Aqui eu guardo meus escritos.

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Ao Sr. Lula da Silva – www.planalto.gov.br

Luis Inácio

Permita-me tratar-te assim, de forma um tanto insolente, e não consideres desrespeito. É que não costumo reverenciar pessoas apenas pelos cargos ou títulos que possuem, nem mesmo o de presidente da República, como é o teu caso, salvo quando julgo se o que de fato elas fazem em prol da sociedade é algo edificante e proveitoso. Sei que não te lixas por um, assim dizer, escrevedor obscuro e interiorano, da mesma forma como fazes ouvidos moucos aos lamentos que brotam em profusão de todos os rincões da pátria.

Mas estas linhas, traçadas sob a influência do desapontamento e da decepção, talvez, quem sabe, possam tocar-te o coração suavizando-te a arrogância e a insensibilidade com as quais distingues teus iguais em Cristo e em nacionalidade. Devo lembrar-te, Luis Inácio, que honestidade não deve ser tomada como virtude extraordinária e excepcional do ser humano. Ainda que verdadeiro o que propalas, de teres nela teu apanágio, isso só se aplica no sentido banal do termo, qual seja abster-te de roubar, o que convenhamos é uma obrigação.

Mesmo genuína essa “abstenção” (tenho cá muitas dúvidas), não praticas a honestidade que propalas em toda a plenitude, pois tuas ações canhestras e omissões colossais subtraem de forma brutal a esperança de quem acreditou na tua tão decantada capacidade de gerenciar o Brasil tendo em vista tão-somente o resgate da dignidade dos brasileiros. Tal não acontece, Luis Inácio. Tua propaganda foi enganosa, ludibriante, logo, desonesta.

Enquanto teu povo se angustia, se estressa e se depaupera na vastidão saturnal da falta de perspectivas, da fé que se esvai e da esperança que se exaure, políticos larápios esfalfam a Viúva à exaustão sem nenhum encargo de consciência por fazê-lo acintosamente perante os seus (dela, a Viúva) milhões de órfãos marginalizados, injustiçados, oprimidos. E nas tuas barbas literais e figuradas, Luis Inácio!

As cenas dantescas que assistimos diariamente de roubos e furtos por parte de políticos refletem a putrefação que assola certos ambientes imponentes e coalhados de desdenhosa ostentação em Brasília. Tu não és, claro, o único responsável por essa atmosfera viciada que nutre uns poucos e sufoca a maioria, mas nada fizeste do que prometeste para dissipá-la. Preocupas-te demasiado com teu ego, e a necessidade diuturna de massageá-lo obscurece-te os sentidos da modéstia e do discernimento impossibilitando-te vislumbrares a realidade da nossa “Suitiópia” (mistura de Suíça das contas numeradas com Etiópia da plebe esfaimada).

Falo de fome, Luís Inácio, mas não só a que martiriza os estômagos. Esta, tu, diabolicamente, cuidas de minimizar como salvo-conduto para tua perpetuação no poder, distribuindo esmolas a três por dois. Falo sobretudo metaforicamente dos milhões que sentem “fome” de Educação, de Saúde, de Dignidade, de Consciência Cidadã. Apegas-te sofregamente na única e tênue bandeira que abraçaste, a corrosiva política econômica dos banqueiros e dos especuladores que herdastes de quem ultrajavas, e dela não te afastas nem que a vaca tussa.

Assim como teu antecessor, tu só pensas em prolongar o suplício do teu povo, reelegendo-te, sem sequer dar-te ao trabalho de mudar uma vírgula do que foi o governo anterior que te tornavas apoplético quando ainda não embarcado na sinecura. Quer dizer, o que antes tu vociferavas como sendo o inferno do Brasil, hoje consideras o paraíso.

Não é nada pessoal, Luis Inácio. Mas fui ludibriado na minha boa-fé (só uma vez, deixo claro, já que procuro não cometer o mesmo erro duas vezes) e esta é minha desforra, que se não chega a destemperar-te a indiferença, repercute de forma mais contundente tua reputação a meu juízo. E creio que não somente eu, mas muitos dos que tiveram a desdita de crer-te um estadista, hoje também fazem um desagravo às próprias consciências, da maneira que podem, e, se Deus quiser, através das urnas, muito embora surrupiaste a tosca capacidade de discernimento do povão injetando-lhe o potente vírus da Síndrome de Estocolmo.

