforia total, mas mesmo com a ebulição etílica, não nos escapou a prudência de fingir que torcíamos pelo Galo. Mó derrota, como se diz hoje em dia.

Eis que a paixão que tem razões que a própria razão desconhece, quase que nos encomenda ali mesmo ao Padre Eterno. Quando Nunes abriu o placar, dois babacas ensandecidos se lançaram no ar de punhos cerrados, gritando a plenos pulmões em meio a uma multidão de gente sentada, caras de decepção e de poucos amigos. Farejando o perigo, eu e meu irmão, com aquele semblante de condenados à morte, gritamos em uníssono como se tivéssemos previamente ensaiado: Nãããooo. Gol do Flamengo, nãããooo. Zorra. Baralho. Tomate cru. Ponte que caiu.

Mas não teve jeito, e de certa forma demos sorte, porque a turba enfurecida nos pegou e arremessou ao léu, no ar, como estivadores em fila passando de mãos em mãos sacos de aniagem de 70 kg cada um, até que adentramos o navio, digo, à nossa torcida. Aí, claro, fomos recebidos com hospitalidade, e como num gigantesco coração de mãe, conseguimos, Deus sabe como, um espaço para terminarmos de assistir ao jogo, ganho espetacularmente por 3 x 2 (detalhe: ao Atlético, bastava o empate).

Em 1983 a falta de grana é que nos pregou uma peça. Nojenta, catinguenta, diga-se. Quando logramos reunir o necessário, já era dia do jogão, e tudo o que conseguimos foram três ingressos para a geral, ainda assim das mãos de cambistas (nesse dia um outro irmão, Tadeu, estava junto). Fomos de “geraldinos” mesmo (o comentarista de rádio, Washington Rodrigues, dizia que “geraldino” era usuário da geral, que assistia aos jogos em pé, e “arquibaldo”, de arquibancada, sentadinho no concreto armado). E lá embaixo ficamos à mercê dos arquibaldos em cima, e de seus copos descartáveis de chope, que também serviam de mictório. Cruz em credo, sabem onde os fdp esvaziavam os ditos-cujos cheios de urina? Sim, nas nossas cabeças!

Nada, porém, foi capaz de tirar a alegria dos três gols a zero implacavelmente enfiados nas redes santistas por aquele time de pura magia de Zico, Leandro, Adílio, Andrade e do maestro Júnior! (O Flamengo precisava vencer por dois gols de diferença). Hoje, minha irmã tem o prazer de assistir a um jogo em cadeiras numeradas e perfumar a boca com Listerine nos banheiros da Arena. Impossível ficar espremida como sardinha em lata, e tomar banho de urina, never forever. Enquanto isso, a Saúde Pública brasileira é a desgraceira que vivenciamos dia a dia. Aqui em Bom Jesus do Norte sequer há gaze para curativos nas unidades de saúde. E não é prerrogativa somente da minha cidade. Neste país de incríveis contrastes, a massa nos estádios de futebol exala hálito coletivo perfumado por Listerine, enquanto a massa doente exala o bafo pútrido oriundo da sacanagem política!

Mais incrível é a incapacidade dessa ralé incompetente e arrogante sair do transe em que se faz aprisionada pelo marketing mentiroso, de modo a entender as razões de tão gigantescas manifestações, como as de junho. Patéticas, humilhantes, vergonhosas as caras de espanto dos ladravazes da dignidade e da esperança.

Publicado em julho/2013