Aqui eu guardo meus escritos.

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Bonjesino e a passarela

Bonjesino é crédulo ao extremo, ingênuo, de boa índole, otimista convicto e nutre profundo amor por Bom Jesus. Mulato de quase dois metros de altura, pesa uns 120 quilos. Mas esta enciclopédia de músculos só atemoriza quem não conhece a mansidão de sua personalidade, que só altera perigosamente quando alguém ousa criticar os políticos do lugar. Estes são amados, idolatrados e defendidos com unhas e dentes por Bonjesino. O ciclope acredita piamente nas promessas e na retórica lapidada de quatro em quatro anos. E ai de quem ousa criticar seus políticos.

Ainda que não careça de temer as vias de fato, só o susto da voz tonitruante e do esgar de indignação do brutamontes é capaz de matar alguém de infarto. Hoje Bonjesino fala da passarela (ligando o Bairro Silvana, em Bom Jesus do Norte, ao Lia Márcia, em Bom Jesus do Itabapoana), obra que o bom-jesuense dos dois lados aguarda desde priscas eras que bem longe vão (e bote priscas nisso). Desde criança de molhar as calças eu comecei a contar umas 20 pedras fundamentais diferentes, lançadas por 20 políticos diferentes, em 20 eleições diferentes para a construção da passarela. Mas agora Bonjesino diz que vai. Imagina com riqueza de detalhes a entrada triunfal da prefeita Daisy, de Bom Jesus do Norte, ao encontro do seu colega Carlos Garcia no dia da inauguração da passarela. Quase chora de emoção quando, no auge da fantasia, vislumbra os dois se cumprimentando efusivamente no centro dela em meio a fanfarras e fogos de artifícios.

Ele sente que há grande vontade política de ambos os lados, até porque conhece várias cidades com necessidade semelhante, onde os dirigentes disponibilizaram as obras para os seus, talvez até com menor poder econômico. Desta vez está certo que o assunto não vai virar letra morta, pois entende que o maior entrave não é tão grande assim, já que cimento e ferragem são materiais muito em conta. Além disso, com sua boa índole e arraigado regionalismo, julga que todos são iguais a ele, e entra em devaneios:

— Sabe, chefia, aposto que os assessores da vereança do lado mais rico contribuirão com uma vaquinha.

— Hein?

— Isso que você ouviu. Sei que eles ganham o salário com muita dedicação, sangue, suor e lágrimas, mas acima de tudo amam o lugar em que vivem, da mesma forma que os vereadores, seus patrões.

— Nisso você tem razão, Bonjesino. Amam mesmo.

— Sem ironia, chefia. Quer saber? Os vereadores de ambos os lados têm trabalhado tão intensamente em prol da obra…

— Ô, sem têm…

— Nunca pensam apenas em si próprios, por isso vão colaborar…

— Ô, se vão…

— Nossos prefeitos, então, quase não dormem, tamanha a preocupação em viabilizar a passarela.

— Ô, insônia…

— E tem mais, homem de pouca fé. Esse seu Ô vai virar Ah…, de admiração, principalmente quando construírem a terceira ponte…

— Ô…, digo, Ah…, Bonjesino, vá plantar batatas, encerrei o colóquio já a uns 100 metros do gigante, preparando-me para engatar a quinta marcha.

Publicado em fevereiro/1999

Duelos em Itabapoana Valley – a saga continua

As próximas elections para prefeitos em Itabapoana Valley prometem. Mocinhos e mocinhas azeitam Colts, Smiths & Wessons e Winchesters, lustram botas e esporas, reformatam chapéus de cowboy, cosem espartilhos e vestidões vaporosos. Preparam-se o melhor que podem para enfrentar o duelo que se anuncia encarniçado, sanguinolento.

