Aqui eu guardo meus escritos.

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Prefeitura sem prefeito. É sério, Bom Jesus/RJ não sabe quem vai governá-la a partir de 2009!

Que incrível sortilégio o de Bom Jesus do Itabapoana, cujo povo foi obrigado a votar em ninguém! (O TSE cancelou, praticamente às vésperas da eleição as candidaturas de Branca Motta e Paulo Sérgio Cyrillo). Pior: o povo parece estar conformado com tudo o que vem acontecendo, não faz um movimento sequer de protesto, de exigência em prol de sua cidadania. Está igual tronco de enchente, na marola de uma Justiça lenta, de interpretação complicada, sujeita a firulas mis de acordo com a sagacidade dos advogados que esticam a paciência até o limite de ruptura.

Faço aqui a minha parte. Só que a veia poética de má qualidade precisa se valer da preciosa inspiração de Patativa do Assaré – e também Dodô e Osmar/vi Dirceu atrás da grade/abre Marília, sou eu/sonhando num céu de fogo/libertas quae sera tamem/e um cheiro de tangerina/descascava Jorge de Lima/as invenções de Orfeu/rezava Murilo Mendes… Não, não, stop. Só o Patativa! É que me deixei levar pela linda canção de Zé Ramalho, “Xote dos Poetas”, que meu cérebro vinha cantando no ritmo destas teclas indignadas. Ah, e “Libertas quae sera tamem”, ou “Liberdade, ainda que tardia”, tem tudo a ver com Bom Jesus carregando seu pesado fardo.

 

Prefeitura sem prefeito
Patativa do Assaré

Nessa vida atroz e dura/
Tudo pode acontecer/
Muito breve há de se ver/
Prefeito sem prefeitura;/

Vejo que alguém me censura/
E não fica satisfeito/
Porém, eu ando sem jeito,/
Sem esperança e sem fé,/
Por ver no meu Assaré/
Prefeitura sem prefeito./

Por não ter literatura,/
Nunca pude discernir/
Se poderá existir/
Prefeito sem prefeitura./

Porém, mesmo sem leitura,/
Sem nenhum curso ter feito,/
Eu conheço do direito/
E sem lição de ninguém/
Descobri onde é que tem/
Prefeitura sem prefeito./

Ainda que alguém me diga/
Que viu um mudo falando/
Um elefante dançando/
No lombo de uma formiga,/
Não me causará intriga,/
Escutarei com respeito,/
Não mentiu este sujeito./
Muito mais barbaridade/
É haver numa cidade/
Prefeitura sem prefeito./

Não vou teimar com quem diz/
Que viu ferro dar azeite,/
Um avestruz dando leite/
E pedra criar raiz,/
Ema apanhar de perdiz/
Um rio fora do leito,/
Um aleijão sem defeito/
E um morto declarar guerra,/
Porque vejo em minha terra/
Prefeitura sem prefeito./

Agora vou eu no embalo do Patativa:

Como é triste a minha sina,/
De votar e não ter eleito,/
É porque não tenho peito,/
de mudar essa doutrina./
Quero dizer, consciência,/
De lutar pela cidade,/
Exigindo idoneidade,/
Sobretudo sapiência./

De quem?, perguntas então:/
De todos, respondo no ato,/
Quem quer mudar este fato,/
Tem que ter disposição./

Cidadãos de mui matizes./
Juízes, políticos, o escambau,/
Têm que deter o vendaval,/
Pra salvar nossas raízes./
E dizerem, igual ao poeta,/
Em desabafo valente,/
Dignificando nossa gente,/
Cujo progresso é a meta:/
“Nem mais um passo, covardes,/
Nem mais um passo, ladrões,/
Se os outros roubam as bolsas,/
Vós roubais os corações!”/

Falando assim aos fados adversos,/
Eles ficarão no seu lugar,/
Deixando de nos paralisar,/
Na busca do nosso sucesso./

E aqui paro esperançado/
De resolvermos os problemas,/
Um prefeito e adeus dilemas,/
Bom Jesus não mais travado!/

Produzido em 2008 

Meus filhos

Dedicado à minha mãe Luíza Áurea, mãe de 10

Sigo firme na longa caminhada,/
temente a Deus, cumprindo seus preceitos./
Quem, na vida, terá tido filhos mais perfeitos!/
Senão Aquela, com apenas Um, a Adorada?/

Resigna-me a vida suas faces lindas,/
dão-me alento e disposição suas diabruras./
Mil vezes mãe serei, mesmo nas agruras!/
Mil vezes mãe serei nas outras vindas./

Com o coração transbordante de amor deploro,/
as injustiças da pátria-mãe e assim decoro,/
um rosário de compaixão aos filhos meus./

Que a eles não falte o pão de cada dia;/
nem no seu amadurecimento, a porfia,/
de tomar-me o exemplo e acreditar em Deus./

Data incerta de produção 

Canto de desagravo a Bom Jesus do Itabapoana

Vejam o senhor e a senhora o quanto é triste/
o que acontece nesta terra desditosa./
Tudo é insano e até parece que é chiste/
de brincalhão com sua mente tortuosa./
Maledicência e maldade apontam em riste,/
onde a cidade tem de ir desvalorosa,/
ao rubro inferno da tertúlia que existe/
apenas para em má dizente tenebrosa/

que lhe aprofunda igual punhal da traição/
no torpe intento em macular outra eleição!/


