Aqui eu guardo meus escritos.

Obrigado pela visita.

Carta aberta ao governador do Espírito Santo

Senhor governador Paulo Hartung

Vidas serão sacrificadas por negligência do Estado. A rodovia ES 297, que liga Bom Jesus do Norte ao trevo com a BR 101 ameaça se transformar em rodovia da morte por culpa do DER, que a abandonou à própria sorte. Verdadeiras crateras na pista, em especial no trecho a partir de Ponte do Itabapoana (distrito de Mimoso do Sul), por milagre ainda não redundaram em tragédia. Os usuários que trafegam naquela via certamente fariam este apelo, rogariam de V.Exa. providências imediatas antes que vidas inocentes sejam ceifadas.

E o senhor, mais que meramente por uma questão administrativa, mas sobretudo por um desagravo preventivo da própria consciência haverá de tomar as medidas necessárias e contrariar a percepção de que as autoridades só as tomam depois que o sinistro ocorre. As armadilhas oriundas do crime de omissão, senhor governador, são compostas de descaso e irresponsabilidade. Ainda que o poder público estadual esteja engessado por crises políticas, econômicas e policialescas que parecem não ter fim, nada justifica tamanho desleixo e pouco caso com a vida humana. O pouco tempo que o senhor está à frente do Executivo tampouco vale como desculpa, até porque os buracos têm a mesma idade e não podem ser contabilizados juntos à pilha de mazelas herdadas, senão nas novas mazelas que espera-se não se perpetuem.

Seu antecessor, acusado de ter deixado buracos astronômicos nas finanças do Estado, ao menos tapava os das estradas (pelo menos desta específica), presume-se que para legar algo de útil. O senhor e muitos de seus assessores talvez não tenham a real percepção do perigo porque se utilizam quase sempre de veículos aéreos, além do que nossa região, muito embora seja a mais carente, historicamente pouco recebe visitas ilustres, exceto nas épocas de campanhas eleitorais. Mas se o senhor por acaso vier a trafegar por aquela rodovia, ficará estarrecido com a precariedade das condições e, aceite o conselho, decuplique a atenção.

Como subsídios à sua prestimosa equipe do setor responsável (perdoe a ironia), no km 3 há um buraco de quase 10 metros de comprimento com mais de 10 de profundidade, que invadiu metade da pista; no km 13 há outro, impávido, bem no centro da rodovia, aguardando pequeníssima desatenção dos motoristas; No km 15, para variar, fortalecer o risco e elevar à milésima potência a adrenalina dos que aos poucos vão adquirindo experiência para esportes radicais, há um bem em cima da ponte sobre o rio Muqui. Todos esses buracos-mãe orgulham-se de seus filhotes robustos e netinhos perversos, traiçoeiramente acomodados ao longo de toda a rodovia e que fazem a alegria dos mecânicos de automóveis.

Desculpe-me a contundência, governador. É que pelo que depreendi dos seus discursos de campanha, julgava que esta missiva nunca fosse necessária.

Publicado em maio/2003

Decepção

O balanço do primeiro ano do governo petista do presidente Lula, se não chega a ser decepcionante, traz inquietações e muitas dúvidas sobre sua capacidade de gerir o Brasil consoante as enormes expectativas, sonhos e esperanças do povo brasileiro. Um governo que prometia mudanças estruturais sem precedentes, que prometia transformar a doutrina de espoliação e injustiças, tão enfático na disposição de combater a torpe ordem estabelecida da exploração e do sofrimento, não fez nada que trouxesse o menor indício de que haverá realmente mudanças. A Educação, a Saúde, a Segurança Pública e outros setores continuam no mesmo patamar do descaso e da incompetência.

Recebido invariavelmente com pompa e circunstâncias nos quatro cantos do mundo (o presidente que tanto combatia as viagens de seu antecessor FHC, viajou este ano mais do que aquele no primeiro ano de mandato), este prestígio entre aspas começa a inquietar porque não é difícil perceber que os aplausos são condicionantes da mesmíssima ideologia de arrocho e de angústia para o povo brasileiro, mas equivalentes à devoção dos vorazes glutões especuladores internacionais. A única coisa que está dando certo neste “governo da mudança” é exatamente o que nada mudou: a gestão da política econômica e financeira.

Os elogios às escâncaras de Fernando Henrique Cardoso e Armínio Fraga a Lula são a prova cabal de que o país continua trilhando a mesma cartilha que o ex-metalúrgico tanto combatia. O eleitor, que já percebeu há muito tempo que o discurso do PT mudou, começa a dar sinais de mágoa e desilusão. O partido que guerreava para aumentar os salários dos funcionários públicos, e que considerava a contribuição de inativos uma heresia, hoje defende justamente o contrário. O povo começa a compreender que as fulgurantes promessas de palanque eram apenas engodo para conquistar o seu voto, que o PT no governo ignora completamente o que seus candidatos juraram durante a campanha.