Em Good of the North Jesus dão-se como certos tree contenders. Os que desconhecem o modus faciendi (uma pitada de latim no portinglês, eh, eh,) do clã Umbert Mess podem prever four contenders, se considerarem um provável racha no seio da traditional family e esta se fizer representar por two candidats: o jovem Mark Mess, filho de Umbert, e Ubald Sea Tins, brother, tio de Mark. Mas é tolice dar isso como certo, já que eles podem até guerrear entre si nos bastidores, fazer ameaças veladas ou reveladas de rompimento, but no end unem os laços e saem juntos à caça dos electores. Assim, vislumbro o seguinte cenário nas pradarias de Good of the North Jesus: Mark Mess or Ubald Sea Tins, de um lado; de outro, Doctor Ad Masterson, que tentará se reeleger; e um terceiro, que assim de longe não consigo visualizar. Será woman? Talvez, quem sabe. Aqui no condado não há quem desconheça o gatilho eficaz de Silvie Regine. Mas também pode ser outro man, probably o atual vice Pedro Keys, também um eficiente pistoleiro.

Em Good the Itabapoana Jesus, White Mott, a xerife atual, é candidatíssima à reelection, objetivo que a levará, probably, a ter de duelar com Paul Ciryll (se este contar com a mira providencial de um judge qualquer para romper a corda que o tornou inelegível.) Terá de enfrentar também Sam Júnior, armado até os dentes, e provavelmente até o velho pistoleiro Paul Port, que alguns apostam tentará um retorno triunfal. Ali a escaramuça deverá se revelar de maior ferocidade porque dois dos mais temidos valentões do velho Sudeste travarão uma guerra particular, embora indireta. Inimigos figadais (não errei. O termo não é fidagal, de fidalgo, mas figadal mesmo, de fígado. Aprendi lendo Augusto Nunes, da Veja, que por sua vez aprendeu com aquele que rivalizava com Camões no Português escorreito: o ex-presidente Jânio Quadros).

Mas ia dizendo: inimigos figadais, é bem provável que o governor Serg Cab All e o ex-governor Anthony Little Boy municiem com enorme generosidade seus pupilos White Mott e Paul Cyrill, respectivamente.

San José del Calçado deverá ter o atual Joseph Carl duelando com o anterior do anterior, Jeff Spad Bulls. Ali, a tarefa de ambos pode ser considerada mais tranquila porque provavelmente não haverá o terceiro, que muito provavelmente seria fatal a ambos: o perigoso Warley Lobo Texan, assassinado, diz a Justice, a mando do anterior, Blue Eyes All Mars. Digo perigoso porque Warley era uma raposa política, sujeito inteligente, determinado. Não por acaso tinha o sobrenome Lobo, e estava caindo de maduro para exercer o principal cargo executivo da bela San José.

Betin the Kid, o atual de Apiacá City, sempre se revelou um pistoleiro implacável, bom de briga. Seu adversário no duelo anterior, Keres Joseph, que o diga. Este não perdeu a contenda no tempo regulamentar daquela guerra feroz por milagre. Porém, não resistiu à terrível investida na prorrogação, quando Betin the Kid desferiu um tiro mortal ajudado pela mira telescópica da Electoral Justice. Mas para alguns correligionários, Betin mudou-se para a região mais povoada da alma, que é a ingratidão. Inclusive seu vice, Carl Magnum Oliver, vulgo KK (Kid Killer), teria rompido relactions e deverá ser o seu mais ferrenho contendor na disputa. Desconheço se haverá um terceiro duelista em condições de sacar com um mínimo de agilidade naquelas paragens.

Summary of the opera: a briga vai ser boa. Depois, é torcer para que os vencedores aprimorem os espíritos beligerantes para enfrentarem desafios ainda mais ousados, que são os big problems que afligem os moradores de Itabapoana Valley.

The guns is on the table.

Publicado em novembro/2011

Bonjesino “filmou” a terceira ponte em Bom Jesus. Coisa realmente de cinema!

