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Uma pergunta ao prefeito de Bom Jesus do Norte, Dr. Adson Azevedo Salim

Bom Jesus do Norte. Foto aérea: Farley Couto

Dr. Adson.

Quando, enfim, o trânsito de sua cidade receberá um pouco de atenção do poder público? Ali na altura do Supermercado 5 Irmãos, Sr. prefeito, a coisa já beira ao surrealismo. Sabe-se que o Sr. terá um trabalho árduo nem tanto para conseguir os recursos necessários para dotar de civilidade (esta é a dura, mas adequada palavra) o direito de deslocamento de pedestres e de veículos, mas terá de ter obstinação para quebrar as resistências que a cultura do provincianismo se enraizou de tal forma que nem parece que estamos no século 21.

Campanhas de conscientização, Sr. prefeito. Maciças. Densas. Repetitivas. E o vigor, em ações objetivas, do tamanho daquele utilizado no seu discurso das mudanças.

Publicado em outubro/2011

Sem nada; ou, não só de terra necessitam os brasileiros

Da República Velha, da era Getuliana até a República dos generais, do Estado Novo, do Brasil de Tancredo, Sarney, Ulysses, Collor, Itamar e agora do bem-intencionado FHC, temos acompanhado o crucial problema da terra no Brasil. Discute-se muito este assunto em épocas de eleições, diria até que de forma casuística e eleitoreira. Nestes períodos, todos os políticos (inclusive os da UDR e os que representam os donos de propriedades improdutivas, imobilizadas para efeito especulativo, ou mesmo de proprietários desinteressados por estarem envolvidos em outros negócios) se dizem dispostos a equacionar o grave problema. Passadas as eleições, entretanto, o assunto vira letra morta.

No atual governo, felizmente, vislumbra-se, mesmo que tenuemente e a passos de cágado, alguma coisa parecida com uma política coerente de assentamentos. Dirá o leitor que é pelo fato de que o atual governo é generoso, tem compromissos com as turbas esfaimadas, com os indigentes e miseráveis das cidades. Ledo e Ivo engano. É que já não dá mais para segurar, não dá mais para ignorar a modesta, porém eficiente organização dos sem-terra, que quando apartada dos oportunistas que se aproveitam do grupo para fazer política rasteira, legitima-se pelos objetivos. Não dá para passar despercebida a mídia veiculando verdadeiros exércitos de miseráveis à procura de um lugar onde possam viver com dignidade e através do suor do seu trabalho, quase sempre ocupando terras improdutivas, muitas das quais sendo meramente objeto de especulação ou apenas satisfazendo a sanha egoísta dos seus proprietários. O povo não pode continuar a conviver com a tremenda injustiça social que o assola, (dos filhos deste solo, és mãe gentil), com o governo privilegiando banqueiros falidos, usineiros desonestos e políticos profissionais especializados em fisiologismos, casuísmos e adeptos da velha máxima do “é dando que se recebe” em detrimento das massas famintas e desesperadas.

Para se ter uma ideia da calamidade social em que o país se encontra, dos 270 países que compõe o Planeta, o Brasil é um dos últimos colocados entre aqueles com as melhores distribuições da renda nacional. Enquanto 10% dos abastados, com suas bochechas coradas e suas contas bancárias, aqui e no exterior, abarrotadas de dinheiro abocanham 90% da riqueza, 90% dos marginalizados que não foram bafejados pela sorte ou não tiveram vocação para a pilhagem sofrida pela nação sobrevivem, raquíticos, Deus sabe como, com os 10% da migalha restante. Pelas contas oficiais de Brasília, o índice de desemprego está na casa dos 6%. Ora, mesmo que se tenha muito boa vontade em acreditar neste número, os desempregados chegam à astronômica cifra de 3,6 milhões de pessoas, o que equivale a 12 maracanãs lotados.

Enquanto isso, na corte… Tudo vai indo muito bem, obrigado. Exceto apenas pela desagradável tarefa de girar um pouquinho a manivela da válvula de escape, nossos dignos representantes levam a vida que pediram a Deus. Mas sejamos justos. Tudo tem que ter um começo, e FHC deu o pontapé inicial em alguns projetos sociais, inclusive no projeto dos assentamentos. Algumas pessoas despossuídas já estão vendo seus horizontes toscamente delineados. Para os operadores da válvula de escape, contudo, ainda resta muito trabalho, pois o Brasil não é composto somente por sem terra, abrigando também em seu seio os sem emprego, os sem casa, os sem saúde, os sem ensino, os sem segurança, os sem nada.