O salário-mínimo, cujo aumento real o presidente Lula não pôde dar em 2003, porque acabava de assumir o mandato, ia estudar depois, etc. e tal, será algo em torno de R$ 15 em 2004, um requinte de perversidade que significa desesperança para o pobre, mas lhe garantirá mais palmas e elogios no exterior. Muitos dos candidatos do PT às prefeituras e aos legislativos municipais no ano que breve se inicia estão com as barbas de molho (inclusive gente do nosso Vale do Itabapoana). Principalmente aqueles que não possuem uma identidade própria, um carisma político exclusivo, uma liderança natural peculiar independente deste ou daquele partido, em suma, aqueles que majoritariamente precisam andar a reboque do PT perigam transitar em 2004 por caminhos inóspitos, fustigados pela hostilidade dos espinhos.

É espantoso que na monumental edificação chamada Brasil, que urge tão complexas, urgentes e colossais reformas, nem uma parede foi ainda pintada, sequer foram adquiridas a broxa e a cal.

Publicado em dezembro/2003

Bonjesino, a praça e a…, dengue! Ou, “…Muitas vezes procuramos o que já temos. Nessa procura, trocamos ouro por cobre, diamantes por vidro e pedras preciosas por seixos…”

— E aí, chefia? Viu que beleza de praça?

— Anhnn?, firmei os olhos para reconhecer o brutamontes que vinha a passos largos, gritando ao longe.

— Bonjesino?

Sim. Era o ciclope. Quase dois metros de altura, ingênuo, boa-praça, apaixonado pelas Bom Jesus e mais ainda pelos políticos do lugar; reage bravamente quando alguém os critica.

— Você não vai acreditar, disse ele antes mesmo do abraço de paquiderme que quase me tritura os ossos. — Maravilha, chefia! Acabei de ver. Tem chafariz, parquinho que encantaria até as crianças da família real inglesa, revestimento cerâmico que as celebridades do Oscar pisariam com prazer, jardins magníficos, e patati, patatá.

— Espere aí, bonjesino, interrompi-o no momento em que sua euforia atingia os píncaros. — Você está falando…

— Da Praça Governador Portela (Bom Jesus/RJ), afirmou excitado, sem me deixar completar a pergunta.

— Calma, bonjesino. Relaxe. A praça é bonita, realmente. Também, custou R$ 2 milhões do seu, do meu, do nosso suado dinheirinho.

— Do meu não, chefia. Nem do seu. É todo do Governo do Estado. Eu não dei um centavo. Aliás, se me pedissem, até que separava um dia do meu trabalho…

— Do seu dinheiro, sim, amigo. Você não come feijão, arroz? Não compra remédios? Não paga conta de luz e água? Não toma umas e outras de vez em quando?

— E daí?

— Imposto, criatura. Você paga imposto.

— Não pago nadica de nada. Lá vem você inventando coisas só pra não fugir àquela sua velha mania de criticar.

— Ah, é? Saiba que o imposto médio dos alimentos é de 17%. Isso quer dizer que quando você vai ao supermercado e compra R$ 100, deixa R$ 17 limpinhos, limpinhos, de imposto, que é o dinheiro que, entre outras coisas, estão usando para fazer a praça.

— Não me diga.

— E digo mais: na firma em que você trabalha, de cada R$ 1 mil de faturamento, R$ 340 vão para o governo, já que a carga tributária média das empresas é de 34%.

— ???!!! Agora sei porque o patrão reclama tanto. Mesmo assim, chefia. Dá gosto pagar para ver aquela maravilha.

— E no mais, amigo? Fora a praça, o que há de bom por aí?

Precedendo a resposta, um daqueles olhares penetrantes, mistura explosiva de indignação e censura.

— Sei onde quer chegar. Estou acostumado. Não comece, viu?

— Só fiz uma pergunta…

— Daquelas maliciosas. Como se nada mais de bom existisse.

— Por exemplo: o quê?

— Tem a…, sabe…, aquela… vai dizer que também não viu… o problema da…, foi resolvido… os moradores até…, ninguém pode dizer… aquilo ficou ótimo… a rua está…, o caso do…, beleza, tudo de bom…, lembra do…, solucionado, sim, solucionado…, os servidores…, ufa…, tanta coisa…

— Estou vendo. Muita coisa. Nada ruim?

— Só a Dengue.

— Ruim até demais, complementei.

— Mas não é culpa das autoridades.

— Não?