Bonjesino é uma figuraça, inclusive no sentido real do termo, isto é, grande também no físico. A começar pelo nome, pode-se notar seu profundo amor por Bom Jesus, tanto por uma cidade quanto por outra, que seu enorme coração não delimita. Ingênuo, otimista extremado, jamais ele duvida das boas intenções dos políticos da terrinha, e até briga quando alguém ousa questionar essa ou aquela atitude, esse ou aquele procedimento, tais e quais disposições de espírito.

Não posso afirmar categoricamente, mas a Passarela da Amizade, que une as duas Bom Jesus teve o dedo de Bonjesino. Antes de inaugurarem a dita-cuja no ano da graça de Nosso Senhor de 2000, virada do milênio, ele vinha enchendo a paciência do então prefeito de Bom Jesus/RJ, Carlos Garcia, e da de Bom Jesus/ES, Daisy Batista, desde que assumiram a chefia executiva de seus respectivos municípios, em 1997. Quero dizer, enchendo a paciência no bom sentido. Garcia e Daisy podem ter enjoado daquela conversinha malemolente de Bonjesino, carregada de otimismo e de fé nos seus dirigentes. Entre as muitas encheções de saco, uma vez saiu-se com esta:

— Sabe chefia, já estou todo arrepiado só de pensar na entrada triunfal de nossos dirigentes, cada qual do seu lado se encontrando no meio da passarela para aquele abraço fraterno em meio a fanfarra e fogos de artifício no dia da inauguração. Sei que isso vai ocorrer muito em breve porque conheço várias cidades, com necessidade semelhante, onde seus prefeitos disponibilizaram numa comovente união as obras que nem são tão caras, já que cimento e ferragem são materiais muito em conta. Olhem que Bonjesino me disse isso, em fevereiro/1999, quando sequer a pedra fundamental da Passarela havia sido lançada. E não é que ele agora está com novidades mais arrojadas, com expectativas mais ambiciosas?

Há muito tempo não o via, mas hoje matamos a saudade.

— E aí, chefia, quanto tempo, né?

— Oi, sumido. Por onde tem andado?

— Fiquei na moita, chefia. Um longo tempo desfrutando tudo de bom que as nossas cidades de Bom Jesus têm proporcionado para nós.

— Tudo de bom?

— Não vejo nada errado. Esse povo é que gosta de reclamar.

— Tem razão, Bonjesino, isto aqui mais parece o Jardim do Éden.

— Não gostei da frase irônica, chefia.

— Desculpe. Jardim do Éden…, exagerei. Nem temos jardins…

— Você não tem mesmo jeito, chefia. Fica aí teclando, teclando, e só sai crítica.

— Fazer o que, se moro em lugar diferente do seu…

— Você é um caso perdido. Vai dizer até que não sabe que nossos prefeitos estão deveras preocupados com o trânsito em nossas cidades?

— Não diga, Bonjesino. É mesmo?

— Garanto.

— Mas rapaz, isso é uma ótima notícia. Enfim deram-se conta de que mais um pouco e o trânsito dá um nó completo, principalmente quando fecham ruas para alguma coisa, quando a ponte velha fica parecendo uma sorumbática miniatura da Rio-Niterói em véspera de feriado prolongado?

— Mais, chefia. Vão construir uma terceira ponte.

— Jura?

— Ligando o Bairro São João, no ES, ao Pimentel Marques, no RJ, completou.

— Que notícia auspiciosa, Bonjesino. Já não era sem tempo. Vai ser mel na sopa. Sérios problemas viários solucionados a um só tempo.

— Lembra da Passarela? Eu não disse que nossas autoridades eram competentes, sensíveis e convergentes àquela necessidade recíproca? Batata!

— Antes tarde do que nunca…

— Agora é a ponte, chefia. Olhe pros meus braços.

— Arrepiados de novo?

— Emoção pura. Igualzinho da outra vez. Veja aqui a cena, chefia.

