Império do mal e dos maus; ou, a bandidagem comum inspira-se na bandidagem política, barbarizando geral. E não levantamos o traseiro do sofá!

O brasileiro está anestesiado com os desmandos políticos que se sucedem numa recorrência vertiginosa! O povo parece já não ter forças para reagir, submete-se languidamente como um pobre coelho diante de uma serpente. É como se estivesse drogado, sem capacidade de articular mobilização, de gritar um sonoro CHEGA. Apenas aqui e ali algumas vozes clamam atitudes contra tanto vilipêndio, censurando com a voz do civismo machucado tamanha apatia e acomodação.
Roubam zilhões de dinheiro público, mentem, extorquem, humilham a nação sob as suas barbas e parece que tanto faz como tanto fez. Nada o desperta deste pesadelo. Como pode, com trovoadas ribombando de formas tão ameaçadoras? Absolvições criminosas de culpados no Congresso, parlamentares envolvidos até o pescoço com a corrupção, escarnecendo de nós com suas danças e suas mentiras deslavadas e fica tudo por isso mesmo. Foi para isso que nos colocamos (nós, o povo) no poder? Continuaremos a nos calar ante a sonegação, os descalabros, à violência, às pessoas morrendo nas filas dos hospitais, à falta de verbas para a educação de nossos filhos? Quem somos, afinal? Um bando de zumbis?
Nunca a imprensa foi tão atuante, tão incisiva, tão competente. Mas a gente lê as notícias e reage como se estivesse lendo o horóscopo. O máximo que nos permitimos é um muxoxo, como se as previsões do zodíaco não foram boas. Essa reação é como um referendo de aprovação aos dirigentes ladrões e ineptos, que se aproveitam deste nosso estado de lassidão para roubarem nossas riquezas, fazendo-o de tal forma que levam de contrapeso nossa dignidade e amor-próprio.
Seguem os outros marginais uma lógica desconcertante para justificarem suas ações: se políticos roubam e nada lhes acontece; se 39 ladrões ajudavam a (des)governar o país, como enumerou o Procurador-Geral da República; se um brasileiro abonado mata friamente a namorada, de forma premeditada, confessa o crime e pega 19 anos mas está em liberdade, por que, ora bolas, não podem ter privilégios iguais quando eventualmente cometem crimes até mais “suaves”, em vez de se obrigarem a mofar com mais 200 meliantes num xadrez de capacidade para 50? Os maniqueístas de plantão, à direita, exigem leis severas, radicalização, quase uma Lei de Talião, aquela do olho por olho, dente por dente. Os à esquerda dizem ser culpa da esbatida desigualdade social, debitando a criminalidade às pessoas carentes.
Falsos. Ambos. O que resolve é punição, a começar pelo vértice da pirâmide. Leis duras e punição severa. Judiciário autônomo não da boca pra fora. Estado capaz de impor o devido castigo desde o presidente da República até ao mais humilde cidadão, ficando definitivamente entendido que todo aquele que tem a prerrogativa de punir e não o faz é cúmplice da criminalidade no mínimo por omissão. Não podemos sucumbir ao mundo da fantasia, dissociados da realidade. Em condições críticas, como a barbárie de São Paulo, não existe outra opção senão a reação dura. Não se pode oferecer flores para bandidos. Não é razoável achar que há chance de diálogo com quem mata policiais e outras pessoas inocentes de forma deliberada, no desatino da maldade. É ridículo afirmar que a Educação faria de um animal praticante de tamanha sandice se tornar um ser que ajuda velhinhas nos semáforos.
A punição passa anos-luz de dar TV e outras regalias para esses bandidos. Ao contrário: cárcere escuro, frio, dividido com as ratazanas, digno das bestas. Em lugares em que a violência foi controlada não foi afagando criminosos; os métodos passaram ao largo dessas receitinhas de quem vive nas portas dos xadrezes babando os presos. Em Nova Iorque, por exemplo, os cidadãos de bem é que permanecem com suas armas. Os bandidos, não. Cá, é o inverso. Lá não há acordo com bandidos, como também a lei encarcera quem rouba dinheiro público. Punição é a palavra-chave. E a população brasileira precisa tirar os traseiros do sofá e bradar por ela, a punição, com P maiúsculo, a plenos pulmões. Não há alternativas com os governos ineptos que se sucedem para horror do Brasil e do seu povo hipnotizado!
Publicado em maio/2006