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Mulher bom-jesuense cai no golpe do bilhete premiado

 

Quando a dona de casa E.S.L. se dirigia ao banco no dia 1/12/04 para sacar sua pensão e o 13º salário, uma mulher negra, aparentando simplicidade exagerada e completa ignorância a abordou nas proximidades do Hospital São Vicente de Paulo, citando o nome de um homem muito conhecido nas redondezas, perguntando a E.S.L. se o conhecia. A estelionatária disse que este homem a teria informado que ela (a negra estelionatária) tinha sido premiada com R$ 20 mil num bilhete de loteria, ao mesmo tempo em que tirava da bolsa um falso bilhete e mostrava para a vítima. “É este aqui, oh. Ele disse que ganhei tudo isso, mas era para eu procurá-lo que ele vai me levar no banco porque eu não sei como receber”, afirmou a meliante.

Antes que E.S.L. pudesse responder, uma outra mulher, de cor clara (a comparsa disfarçada, que disse morar num prédio novo próximo à residência da vítima), passou “casualmente” pelas duas e imediatamente fora abordada pela negra:

“Você não conhece fulano de tal?”

A negra contou para a cúmplice a mesma história forjada, acenando o bilhete. Esta, representando um papel de pessoa mais esclarecida, pegou o bilhete. Deu uma olhada rápida, abriu desmesuradamente os olhos fingindo enorme surpresa: “Mas a senhora não ganhou apenas R$ 20 mil. A senhora ganhou quase R$ 1 milhão! Esse homem está querendo te enganar. Ele vai no banco, saca toda essa bolada e só vai dar R$ 20 mil para a senhora!”

Garantia exigida
Sempre lamentando a falta de malícia, E.S.L. contou que, a seguir, fora envolvida numa conspiração digna de um filme. “Elas eram muito convincentes. Perguntaram o que eu ia fazer; eu disse que ia no banco sacar um dinheiro. A mulher de cor clara me perguntou então se eu podia, juntamente com ela, ajudar a negra. Eu respondi que sim, era uma questão de solidariedade. Então ela disse para eu sacar o meu dinheiro, que elas me esperariam. Quando voltei, a mulher mais esclarecida pediu para ver meu comprovante. Depois de olhar, ela disse que eu tinha mais R$ 500 para receber. Eu não sabia. E não é que tinha mesmo? Voltei ao banco e realmente saquei mais R$ 500, empréstimo para aposentados que eu não sabia ter direito. Quando voltei novamente, ela me pediu o dinheiro para contar, saber se estava tudo certo. Dei-lhe a carteira, ela contou, disse que estava certo e me devolveu a carteira.”

E.S.L. suspira desanimada.  “Ela (a mulher branca) perguntou se eu não podia oferecer uma pequena garantia à negra para lhe conquistar confiança. Afinal, era uma quantia muito elevada que íamos sacar para ela. ´A senhora tem alguma joia?´ Disse que tinha, e fui buscá-las. Voltei e mostrei a sacola. Ela pegou, olhou dentro e me devolveu a sacola.” A dona de casa encara este jornalista, visivelmente envergonhada. “A branca disse para eu aguardar porque ela ia em casa rapidinho dar um lanche para a ´coitadinha´ da negra, que aparentava fraqueza. Eu estava com minha sacola de joias e o com a carteira com o meu dinheiro. Nem desconfiei. Depois de muito tempo esperando o retorno das duas, voltei para casa. Ao abrir a sacola para guardar as joias, meu chão sumiu: as joias se transformaram numa pilha e num bloco de rascunho. Abri a carteira e por pouco não desmaiei: nem um centavo dos R$ 1 mil que saquei no banco!

Emocionalmente abalada, E.S.L. mal conseguiu conter as lágrimas: “as joias eram uma pulseira, um cordão, uma aliança e um anel, todas de ouro maciço, presenteadas há muitíssimos anos pelo meu marido, numa época em que a gente as comprava de um ourives conhecido, que vendia de casa em casa. Eu guardava como recordação, tinham um valor sentimental muito grande. Nem saía com elas por medo de acontecer alguma coisa, e duas vigaristas levam assim tão facilmente”, lamentou a dona-de-casa, avaliando o prejuízo total em
aproximadamente R$ 6 mil.

A vítima ainda procurou o prédio novo que a ladra mencionara, mas lá chegando fora informada de que não havia tal pessoa. Ela então deu queixa na polícia, mas sem muita esperança de recuperar os bens.

PS. Esta é, em síntese, a versão da vítima. Mesmo envergonhada, E.S.L aceitou falar com a reportagem como alerta a futuras vítimas, exigindo apenas o anonimato.

Publicado em janeiro/2005