Aqui eu guardo meus escritos.

Obrigado pela visita.

Dramática a situação dos moradores do Loteamento Aidê Lobo Junger, em São José do Calçado/ES

Bronquite: Maria Lúcia acha que Jéssica tem bronquite devido a poeira de cimento. “Muitas crianças daqui sofrem do mesmo problema da minha filha”, comentou

Angústia e apreensão são palavras que expressam a situação dos moradores do Loteamento Aidê Lobo Junger, conjunto de casas populares de projeto Federal iniciado no governo do ex-presidente FHC, cujos recursos para sua complementação foram bloqueados pelo atual governo. A comunidade do loteamento é composta basicamente de “invasores legais”, isto é, pessoas que embora cadastradas na prefeitura para receberem legalmente suas casas, as tomaram antecipadamente mesmo com as obras inacabadas. Além dos que invadiram na marra, outras famílias garantiram algumas unidades de forma consensual, mas a improvisação e a falta de estrutura são comuns a todas. A maioria dos moradores é procedente da parte de baixo do bairro Vala porque residia em área condenada pela Defesa Civil.

Transtornos
Os problemas da comunidade são muitos. A precária estrutura das casas, pequenos retângulos construídos com blocos de cimento, sem colunas ou vigas de sustentação, parecem oferecer riscos porque, além de se constituírem habitações erguidas de forma a mais econômica possível, a falta do acabamento os potencializa. Nenhuma casa conta sequer com emboço, um acabamento básico que fortalece a estrutura. As coberturas com telhas de amianto são o grande terror dos moradores porque venta muito no bairro, localizado em parte alta. “Aqui, quando venta, o telhado balança, chega a estufar. Muitos moradores perderam algumas telhas de suas casas, a gente vive num medo constante”, disse Luzimar da Silva, 23, que mora com o marido e três filhos no loteamento.

Bronquite e carrapatos
Vários moradores reclamam também do piso de suas casas. Todas foram disponibilizadas apenas com contra-piso, feito de cimento e areia para receber o revestimento final, no caso específico, cimento liso. José Ferreira Martins, outro morador, diz que quando as pessoas varrem suas casas, a areia da composição do piso vai junta. “Parece que usaram pouco cimento”, constata. Maria Lúcia Ribeiro, sua vizinha, diz que o seu piso vem causando problemas de saúde na filha Jéssica, 8, que assim como várias crianças do bairro, sofre de bronquite. “Levei a Jéssica no pronto-socorro porque ela estava com uma crise forte. O Dr. Alcir disse que pode ser por causa da poeira de cimento do piso”, contou Maria Lúcia. “Muitas precisam fazer nebulização constantemente”, acrescentou.

Maria da Penha Silva, outra moradora, foi incisiva: “Nosso lugar está abandonado, ninguém liga para nós. Nem latão de lixo temos aqui. Carrapato, nunca vi tanto”, declarou, informando que até o temido carrapato-estrela (transmissor da letal febre maculosa) ela já encontrou. A fossa sanitária é outro problema que começa a preocupar. Certamente construída em caráter provisório, ao se aproximar dela pode-se perceber umidade na superfície, indício de iminente transbordamento. O mau cheiro, que por enquanto só é sentido nas imediações, poderá vir a ser mais um transtorno, mais uma dor de cabeça para os moradores.

Publicado em dezembro/2004