Aqui eu guardo meus escritos.

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Vote certo, vote você; ou, que os santos inspirem os eleitores

As fichas estão na mesa. De olho nas jogadas, o eleitor, esta santidade transitória no trono sagrado que costuma receber quadrienalmente muita atenção por cerca de dois meses, e depois fica esquecido, ignorado. Não é necessário ser santo de verdade, como os padroeiros Senhora Sant´Ana, de Apiacá, São Geraldo Majela, Bom Jesus do Norte, Senhor Bom Jesus, Bom Jesus do Itabapoana e São José, São José do Calçado, para perceber as jogadas mais ou menos autênticas, os blefes ou aquelas que objetivam o xeque-mate no atraso, na estagnação. Mas bem que aqueles poderiam dar uma mãozinha para mudar a cultura do eleitor, este santo de carne e osso tão ingênuo e despojado que se contenta com as migalhas de pão, fazendo-o perceber que a política varejista precisa acabar.

O imobilismo tem sido uma marca cruel! A inércia desses quatro municípios vem se constituindo uma questão crônica e vexatória! Ainda que seja justo atribuir culpa maior à conjuntura político/econômica nacional, e até internacional, não avançamos no mesmo ritmo de outros municípios semelhantes. A política populista tem brecado a planificação. Os investimentos a varejo, o assistencialismo desenfreado são opções pouco inteligentes porque não geram frutos em prazos maiores.

No lugar da cesta básica caritativa, certamente os meios que a garantiriam pelo próprio esforço seria melhor e mais plenamente satisfatórios. Que os santos inspirem os eleitores e sobretudo os eleitos. Que estimulem estes últimos a planejarem a médio e longo prazos, que lhes alarguem a visão para projetos perenemente proveitosos, que lhes ajudem a discernir que o benefício permanente é melhor que o favor imediato. E ainda, se não for pedir muito, que promovam a difícil equação de dobrar os personalismos, incutindo nos quatro eleitos a necessidade de mobilização, de integração, de se harmonizarem em prol de objetivos comuns.

A Educação deve ser a prioridade das prioridades. Nenhuma sociedade cresce ou se moderniza sem ela. Criminosamente negligenciada no Brasil porque educar significa politizar, e politizar significa inculcar a consciência dos direitos de cidadania, a Educação se torna uma ameaça ao status quo vigente, um mecanismo intimidatório ao viciado sistema político brasileiro que necessita desesperadamente da alienação e do desconhecimento para se eternizar. E nossa região não foge aos padrões: escolas feias, maltratadas, professores desmotivados, alunos que sequer recebem uniformes escolares, que dirá material didático em quantidade e qualidade ideais.

Se dentre os eleitos por aqui houver algum administrador sensível à causa, não contaminado com a insidiosa enfermidade da demagogia, ele deveria deixar a Educação aos cuidados do pessoal técnico, de gente do ramo, isolando-a e imunizando-a da política. Destinar os recursos previstos em lei, atribuir metas, exigir resultados seriam atitudes de um verdadeiro dignitário. Veremos se alguém se habilita .

Para o eleitor consciente, que procura exercer papel atuante no processo político de seu município, esta será mais uma chance de se manifestar visando erradicar a hipocrisia dos maus políticos, ajudando na construção de uma sociedade mais justa, mais perfeita. É preciso cobrar, cobrar e cobrar. Cobrar responsabilidade, cobrar criatividade, cobrar dinamismo e trabalho, cobrar honestidade e transparência, cobrar, enfim, os resultados que precisam advir do enorme sacrifício do povo.

Como dizia o filósofo inglês Edmund Burk, “o mal só prospera quando os homens de bem se calam”.

Publicado em setembro 2004

Empréstimo compulsório

O famigerado Empréstimo Compulsório é mais ou menos como se alguém da máfia siciliana te abordasse numa agência de automóveis e sentenciasse: “se comprar este carro, é obrigado a nos emprestar 30% do preço dele. Prometemos que em dois anos o devolvemos.

A máfia (o governo) tomou-nos em 1986. Lá se vão 13 anos e até agora, nada. Mas era de esperar. Alguém pode acreditar na sinceridade e honestidade da máfia? Sarney — El Bigodon — foi quem nos afanou em 1986, dizendo que em 1988 devolveria. Não devolveu; Collor — o caçador de marajás alvejado por seu próprio bumerangue — prometeu devolver desde que não cassassem o seu mandato. Que figura! Não devolveu e alguém acredita que cumpriria a promessa se fosse livrado da guilhotina? Itamar — El Topeton — jamais tocou no assunto; FHC — o continuísta — passou batido pelo assunto no primeiro mandato. No segundo… quando na galinha nascer dentes, talvez.