Publicado em maio/1999

Ignácio e a oposição

E indiscutível que a imagem do governador José Ignácio Ferreira ficou comprometida, e muito, com as denúncias e as evidências de que há corrupção no governo do Espírito Santo. Isso muda completamente o cenário para as eleições do ano que vem porque fortalece uma oposição que, a despeito de contar com nomes do vulto de um Paulo Hartung, de um João Paulo Velloso Lucas, de um Theodorico de Assis Ferraço e outros não menos relevantes, era considerada dispersa e sem grandes possibilidades de aglutinação e harmonia. Ficou, portanto, como grande trunfo dessa corrente não uma convergência de cunho ideológico, mas a conquista de uma importante via de acesso ao poder, tomada de forma estabanada unicamente pelas denúncias, passando ao largo de um debate amplo e consistente sobre matérias programáticas.

Esse é o ponto nevrálgico da coisa. É esse o maior pecado das oposições. Não que as denúncias não devam ser feitas e levadas ao último termo de desenlace. Elas obrigatoriamente têm de ser difundidas, apuradas com rigor, e se for o caso produzir punições exemplares. Só que elas aparecem de forma acintosamente eleitoreiras, numa abordagem sensacionalista e não dissimulada de princípios persecutórios do poder a qualquer custo, fato que diminui a credibilidade do algoz e minimiza os efeitos bombásticos da catilinária. No caso do Governo do Espírito Santo, as acusações são graves, consistentes, mas nada ficou comprovado ainda contra o governador José Ignácio, propriamente, tal como tem acontecido inclusive com o presidente FHC em vários casos ao longo dos seus dois mandatos.

Ignácio garante com isso uma boa reserva de oxigênio e poderá até restabelecer suas forças, providência que já iniciou, destituindo o primeiro escalão que estava na berlinda e integrando-se mais ao Legislativo, ao qual passou a depender como do ar que respira. Se essa união política possibilitar casamento, então as forças oposicionistas terão forçosamente de enfrentar um adversário ainda grogue mas com grande poder de fogo pela imagem que construiu de um político moderno e eficiente, reconhecido por resgatar as finanças do estado e implementar reformas de base importantes. Por ironia, esse poder pode até mesmo ser reforçado pelo titubeio da oposição em agregar nomes de consenso, porque é grande o número de pretendentes em suas hostes.

No tabuleiro da política estadual, fica no momento uma impressão de largo favoritismo para os antagônicos, mas a exemplo do futebol, o jogo só acaba quando o árbitro dá o apito final. E se José Ignácio for um estrategista do naipe do ex-treinador Oto Glória (1917 – 1986) como exemplo, ele consegue reverter o placar, na pior das hipóteses dando muito trabalho ao adversário.

Dessa briga pode emergir o desagravo em forma de desenvolvimento para o Estado e mais transparência nos atos administrativos para o capixaba.

Publicado em junho/2001

Política em Bom Jesus do Norte não dá chance a uma terceira via

O modelo político de Bom Jesus do Norte é um pequeno retrato em 3 x 4 da barafunda que assola a questão em todo o Brasil, onde os políticos de forma geral perderam a noção de partidarismo e convicções ideológicas. Aqui, como em todo lugar, é um salve-se-quem-puder individual generalizado, com a luta pelo poder se desenvolvendo à margem de programas comuns partidários, até porque os partidos deixaram de existir há muito tempo como agremiações catalisadoras de ideais para se transformarem em meros e burocráticos intermediários entre as urnas e os cargos públicos.

Como em quase todos os pequenos municípios, a política daqui é polarizada em apenas dois grupos: Messias (leia-se Umberto Messias) x Baptista (Tadeu Baptista). Quem obtiver a anuência de ambos terá tido meio caminho andado para se eleger prefeito ou garantir uma cadeira na câmara municipal. Foi assim quando Umberto e Tadeu (eles próprios) se elegeram ou catapultaram irmão e esposa, respectivamente, à vitória. Essa ordem estabelecida impede a ascensão de novas lideranças com independência de ação, impedindo a ampliação do leque de proposições que poderia descortinar novos horizontes para Bom Jesus e dar um molho mais picante nas disputas.