— Culpa nossa. Veja que enquanto elas estão dando o maior duro, trabalhando desesperadamente pelo nosso bem-estar, o que a gente faz, hein, hein?, perguntou com trejeitos furiosos, a candura momentaneamente posta para escanteio. E completou, esbravejante: —deixando lixo espalhado, copinhos de iogurte, tampinhas de cerveja, pneus, vasos de planta cheios de água sem trocar por 200 anos, caixas d´água descobertas, matagais abandonados em forma de terrenos.

Difícil seria convencer Bonjesino de que a culpa é, sim, majoritariamente das autoridades, que têm a prerrogativa de legislar, regulamentar, fiscalizar e punir; que possuem os mecanismos, os meios para conscientizar, alertar, insuflar os instintos de autopreservação.

— Até parece que você é uma autoridade, Bonjesino, pois algumas delas dizem a mesma coisa.

— E estão certas. A culpa é do povo…

— …Que as elege…, atalhei-o timidamente, afastando-me um pouco do gigante por puro reflexo condicionado de autodefesa, desnecessário, porém, porque Bonjesino é incapaz de estapear um…, Aedes!

O semblante do colosso enfarruscou-se. Passados alguns segundos de tensão, porém, transformou-se numa máscara encorpada de ironia quando seus três neurônios ordenaram a afirmativa que considerava fatídica, lapidar, que poria uma pá de cal no meu estoque de argumentos:

— A, há…, cerrou o punho balançando-o loucamente para a frente e para trás. — Toma essa, chefia, preparou-me para a estocada mortal. — Eu vi na TV que a Dengue está barbarizando em todo o Brasil. Não é só em Bom Jesus, não, viu seu escrevedorzinho maledicente?

— Tem razão, Bonjesino. Essa praga infelicita todo mundo. O Estado do Paraná teve 1.383 casos confirmados até o dia 14/2 na totalidade dos seus 399 municípios. Bom Jesus teve 266. Ou seja, cada município paranaense confirmou, em média, 3,5 casos. Nós confirmamos 266, repeti, acentuando o tom na pronúncia dos números.

— É mesmo, chefia? Três casos e meio contra duzentos e sessenta e seis?

— Isso.

— Mas…

— Nem mas nem meio mas. O problema é o gosto de viver de aparências. Nessa ensandecida escala de valores, mais vale uma praça do que a saúde da população, que fica pelos corredores e pelas filas esmolando um atendimento o mais simples. E continuei, sem dar chances a apartes: — quando a doença complica, e a dama da foice se aproxima para tomar os apontamentos exigidos por São Pedro a fim de dar a destinação de cada um, dá-se a debandada para Itaperuna, Campos, qualquer outro município que dificulte um pouquinho mais o hálito quente da morte bafejar no cangote desprotegido, indefeso, vulnerável.

— Pare, homem de Deus. Está vertendo bílis pela boca, cruz em credo! O dinheiro da praça estava lá dando sopa, tipo me leve por favor. Mas só podia ser usado na praça, era verba específica. Você acha que nossas abnegadas autoridades iam deixar escapar a oportunidade?

— Melhor teria sido, Bonjesino. É vergonhoso, ridículo, inominável que uma população padeça de tantas carências, nos mais variados aspectos, e queiram operar o milagre de acabar com elas retinindo-as com penduricalhos efêmeros e vãos como a sombra que passa.

— Vou-me embora, chefia. Chega de tentar convencer um ingrato de que nossos políticos são o que há de mais altaneiro. Você não merecia de Deus o dom de escrever. Até Ele, até Ele você é capaz de criticar.

— Pensando bem…: “Deus, oh Deus, onde estás que não respondes/ em que lua, em que estrela Tu T´escondes/ embuçado nos céus…”

Dizeres de Castro Alves. Para quem gosta de poesia, por que não se inspirar no genial poeta e compor elegias, como derradeiro alento, em meio a tanta dor?

Publicado em março/2011

Bom Jesus precisa de vontade política; a cidade clama desesperadamente por “terapias”

O ano que se finda marcou um paradoxo em Bom Jesus do Itabapoana/RJ: enquanto a iniciativa privada pontificou fortemente sua vocação empreendedora, o poder público patinou na velha incapacidade de dar conta dos seus mais elementares misteres. Neste 2006 foi ainda pior: sucumbiu de forma lastimável à cegueira do descortino de horizontes em face de equações insolúveis, formadas, pode-se usar a figura, num conjunto de eventos sinistros, simultâneos e imponderáveis, tal como acontece para um desastre real. E foi um desastre figurado de tais proporções que o servidor municipal chega ao fim do ano com quatro meses de salários em atraso (assim é no momento em que estas notas estão sendo produzidas). Se fosse uma empresa privada, a prefeitura teria se pulverizado há tempos.