Aqui refiro Bom Jesus Itabapoana,/
que bem recente sofreu mais os tais tormentos,/
por legião que de per si se diz bacana/
mas insensível aos surdos, roucos, vãos lamentos,/
de uma cidade há muito tempo qual fubana,/
que quer ganhar também os seus belos momentos/
e acabar de vez co´a tola e vil chicana/
de seus políticos que não têm entendimentos,/

que em vez de obrar para si sós sofregamente/
deviam dar um bom destino a toda a gente./


Como é que pode uma eleição ser como coito/
mal-ajambrado a conceber aberrações/
como aquela que se fez em dois mil e oito/
para, depois, cinco prefeitos quadradões/
se revezarem na cadeira igual biscoito/
nas prateleiras, em frenesis degustações?/
Enfado trágico ao lugar outrora afoito/
em seu crescer e progredir aos borbotões,/

correndo atrás da modernista Itaperuna/
que não perdeu nenhuma chance oportuna!/


Só que aqui o besteirol é prolongado;/
ninguém se entende, todos na devassidão./
Que é um flato a quem j´está todo borrado?/
Que mal terá em bagunçar outra eleição?/
Mas eu lhes digo, meus senhores, desvairado,/
que tal propósito não terá nenhum perdão/
e a História apontará o celerado/
maledicente do próprio natal torrão./

Aí depois nas fímbrias franjas do Planeta,/
irá gemer na quente cauda do cometa!/


N´estou aqui a defender quem quer que seja,/
pois considero tudo igual e tão cediço,/
tão só que joguem o jogo limpo da peleja/
conforme as leis eleitorais, e apenas isso./
Por que ganhar e depois ser que já não seja,/
se antes foi das leis tão grande insubmisso?/
Não é melhor cortar o mal antes que enseja/,
de advogados tão enorme rebuliço?/

Que triste sina este campo de batalha/
que leva o povo a tecer sua mortalha!/


Dois mil e treze está também recalcitrante,/
pois a prefeita foi cassada aos cinco meses;/
agora o mais será tão só irrelevante/
— toda energia em prol daquilo o mais das vezes,/
que é a defesa, com exército impressionante,/
do belo cargo que é desejo até dos deuses./
E quem não quer emprego assim inebriante,/
que nem exige a quem lhes paga, ser corteses?/

Mas a cidade que lhes dá a sinecura,/
recebe em troca o sentimento da amargura!/


Pior é que não haverá escapatória,/
pois quem já é não quer sair de nenhum jeito/
e quem está fora quer firmar sua história/
de qualquer forma, inda que no sangrado peito,/
de u´a Viúva que dá mão à palmatória,/
por incapaz de dar a todos igual direito/
— reparte o bolo só pra aquela imeritória/
gente covarde que não lhe dá nenhum respeito!/

Como é terrível e assaz tão deprimente/
a falsidade que existe tão latente!/


O fim da história é como filmes repetidos/
que já cansamos de assistir placidamente./
Lá eles brigam e cá ficamos submetidos/
ao resultado que nos é sabidamente;/
eles que erram e nós que somos os punidos/
com o sobejo da carência a mais urgente,/
reflexo sórdido dos esforços exauridos/
na luta insana em se dar bem pessoalmente./

Encerro aqui este meu canto tão grotesco/
que para eles nada mais que pitoresco./

Produzido em novembro/2008

Um canto em louvor às manifestações de junho/2013

Sempre insensíveis, nunca aprendem nada,/
não lhes move a vontade da sabença,/
das mazelas também esquecem nada/
e alcançaram o desvario da doença./

Por exemplo, não aprendem que mentir/
a um povo suscetível à mentira;/
dias viriam a dar a todos refletir,/
desmascarando as bestas vis, em santa ira./

É muito roubo, perversão e incompostura,/
ninguém mais pôde aguentar tão grande peso:/
de raiva o povo explode, bravíssimo e coeso./

Diagnosticado o mal, e prescrevendo rudemente a cura,/
Massas gigantes se nutriram de cidadania pura,/
e ao banditismo político decretaram: teje preso!/

Obs. Na época, produzi estas linhas com grande esperança. Mas hoje vê-se que a esperança foi em vão. Ao invés de melhorar, piorou. Ao banditismo político, logo decretaram: “teje solto.”

Publicado em junho/2013

O papa vai perdoar este meu soneto blasfemo, mas a decepção com os políticos brasileiros é de dimensões colossais!

Bem-vindo, santidade, a esta terra a Deus temente./
Abençoais o povo que tem na fé seu mor pendor,/
e dizeis vós, santo ativista das galáxias do Senhor:/
do que acusa o Deus terrível a essa gente?/

Vedes a malograda massa diuturnamente/
nas vis arremetidas do status dominador,/
debatendo-se nas procelas políticas de tanto irmão traidor;/
por que, santíssimo, o Pai permite e se faz tão conivente?/

Vós viestes e vistes como é belo o Rio de Janeiro./
Cidade maravilhosa, relíquia da pátria, gema da geografia,/
mas tomada por neros, arrivistas, bando finório e sorrateiro./

Talqualmente — como dizia Odorico — escarnecem do Brasil ex-altaneiro,/
que permitis, santidade, eu ser sincero e vos falar de uma tal monografia/
dissertando a tese de que é o Diabo, e não Deus, o brasileiro!/

Publicado em julho/2013.