O pior é que o dinheiro que nos foi roubado lamentavelmente não alimentou bocas famintas, mas aqueceu bolsos de linho de fino corte em conjunto com colarinhos brancos de seda importada.

Publicado em março/1999

Populações sofrem com poluição sonora

Moradores de Bom Jesus do Norte e de Bom Jesus do Itabapoana reclamam do alto volume dos carros de som que circulam pelas cidades, geralmente fazendo publicidade volante, mais intensa nesta época do ano. Além de massacrarem os tímpanos alheios, alguns motoristas mais desavisados ou deliberadamente contraventores desobedecem às leis de postura municipais, despejando toneladas de panfletos (lixo) pelas ruas.

Aos comerciantes que se utilizam desse meio de publicidade, um alerta: verifiquem se sua mensagem está sendo transmitida com um volume compatível e obedecendo a lei e o bom-senso, pois caso contrário o tiro pode sair pela culatra, ou seja, a mensagem pode irritar o consumidor, ao invés de estimulá-lo a procurar seus produtos ou serviços.

Publicado em junho/2000

Subo nesse palco; ou, heróis de ocasião adentram o cenário da demagogia e da dissimulação

A máxima maquiavélica de que “os fins justificam os meios” é o velho costume que virou tradição em boa parte de nossos políticos, e esse execrável comportamento acabou por toldar a criatividade. A arte de fazer política com qualidade, consistente, que exigia trabalho árduo de convencimento mediante propostas relevantes relativas a projetos necessários e viáveis, de discursos convincentes e propósitos verossímeis desvaneceu-se gradualmente nessa atmosfera de dissimulação e astúcia.

A demagogia que impera hoje em dia já nem precisa de um lustro, de um grosseiro acabamento. Vai no estado bruto mesmo porque até para ela faltam a criatividade para a busca do novo, do singular, e mesmo a disposição de dar tratos à bola na procura dos discursos que pudessem soar mais autênticos. O marasmo de imaginação nessa esfera vem se tornando algo impressionante, e parafraseando o escritor e crítico literário Agripino Grieco, “no dia que aparecer alguma boa ideia alguém terá morrido de apoplexia fulminante.”

A convenção imutável, irritante, é a de durante três anos pouco se falar e pouco se opor. Parece que nesse ínterim os instintos descansam para adquirirem força redobrada para as catilinárias do ano 4, para a concepção das belas figuras de retórica e a difusão de currículos morais de fazer inveja a Madre Tereza de Calcutá. O destino do município e de sua gente é mero detalhe secundário. Não debatem, não buscam somar esforços, pouco questionam, porque o que vale nessa batalha é o personalismo desvairado, fremente.

Quando se ascendem das tocas em busca do poder utilizando o palavreado e as armas medievais de sempre, renegam a elegância e o fair play, e principalmente subestimam a inteligência do eleitorado. Os heróis de ocasião, tão desnecessários quanto o Pavarotti resfriado (triste do povo que precisa de heróis) resplandecem nessa época como as ardentias do Atlântico. Todos têm o bom costume de seguir à risca os preceitos do 1º Mandamento, amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, com o ufanismo pelo torrão à flor da pele.

Há até os milagreiros, como por exemplo os que atribuem para si a fenomenal revivificação do Hospital Jamile Said Salim, onde bastariam duas ou três intervenções verbais com seus dotes divinos. O pobre do hospital, agonizante como qualquer instituição de saúde pública brasileira, agravada pelas últimas gestões absurdamente incompetentes— senão coisa pior — parece que tomará o palco da campanha que se avizinha, mesmo porque pouco restou para o rol das promessas num município paupérrimo. A falta de imaginação para formatar novas propostas, ainda que factoides, a ilusória e equivocada percepção de que o eleitor continua ingênuo, alienado e incapaz de pensar por si só, e a lei do menor esforço para a conquista dos preciosos votinhos são os principais ingredientes que levam à irresistível tentação de nomear fraudulentamente os responsáveis por atos e fatos.