— Aqui, onde?

— Nos meus olhos.

Que cena deslumbrante, deixem-me descrevê-la! Há muita gente, de ambos os lados. Fogos pipocam. Com o porte solene característico, o prefeito de Bom Jesus/ES Dr. Adson encaminha-se com sua comitiva em direção ao lado fluminense. Em sentido oposto vem a prefeita Branca Motta, também acompanhada de s entourage.

Fortes abraços e apertos de inúmeras mãos inspiram-se no brilhante resultado do esforço hercúleo das duas prefeituras em resolverem os problemas iguais.

Depois a câmera volta-se para outras cenas.

Ruas de ambas as cidades sem buracos, pavimentadas, sinalizadas, ajardinadas. Coisa de primeiro mundo!

– E aí, chefia?, acordou-me o ciclope.

– Gostei, rapaz. Muito legal. Quando será?

– Breve. Muito em breve. Até os vereadores das duas cidades se engajaram nesse projeto. Estão dando a maior força. Pensa que eles ficam lá nas suas câmaras só dando votos de pesar, condecorações e escolhendo nomes de ruas? Na, na, ni, na, não. Trabalham pra valer, chefia!

– Sei… Chegaram ao ponto de se unirem para soluções de problemas comuns?

-Pode crer, chefia. E vai logo preparando um texto para publicar depois da inauguração. Vê se elogia pelo menos uma vezinha…

– No inferno ou no purgatório tem computador, Bonjesino?

– Fez bem em esquecer do céu, chefia. Você não tem mesmo vez na Casa do Senhor. Passar bem.

Autor: José Henrique Vaillant – Publicado em junho/2010

Bate-papo canino no Bairro Belvedere; em Bom Jesus, animais de rua são um problema sério e crônico

Bairro Belvedere, Bom Jesus do Norte. Duas cachorras conversam numa rua perto da praça no início de uma noite de abril deste ano:

— Viu o susto que dei naquele cara da moto, o redator da Revista Status?, pergunta uma das cadelas, de um marron forte, bonitinha, toda felpuda, ao lado da ninhada de uns 5 ou 6 filhotes.

— Vi, latiu a outra, velha do vento sul, de cor branca com tonalidades cinza-avermelhadas devido ao pelo encardido e as inúmeras bicheiras. — O cara caiu, não foi?

— Caiu, responde a marronzinha. — Em câmera lenta, mas caiu. Eu persegui com latidos tão bravos que ele se assustou. Ao desviar de um de meus filhotes, a moto parou repentinamente e ele não conseguiu segurar. Foi despencando devagarinho.

— Au, au.

— Nem machucou muito — comenta com pesar a marron. — Apenas uma contusão no tornozelo. Mas ele ficou bravo…! Escapei por pouco. Pena que nenhuma autoridade tenha visto a pedra que ele arremessou em mim. Se pega… Você não acha que o cara merecia ser processado por maus-tratos aos animais?

— Você é tão hipócrita… Assusta o homem e ainda quer que ele seja processado. E faz-me rir ao falar de autoridades. Já viu alguma por aí?

— Tem razão, vivemos no paraíso. A propósito, sinto arrepios quando lembro da estória que o Killer me contou.

— Killer?

— Não conhece? Aquele pit bull lindão que anda sem focinheira com o dono, amarrado numa cordinha fina…

— O que estraçalhou uma menininha no Bairro Silvana?

— Não, sua tonta. Aquele é o Krueger, que o próprio dono matou a pauladas, não lembra?

— Ah, tá. Killer. O novo cara do pedaço.

— Ele me disse que na cidade de onde veio, “gente” como nós não pode ficar vagabundando pelas ruas. A carrocinha é o maior terror. No canil público, depois de um tempo sem uma alma misericordiosa para adoção…, zás, adeus viola.

Nessa altura entra na conversa o Costelinha, um esqueleto andante em forma de cachorro:

— Ei, meninas. Viram o Félix?