Ouso afirmar que até mesmo aquele metalúrgico torneiro-mecânico, o notável sindicalista que perseverou na areia movediça da República dos generais, e que tanta admiração me causava pela bravura e obstinação persecutória da liberdade e da justiça haveria de discordar com veemência do seu clone chocho, despersonalizado e desfigurado de agora. Mantivesses, Luis Inácio, a altivez daqueles tempos, tenho certeza que “este país” teria descortinado seu rumo e aí, sim, inflado de nacionalismo e saciado de cidadania eu me dirigiria a ti utilizando ´vossa excelência´, pronome de tratamento somente adequado, no meu entender, aos que enriquecem a História de uma nação.

Publicado em janeiro/2006

Duelo Miguel Motta x Carlos Garcia: três perderam

No apagar das luzes do ano de 2001 o tempo verborrágico esquentou em Bom Jesus do Itabapoana com a troca de acusações, de insinuações e de catilinária entre dois pesos-pesados da política local: o ex-prefeito Carlos Borges Garcia e o atual, Miguel Ângelo Barbosa Motta. Motivo: a controversa dívida que aquele teria deixado para este administrar.

Foi infantilidade. O atual prefeito, talvez um tanto assustado com a realidade nua e crua que certamente o calor da campanha de 1999 cuidou de maquiar cedeu ao impulso tentador de justificar os insucessos ou expectativas frustradas culpando a única bandeira que lhe restou, a malfadada herança de cofres vazios que não foi prerrogativa somente de Bom Jesus do Itabapoana. Até o bloco de faturas entende que num regime democrático, onde as instituições funcionam, o caminho correto seria o da Justiça caso houvesse indícios de crime de responsabilidade no montante do passivo encontrado. Parece claro que a opção pela pancadaria verbal foi uma tentativa de camuflar a insegurança frente ao enorme desafio de promover mudanças profundas — mote principal da campanha — uma tolice porque não logrou esmurrar a inteligência da plateia e acabou com o tiro saindo pela culatra. O povo não quer saber quem pintou a zebra ou pôs tracinho no sete. Quer alguém que resolva seus graves problemas, um líder obstinado que não se deixe deslizar no terreno das lamúrias e do desencanto. O bom-jesuense apostou em quem o conduzisse com firmeza ao progresso, às mudanças para melhor e ao bem-estar social, e este teria o mérito potencializado exatamente porque o sucesso hipotético emergiria de um cenário pretensamente desolador.

Winston Churchil dizia que “o político é capaz de prever o que acontecerá amanhã, no próximo mês e no ano que vem, e, depois, explicar porque não aconteceu”. Motta até que não teria de chegar a tanto porque fez alguma coisa, que só não repercutiram por ausência de uma política eficaz de divulgação. Mas não tê-las feito com a intensidade esperada não seria desdouro especialmente num cenário nacional de dificuldades, além do que parece uma coisa meio óbvia que os primeiros meses e até o primeiro ano de uma administração são o momento de tomar pé da situação, mais do que implantar uma marca diferencial para o governo; mesmo para os experientes, quem dirá para um debutante. Não seria, portanto, necessário “explicar porque não aconteceu”, muito menos da forma mais fácil, transferindo responsabilidades. A vontade de realizar dos fortes se manifesta nas ações, não somente nos discursos.

Garcia, o decano político destronado em 2001 também derrapou fragorosamente! Incapaz de perceber que as fagulhas se dissipariam numa atmosfera que lhe era (e ainda é) favorável, deixou-se atrair ao epicentro do redemoinho contribuindo para robustecer sua varredura. Se a experiência não o traísse, certamente não perderia a chance de entrar mudo e sair calado na contenda, o que evitaria maiores arranhões em sua imagem e um compartilhamento em maior escala do ônus do desgaste (que houve, indubitavelmente).