Alternativas para mudanças estruturais que revertam esse quadro há, assim como material humano de boa qualidade para implementá-lo. No entanto, os que têm essa possibilidade ainda não perceberam a necessidade de uma mudança conceitual no modo como deveriam encarar a empreitada, unindo-se para formatar uma terceira via com um programa correto, consistente e verossímil, aliado a uma fidelidade de princípios partidários sérios e duradouros. Em vez disso procuram a forma mais fácil — e menos meritória — gravitando na órbita dos dois astros-rei.

As eleições do próximo ano, dado o atual conjunto circunstancial, parecem favoráveis à situação. Não bastasse, ao que tudo indica, ter sido aprovada como administradora, Daisy Batista tem ainda a favor a condição de mulher como contraponto à atmosfera pesada que sempre prevaleceu no Clube do Bolinha”, e parece que Messias não projeta grandes apostas em ninguém. Talvez forçado a manter uma postura de neutralidade por exercer o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (seria difícil demonstrar imparcialidade na apreciação das contas de um escolhido), o certo é que ele tem se mantido muito à parte, numa discrição quase franciscana.

Como a política é institucionalmente dinâmica (no Brasil, aliás, exageradamente), e ainda não esquentou para valer, tudo é possível. Nada, porém, que não passe necessariamente em primeira instância pelo crivo de Tadeu e Messias. Quem quiser se habilitar a caminhar independente em 2004, que comece a pavimentar o seu caminho desde já. O maior pecado em qualquer atividade é a falta de planejamento, a improvisação ao sabor das circunstâncias. Ganhar por um projeto bem elaborado que acene com novas propostas, detonando o marasmo, é mais prazeroso para o eleito e costuma fornecer uma melhor contrapartida para a sociedade.

Publicado em setembro/1999

Adeus às ilusões?

Até que se prove o contrário, o presidente Lula é um homem direito, que pode estar com as mãos limpas em todos esses episódios que envergonham o Brasil e os brasileiros. Mãos limpas, porém, são uma coisa; irresponsabilidade, outra. Esta parece que não lhe será fácil excluir da biografia.

O presidente se meteu numa encruzilhada difícil, na circunstância de, se correr, o bicho pega, se ficar, o bicho come. Se ele realmente sabia das maracutaias e não tomou nenhuma providência além de estancar a sangria de dinheiro público usado para a mesada dos deputados, cometeu crime de responsabilidade. Afinal, a autoridade máxima do país teria de ser a primeira a abrir as portas das grades para os ladrões.

Se não sabia, fica caracterizado que na realidade ele não governa, por inaptidão ou desleixo, deixando o encargo para gente periculosa. A traição dessa gente não o absolve perante o povo, que investiu suas últimas esperanças não em Jefferson, Dirceu, Delúbio, mas em Luis Inácio Lula da Silva.

Estamos vivenciando no Brasil hoje o paroxismo da hipocrisia. Quem acredita em duendes tem a percepção de que vereadores, prefeitos, congressistas, estão de fato trabalhando em favor do país e do seu povo.  Claro que não se pode generalizar, existem as exceções, mas parece ofuscantemente claro que estas são as minorias que, por mais eloquentemente indignadas, ficam com as vozes abafadas pela algaravia do submundo e dos porões infectos da bandalheira. E o presidente Lula, que não tem nada de ingênuo, precisa explicar o porquê submerge sob as águas do pântano coalhado de sáurios gigantescos e lagartos venenosos, inteiramente desarmado.

E mais ainda: sobre o porquê não ter movido uma palha para as mudanças acenadas, que na parolagem presidencial mudariam esse estado de coisas. Ainda que desgastada — e de gosto duvidoso — a figura de retórica “a esperança venceu o medo” precisa ser lembrada para configurar o tamanho gigantesco da traição ao povo, que vai se delineando de forma brutal, estarrecedora! É angustiante pensar que os coturnos possam estar sendo carinhosamente lustrados e os generais, almirantes e brigadeiros vivendo o frenesi da nem tão remota possibilidade de retorno ao cenário, legitimados pela pergunta que não quer calar: quem vai investigar quem?

Publicado em junho/2005