— Passou aqui agorinha, miando como um louco atrás de comida.

— Até mais ver — despediu-se a múmia canina, saindo em desabalada carreira.

— Por que o Costelinha está com pressa?, pergunta entredentes a encardida, lambendo sofregamente uma das feridas.

— É que o Félix foi fazer o trabalho…

— Trabalho?

— Se liga, né. Daqui a pouco vai dizer que nem conhece o Félix…

— O gato que vive no Hospital Jamile?

— Esse mesmo. O Costelinha fez uma parceria com ele. Sabe como é, a coisa ta brava, essa fome danada, as tripas finas engolindo as grossas… Ainda mais que algumas pessoas insensíveis com o reino animal, por não terem onde depositar as sacolas de lixo penduram elas em ganchos instalados nos muros, postes, árvores, em vez de deixarem para nós nas calçadas, nos meios-fios. Aliás, o visual ficaria até mais bonito, não é mesmo?

— Já é magnífico como está. Quando o cheiro é forte, então…, uuuhhhnnn…, me dá água na boca. Queria poder pular como gato.

— Matou a charada. Quando as sacolas estão nos ganchos é mais difícil, mas tem gente que não pendura, simplesmente deixa elas soltas em algum lugar mais alto. Na João Ferreira Soares tem até um andaime abandonado que serve para pôr as sacolas. Aí é que entra o trabalho do Félix.

— Entendi. Vão-se os anéis, ficam as patas. O Félix pula no andaime e joga as sacolas no chão.

— Aí o Costelinha deita e rola. Ele adora quando no cardápio tem fraldas descartáveis, daquelas bem recheadas.

— Au, au… Que delícia…

— O Costelinha só lamenta que ao despedaçar as fraldas sempre sobram pedaços que ele não consegue aproveitar. Um desperdício. Às vezes o vento leva os pedacinhos até para dentro das casas de algumas pessoas.

— Humanos não apreciam o manjar…

— Ficam é putos da vida. Só faltam sair dando tiro, que ignorância.

— Mudando de assunto — diz a marron — ouviu o concerto esta madrugada?

— Acordou até defunto.

— Acho que aquela mulher da Sebastião P. Marques tem uns 15 cães em casa.

— Daí pra mais. E a Princesa, a cadela rameira da Lourival Cavichini sabe como provocar. Passa de vez em quando toda posuda, balançando o traseiro para eles. Aquela rua vira a sucursal do inferno para os humanos. Quando ela está no cio, então…, só faltam pular o muro!

— Parece que reclamaram da barulheira algumas vezes.

— Reclamaram. Mas como não mora nenhuma autoridade na vizinhança, ficou por isso mesmo. O concerto está garantido com tenores, barítonos, contraltos, etc. E que gargantas! Pena que o repertório seja tão repetitivo, tem horas que até eu fico cansada com aquele au, au, au infindável.

— Os incomodados que se mudem. Com certeza é o lema da dona dos cachorros.

— O papo ta bom, mas já vou indo. Ta na hora de passar umas motos. Ah, um conselho: deixa de ser burra e ficar correndo atrás de carros, que só vão te dar canseira e aquela cara de buldogue velho desiludido. As motos dão mais adrenalina porque sempre há a possibilidade de ocorrer um tombo…, au, au, au.

— Au, au, au pra você também — despediu-se a velha.

— E uive bastante nas luas cheias, rogando a São Francisco de Assis, nosso protetor, que continue protegendo a gente das autoridades. Vai que elas resolvam ao menos dar aquelas injeções doloridas contra raiva…

Deus nos livre!