Veleidade é um sentido que deveria inexistir nos políticos, porque a força despendida para o lustre ao egocentrismo é subtraída daquela necessária a medidas práticas e objetivas de interesse coletivo. Ela caminha par e passo com a impulsividade, formando uma química danosa ao discernimento e à ponderação. Na fogueira das vaidades ardeu a chance de o bom-jesuense conhecer ipsis literis a realidade dos fatos, já que os contendores, satisfazendo-se apenas com as agressões verbais não procuraram o foro adequado para resolverem a pendenga, o que foi no mínimo estranho.

Como aceitar passivamente governar fustigado por uma dívida estratosférica para os padrões locais, de mais de R$ 15 milhões (propalada por Motta), se ela inviabilizaria as ações ansiosamente aguardadas pelos bom-jesuenses? A Lei de Responsabilidade Fiscal serve para quê? Por outro lado, por que não levar às barras dos tribunais quem “inventa tamanha maledicência”, “apresenta tantos dados levianamente com uma irresponsabilidade infantil”, no dizer do próprio Garcia?

Resumo bufo da ópera ou epílogo da ópera bufa: como invariavelmente ocorre nos meios políticos, fica o dito pelo não dito e quem sabe, se as circunstâncias futuras o exigirem, acontece uma dobradinha Motta x Garcia em nome do “interesse maior do bom-jesuense”, claro que após a devida reconciliação com as parolagens de praxe? De certo mesmo é que todos saíram chamuscados das altercações: Garcia, por ter enfraquecido a aura de político sereno e ponderado. Seu desagravo intempestivo, a meu ver, em nada contribuiu para amainar o impacto das notas negativas. Acho até que contribuiu para corroborar as “ilações”; Motta, por seu turno, assentou mais alguns tijolos no muro da desconfiança que o povo tem sobre sua capacidade gerencial. O destempero não é exatamente o que se espera de quem exerce a autoridade máxima numa sociedade. E, por fim, o terceiro personagem, o que mais perdeu, que é o povo bom-jesuense. Este, que merecia ter no equilíbrio de seus comandantes uma solução para suas prementes questões socioeconômicas, vê impotente que o tempo e as elucubrações vão sendo gastos nas celeumas inférteis e absolutamente desnecessárias.

Publicado em fevereiro/2002

Acorda, sonhador, é preciso despertar!

Não vou falar sobre os ladrões que fazem da política um instrumento para assaltar os cofres da nação. Quando raciocino o quão deve ser difícil se gravar uma conversa, especialmente envolvendo as velhas, ariscas e soturnas raposas de Brasília, como o Waldomiro, e mesmo assim ainda se conseguem inúmeras provas cabais da gatunagem, imagino quanta sujeira, quanta podridão existe neste país. Não vou falar deles porque sei que seria inócuo, Maluf que o diga (periga ser novamente prefeito de São Paulo, beneficiando-se da omissão de uma Justiça anômala e de uma consciência coletiva de pouca têmpera).

Mas enquanto eles se refestelam nos confortáveis sofás dos suntuosos salões da Ilha da Fantasia às nossas custas e tramando destinos lúgubres para nossas vidas, vamos nos virando como podemos e até quando Deus quiser. É sobre isso que quero falar: a única diferença que existe no Brasil de hoje, em relação ao Brasil inflacionado, é que quem tem trabalho fixo, ou melhor, aqueles que sempre foram as vítimas dos desmandos (imensa maioria), e que por sorte têm seu emprego, conseguem hoje em dia comer um macarrãozinho com frango aos domingos e até mesmo comprar um eletrodoméstico, mesmo que comprometa seu salário por 30, 40, até 50 meses. O problema é que o emprego virou uma mercadoria raríssima atualmente, e isto gera consequências sinistras. Se não há emprego não existe salário, se não há salário não há consumo, se não há consumo inexiste o comércio, se não há comércio, neca de indústria, se não há indústria podem fechar o país para balanço dos salvados.