É plágio do mais ridículo e patético. Até o esparadrapo gostaria de ver o hospital Jamile funcionando na plenitude de sua capacidade, e não terão sido os lindos olhos ou a boa prosa de um ou outro samaritano que lograrão reabilitá-lo. O Estado do Espírito Santo, como de resto seus congêneres nacionais, precisa desesperadamente resgatar suas unidades de saúde existentes e construir novas. É a única e mais do que plausível esperança para o Jamile. A angústia do capixaba que morre sem atendimento pelos corredores hiperlotados é que vai se transformando num eflúvio reivindicatório que cedo ou tarde terá de ser atendido.

Fazer como os pastores que tentam sempre persuadir a ovelha que os interesses dela e os dele são os mesmos é inútil já há um bom tempo porque ninguém ignora ser tão falso quanto um Rolex paraguaio.

Publicado em fevereiro/2004

Políticos de Bom Jesus carecem de ideologia

As Bom Jesus viveram períodos de progresso, intensos nas percepções das épocas respectivas. Bom Jesus do Norte/ES emancipou-se em 1963, e em pouco tempo construiu escolas, creches, praças, prédio próprio do Poder Executivo e até hospital de generosas dimensões físicas, um luxo para uma comunidade de cerca de 7.000 pessoas, com um pequeno detalhe: boa parte dos recursos materiais e humanos propiciado pelos próprios nativos. Estamos falando das décadas de 1970/1980 (o Hospital Jamile Said Salim, morto prematuramente aos 18 anos, foi inaugurado em 1982). Depois parou. Parou no tempo e no espaço, assim como Bom Jesus do Itabapoana/RJ, que a rigor só experimenta desde priscas eras crescimento vegetativo da parte de um poder público que vem a reboque da iniciativa privada, arrastando-se como um sapo obeso, inerme, penando horrores para se mover por inércia no vácuo das necessidades.

As conquistas estruturais de antanho foram mais expressivas que as da atualidade, se consideradas as dificuldades da época em que o interior era praticamente esquecido pelos governos centrais, em que havia crises econômicas sem fim, hiperinflação, e, guardadas as devidas proporções, uma tecnologia rudimentar, especialmente a das comunicações. Isso obrigava as lideranças políticas de outrora se virar como podiam, e a adversidade exercitava a capacidade criativa e a disposição para o enfrentamento dos grandes desafios.

Uma constatação lastreia o argumento de que a infraestrutura só vem tendo melhorias obrigatórias, não planificadas, forçadas pelo crescimento urbano: desde a época em que se rascunhava a Bíblia, o sistema viário das duas cidades é praticamente o mesmo. A diferença é que em tempos remotos a maioria dos automóveis era importada, seus felizes proprietários os poucos ricos do pedaço. Animais de tração eram majoritariamente os responsáveis pelo sistema de transporte. Os lorpas e os pascácios do Nelson, nessa altura, devem estar com o olho rútilo e o lábio trêmulo a vociferar: “e a segunda ponte? E a segunda ponte?”, certamente desconsiderando que me refiro apenas ao tráfego local.

Já imaginaram aquelas ´formidandas´ carretas trafegando em mão dupla nas proximidades do Supermercado 5 Irmãos? Fazendo manobras infernais no cruzamento da Tenente José Teixeira com XV de Novembro? Não exageremos, era só o que faltava!

Assim é o resto. O “sistema viário” da Educação, da Saúde, da Segurança, da Habitação, da Cultura, do Lazer precisam de pontes de determinismo, de elevatórias práticas e funcionais, de sinalização de que o homem público esteja divorciado da retórica, afastado do engodo discursivo e próximo da sinceridade de propósitos. Prefeitos precisam voltar a ser eleitos não apenas para assinar convênios, em disputas eleitorais em que a capacidade de se mostrarem mais prestigiados pela autoridade política superior vem prevalecendo sobre o idealismo, sobre a constatação de quem tem mais compromisso de ordem sentimental com sua terra.

Imaginem quão encantadoras seriam as cidades se aos embrulhos enviados pelos estados e pela União contendo escolas, unidades de saúde, praças esportivas, fossem acrescentadas benfeitorias da própria lavra, propiciadas pela mistura de planejamento com austeridade e prioridade dos gastos públicos! A cereja do bolo…

Embora o padrão que aí está parece consolidar-se mais a cada dia num sistema político nacional extremamente centralizador, os prefeitos podem e devem andar ao menos um pouco com as próprias pernas além das fronteiras das contrapartidas aos projetos, entoando, como Cazuza, “ideologia, eu quero uma pra viver…”.

Publicado em maio/2011