Publicado em abril/2010

Minha vida dá um filme

Minha Vida de Cachorro começou quando resolvi entrar para A Gang da Loba e fazer um Assalto ao Trem Pagador, onde despertei As Vinhas da Ira da Loucademia de Polícia por ter praticado o Golpe de Mestre. Depois disso passei a ser considerado O Proscrito, a exemplo de Lampião e Maria Bonita, de Lúcio Flávio – O Passageiro da Agonia e Josey Wales – O Fora-da-Lei. Nem o Batman aliado ao Superman me garantiram salvação.

Entrei  para o Sindicato de Ladrões, pedi ajuda ao Rambo e até O Cavaleiro Solitário se ofereceu, bem como Os 7 Samurais, mas de nada adiantou: continuaram com a Perseguição Implacável que nem mesmo O Predador com sua Bravura Indômita conseguiu impedir. Já estava me tornando um Farrapo Humano quando me pegaram e me levaram para Alcatraz – Fuga Impossível. Lá, conheci Arthur – O Milionário Sedutor, que estava preso por ter corrompido uma menina Bonitinha mas Ordinária. Conheci também Carrie – a Estranha, O Ladrão de Bagdá, o Ladrão de Casaca e alguns gays. Um dos que compunham A Gaiola das Loucas se engraçou comigo dizendo que foi Amor à Primeira Vista, uma Atração Fatal porque Os Brutos Também Amam. Fiquei com forte Desejo de Matar, um Instinto Assassino se apoderou do meu Coração Satânico e aquela parecia A Hora do Pesadelo. Virei O Anticristo que nem mesmo O Exorcista podia encarar. Minha Mente Diabólica tramava um Assassinato a Sangue Frio e eu já pensava em Um Corpo que Cai, porém refleti de como seria O Dia Seguinte, que por certo seria Um Dia de Cão e contemporizei:

— Não sou do ramo, mona. Sou daqueles que deixam Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, tenho Fanática Obsessão por A Dama de Shangai e A Condessa Descalça. Enfim, meu negócio não é Dança com Lobos. Prefiro O Beijo da Mulher Aranha mesmo que seja Atrás da Porta Verde com a Garganta Profunda. Pare com esses Contatos Imediatos do 3º Grau pois poderá se transformar em Uma Cruz à Beira do Abismo e ir para Além da Eternidade.

A moçoila entendeu que devia desistir de um Sonho de uma Noite de Verão. Em seguida me envolvi numa Grande Jogada com Um Assaltante bem Trapalhão, que havia cometido Assassinato no Expresso Oriente. Tramamos uma Fuga Audaciosa pois tínhamos nos tornado Uma Dupla Dinâmica: eu era Um Osso Duro de Roer e ele um Pequeno Grande Homem. Inspiramo-nos em Papillon para nosso Amargo Regresso daquele Inferno na Torre e pulamos no mar, onde fraturei Meu Pé Esquerdo. Mas isso não impediu que nadássemos 20.000 Léguas Submarinas mesmo perseguidos por um Tubarão, pela Fera do Mar e pela Orca-a Baleia Assassina.

Construímos A Nau dos Insensatos para essa Viagem Fantástica, avistamos O Naufrágio do Titanic e conhecemos O Destino do Poseidon. Fomos parar numa praia parecida com A Lagoa Azul e conhecemos Antártida – a Última Fronteira, bem como As Neves do Kilimanjaro. Pegamos carona no SOS-Submarino Nuclear e fomos parar na extinta União Soviética, onde aproveitamos para conhecer Os Girassóis da Rússia e O Mistério do Parque Gorki. Estávamos numa Sexta-Feira 13 e por ironia isso nos deu sorte, pois avistamos O Expresso da Meia-Noite que nos levou para Paris, Texas. Lá nos separamos e vi A Menina do Outro Lado da Rua. Quando perguntei seu nome, ela respondeu: — Eu, Cristiane F. – Drogada e Prostituída. Fiquei com pena e a levei para a casa de minha amiga Alice, mas quando bati na porta, responderam: “Alice não Mora mais Aqui”. Então arranjei para ela um emprego de babá para tomar conta de O Bebê de Rosemary e segui rumo ao Aeroporto para viajar até o Brasil ano 2000. Quando o avião estava no alto eles avisaram: “Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu“. Resultado, A Águia Pousou, ou melhor, caiu! E eu fazendo parte de Os Sobreviventes dos Andes, ainda por cima tendo de vir Conduzindo Miss Daisy até o local da Operação Resgate porque ela tinha sido mordida por Nosferatu – o Vampiro da Meia-Noite. Chegando ao Brazil – o Filme tomei O Metrô da Morte onde só havia 7 ocupantes e eu estava parecendo Allien – o 8º Passageiro, quando alguém me perguntou se eu estava retornando da Sociedade dos Poetas Mortos. Respondi: não, sou O Fantasma da Ópera. O Cara, Sob o Domínio do Medo, viveu um verdadeiro Terror a Bordo.