Vive-se hoje, salvo as exceções de sempre, uma verdadeira ginástica. O cidadão comum vai ao mercado e compra fiado. No fim do mês, a duras penas, paga esta e abastece-se novamente. Fiado, é claro. No dia em que o comerciante não puder fiá-lo mais, será trágico. O comerciante, por sua vez, adquire uma mercadoria a prazo. Vende-a e adquire outra efetuando o rodízio do seu estoque às custas do seu fornecedor. Como sua margem de lucro é pequena, mercado em recessão e custos operacionais e administrativos a cada dia maiores, a falência o espreita.

Não é possível que continuemos a viver nessa bola de neve. Urge que tomemos medidas drásticas, necessário se faz que apareçam líderes destemidos que possam desencadear uma revolução cívica neste país. Precisamos rever nossa estratégia de vida, repensar nosso papel na sociedade, despertar nosso sentido de indignação. Precisamos parar de dizer “tudo bem” a cada vigarista que nos aparece. Exercermos nossa cidadania com mais contundência, a exemplo dos países desenvolvidos.

Somos os únicos responsáveis por esse estado de coisas, até porque temos pouca noção da realidade. Muitos de nós, infelizmente, vivemos de aparências e esta prática mascara a realidade, tornando-a falsamente colorida. E é aí que agem os espertalhões. Não elegemos o Lula? Vamos então cobrar-lhe ação, destemor ante os poderosos, a transformação dos belos discursos em fatos objetivos. Não devemos, sob pena de comprometermos o futuro do nosso país, nos acomodarmos frente aos desmandos e à incompetência da “corte”.

Vamos acordar, espantemos nossos fantasmas.

Publicado em maio/2004

Déficits municipais: cada prefeito que entra proclama herança maldita, mas deixa também a sua

Em Contabilidade, uma das primeiras lições que o estudante aprende, um tanto incompreensível, é a de que tudo o que entra é débito e tudo o que sai é crédito da conta ou rubrica a que se esteja referindo. A débito da conta “Caixa”, por exemplo, é feito o lançamento dos valores que entram e o crédito dos que saem. Esta é uma curiosidade do mundo dos números, dos conceitos teóricos, da mesma forma que “prêmio” num contrato de seguro não é o que se recebe como indenização do sinistro, mas o valor que se paga pela apólice.

Manipular a Contabilidade e fazer dela um instrumento para ludibriar pessoas e instituições tornou-se rotina no Brasil. Maquiagem de balanços e manipulação dos números visando a sonegação de impostos são práticas comuns de poucas exceções acobertadas por uma ciência que estuda e pratica as funções de orientação, controle e registro dos atos e fatos de uma administração econômica, mas extremamente vulnerável e inerte às maquinações do homem. Também, esse negócio de considerar débito um ativo e crédito um passivo não é mesmo coisa de se levar a sério…

Se os números oficiais são muitas vezes forjados visando fornecer uma imagem simpática de determinada empresa ao grande público, ainda que fictícia, imagine os não-oficiais. É o que se tem percebido nestes primeiros meses a respeito dos déficits encontrados por grande parte das novas administrações municipais, exceto pelas reeleitas, evidentemente. Aqui mesmo na região, administradores se arvoram em propalar os rombos herdados dos antecessores numa algazarra que parece refletir mais satisfação que inquietação, com os números balouçando ao sabor do vento de acordo com os interesses de cada um. Se o antecessor era um adversário mais simpático, atribui-se-lhe um número melhor digerível; se era um contendor renitente, um ranheta ou inimigo, carregam-se nos algarismos.

O intuito parece que não tem sido informar, mas difamar. O objetivo não é esclarecer, a estratégia é confundir. Quanto mais alarmante e de maior alarido for o montante do déficit, melhor para o “herói” ou para a “heroína” que estoicamente conseguirá saneá-lo. Na pior das hipóteses já é uma desculpa antecipada por eventuais fracassos ou incapacidade gerencial. Dívidas que sequer estão vencidas, recomposições e renovações creditícias, ainda que lastreadas na arrecadação, previstas nos orçamentos, muitas vezes são englobadas pelo total das parcelas vincendas por absoluta má-fé, apenas para robustecer os números. É sintomático que não convoquem a imprensa para prestarem informações oficiais, tim-tim por tim-tim, caso a caso, conta a conta. Isso não interessa, da mesma forma que divulgar os bons resultados porventura encontrados, nem pensar.