Finalmente chegando à minha Casa do Espanto, minha Mamãezinha Querida desejou Feliz Aniversário para Mim porque era dia 4 e sou Nascido em 4 de Julho. Mas minha esperança de paz era tênue E o Vento Levou quando conheci Uma Linda Mulher e Amar foi Minha Ruína, porque ela era namorada de O Poderoso Chefão. Nossa paixão era tipo Romeu e Julieta e então lhe fiz uma Proposta Indecente; mais tarde desfrutei o que parecia A Primeira Noite de um Homem e quando estava prestes a entrar no Crepúsculo dos Deuses fui surpreendido pela Câmera Indiscreta do Cidadão Kane. Fui perseguido por Al Capone e levei vários tiros. Só não morri graças ao Dr. Jivago.

Fugindo da Máfia me mudei para Casablanca, pois aquilo era Garantia de Morte. E lá pareceu que as confusões Esqueceram de Mim. Qual nada! Entrei num Cabaret para conhecer o Cassino Royale e fiz amizade com lindas mulheres: Gilda, Ana Karenina, A Dama do Lotação. Só não gostei de Dona Flor e seus dois Maridos por ser tão tarada. Mas quem eu queria conhecer mesmo era Susan. Cheguei a colocar cartazes: Procura-se Susan Desesperadamente. Será que ela teria saído com Ringo, Keoma ou Django? Mas logo me esqueci quando vi um trio de deslumbrantes mulheres! Tratava-se de Hannah e Suas Irmãs, e quando as vi senti Laços de Ternura. Aquele trio era a resposta Por quem os Sinos Dobram!

Estava assim nessa Insustentável Leveza do Ser, bolando uma maneira de formarmos O Quatrilho para acalmar A Marvada Carne quando fui cercado por três brutamontes: O Homem que Matou o Facínora, O Exterminador do Futuro e O Homem que Burlou a Máfia. Eram os noivos das irmãs e me botaram para fora me fazendo ficar Dançando na Chuva. Mas criei coragem e lhes disse: Meu Ódio Será tua Herança, pois Da Terra Nascem os Homens. Dito isto saquei meu Brinquedo Assassino e acertei os Três Homens em Conflito. Depois peguei um Táxi Driver, dirigido por Blade Runner – Caçador de Andróides e atravessei A Ponte do Rio Kwai.

Ufa, já estou sonolento com essa Psicose de ficar lembrando nomes de filmes que o leitor não deve estar achando a menor graça. Por isso vou ficando por aqui, até porque Adivinhe Quem Vem Para Jantar? Querem saber O Nome da Rosa? É A Noviça Rebelde, que vem aqui saborear comigo Um Peixe Chamado Wanda. Depois da janta contemplaremos o Luar Sobre Parador, depois vamos fazer uma Jornada nas Estrelas, verei se ela tem A Marca da Pantera…, uah, hum, faremos Invasão de Corpos…, depois… zzz…, contemplarei, zzz…, A Bela Adormecida… zzz…, pum. ZZZZZ…

Publicado em novembro/1998