Não é segredo que a maioria dos estados e dos municípios brasileiros só trabalha no vermelho. Déficits, contas pendentes, atrasos são rotina. As pessoas que hoje têm o poder e que o tenham exercido antes sabem como é o aperto e até podem ter deixado no passado os seus números negativos também. Mas há que separar o joio do trigo, tudo tem de ser proporcional. Se um município tem um déficit incompatível com o seu tamanho, com a dimensão de sua atividade econômica, com as obras e outros benefícios realizados aquém dos recursos recebidos para tais fins, o indício de crime é forte. E aí existe a Lei, que também, estranhamente, de pouco se valem.

Este deveria ser o desafio de cada prefeito. Auditar a casa com seriedade, trazer à baila os números genuínos, mostrar a real situação de seu município seria simples e denotaria sinceridade, autenticidade de intentos. Querer jogar bonito para a galera sem razão para as firulas, além de ridículo é um desserviço ao seu estado ou ao seu município.

Uma cruzada pelo resgate da Contabilidade, uma ciência que tem de ser exata a despeito das inexatidões de princípios éticos.

Publicado em fevereiro/2001

Nomenklatura bom-jesuense. Ou, Legislativo resolve a questão do desemprego contratando aspones

De dimensões continentais, pulmão do mundo com a maior reserva verde do planeta, solo privilegiado que em se plantando tudo dá, imune a catástrofes naturais, o Brasil parece um elefante com temor de um rato. É, do mundo, o gigante aparvalhado que só tem tamanho e, proporcionalmente a este, uma das piores e mais cretinas injustiças sociais em todo o globo terrestre, ampliadas ano após ano numa escalada vertiginosa pela sua classe dirigente. Esta, por sua vez, é produto do meio, e nesse detalhe é possível que tenha originado a velha máxima: “cada povo tem o governo que merece”.

Tomemos o exemplo de nossas Bom Jesus. São cidades que vêm se arrastando há décadas, que jamais tiveram um horizonte claramente delineado, com uma política ao longo dos tempos obtusa e eventualmente retrógrada. Progridem? Sim, mas num contexto vegetativo lento para as condições físicas e geográficas privilegiadas em que se situam, ao contrário de alguns de seus dirigentes que pessoalmente enriqueceram e enriquecem a olhos vistos. Enquanto o povo, na penúria, vê-se à margem da sociedade, deseducado, desnutrido e desvalido, seus representantes às avessas adquirem bens materiais com facilidade impressionante e numa rapidez espantosa, contrariando todas as expectativas de um enriquecimento natural, fruto exclusivo do trabalho honesto. Alguns, com indisfarçável desdém, adentram seus municípios em automóveis luxuosos com motoristas particulares (ambos pagos pelo erário, isto é, pelo próprio povo), num acinte à miséria reinante sem nenhum remorso ou censura da própria consciência pelo agressivo e ridículo paradoxo.

A prova de que o dinheiro público é usado sem parcimônia e de forma irresponsável está bem perto de nós. O Legislativo de Bom Jesus do Itabapoana-RJ, por exemplo, “consciente” da grave crise que o país atravessa resolveu dar sua contribuição para a questão do desemprego: aprovou a contratação de assessores para cada um dos vereadores, com módicos vencimentos de R$ 1 mil por cabeça. Enquanto isso, não há emprego sequer de um salário-mínimo para um cidadão prover o sustento de sua família, não há verba para a merenda escolar nem para os remédios dos caquéticos. Pululam qual nuvem de vespas venenosas os decretos e medidas provisórias da terrível carga tributária que abate impiedosamente os empresários e outros segmentos produtivos da sociedade, que a duras penas e no limite das forças carregam nas costas vergadas o fardo cruel da iniquidade, fruto da cobiça, incompetência, má-fé. Este nosso DNA resultante de tantas misturas há de ter algo de bom: a capacidade de indignação e por conseguinte a certeza da necessidade de mobilização para pôr termo a essa ordem insustentável.

Publicado em janeiro/1999