Em contraponto, os empreendedores locais deram conta do recado mais uma vez. Trabalhando sob a expectativa do velho e universalmente consagrado lucro (o que não é o caso da Viúva assistencialista), o empresariado deu uma aula de planejamento e eficiência, mostrando que a disposição e a criatividade são fortes o suficiente que, às vezes, nem dependem do Estado (no caso o município), entidade que em vez de pavimentar as vias do crescimento só tem feito esburacá-las. Novas lojas de supermercados, shopping, prédios residenciais e comerciais e outros empreendimentos de expressão mostram o particular como um vigoroso condor, enquanto a cidade desorganizada remete o público a uma espécie de Ícaro melancólico.

Imaginemos como seria se ambas estivessem por igual no ápice da pujança, esbanjando saúde, unidas como deveriam no esforço desenvolvimentista. Itaperuna que botasse as barbas de molho. Mas, como ensina a Bíblia em Eclesiastes (3,1-3), que “tudo tem o seu tempo determinado. Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de colher; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derrubar e tempo de edificar…”, rezemos e torçamos para que na vida pública de Bom Jesus haja pessoas que não perderão a noção do seu próprio tempo. Aproveitar a seara dos bons augúrios políticos em nível estadual, que possam se espraiar até Brasília parece uma boa aposta para 2007 em diante. Vamos ver.

Se a brisa refrescante finalmente estacionar nos cofres municipais, e o balão de oxigênio puder se aposentar para alegria do funcionalismo, não será de bom alvitre se darem por satisfeitos. A cidade clama desesperadamente por terapias outras que, se não tratadas com vigor no presente, ganharão cronicidade no futuro. O trânsito e o incrível descaso ao código de posturas por parte do cidadão e das ditas autoridades é um dos outros graves males. Impressionante como Bom Jesus está verdadeiramente desorientada neste aspecto! Carros estacionam em qualquer lugar. Dia destes havia um em frente à antiga Ford, bem no meio da faixa de pedestres. Um ônibus que vinha da Av. Padre Mello não conseguiu curvar em direção à Itaperuna: ficou entalado sem poder seguir nem recuar. No meio das quatro direções. Nó cego total. Seis minutos, contados, em que só motos, bicicletas e pedestres puderam seguir seu caminho em todas as direções. Nenhum guarda de trânsito, e provavelmente sequer uma advertência ao folgado ou à folgada que transtornou dezenas de pessoas com sua atitude negligente, egoísta.

Dizia dos carros, mas motos, a mesma coisa; ciclistas que jamais devem ter ouvido a palavra contramão; transeuntes se deslocando no meio das ruas por falta da mais incompreensível noção do perigo (não se sabe o que é feito do instinto de autopreservação da própria vida), e em boa parte simplesmente por não terem opções, já que as calçadas vivem obstruídas pela mais variada tralha, desde materiais de construção, caixotes, engradados e até mesmo a tomada da via pública na mais deslavada cara-de-pau para uso particular.

Estes são alguns desafios que a autoridade tem pela frente e deve enfrentá-los sem medo de cara feia nem da perda de votos. A questão é cultural, de maus hábitos enraizados firmemente ao longo das décadas. Então, é preciso primeiramente ampla campanha educacional. Em seguida, ter aquilo roxo para fazer cumprir os regulamentos. Uma calçada desobstruída, reabilitada ao seu dever original de ofício pode subtrair o voto do comerciante prejudicado, mas certamente adicionará os dos beneficiários da via livre. O convívio com a desordem, com um sistema viário sofrível em meio ao caos promovido por usos e costumes arcaicos, provincianos, anacrônicos, chega às raias do primitivo.

Os hábitos conservadores do tempo das diligências, na era em que o homem planeja viajar em férias à Lua são inteiramente incompatíveis com a modernidade, com uma cidade organizada e aprazível, com uma sociedade cortês e progressista. Se construir elevados, túneis e minhocões é impensável, que pelo menos se alarguem traçados, sinalizem decorosamente as ruas e avenidas e se evitem a indecorosa transgressão à ordem. Isto, sim, é possível. Basta vontade política e disposição para contrariar alguns interesses em prol dos de todos. Uma cidade mais bonita, mais contemplativa, moderna e humana se elevaria por sobre os destroços da apatia, da ineficiência e da acomodação!

PS.: No aspecto desorganização viária, tráfego, tomada de calçadas, falta de sinalização, Bom Jesus do Norte não tem mais crédito do que sua co-irmã. Talvez os projetos pudessem ser elaborados a quatro mãos, quem sabe?

Publicado em dezembro/2006

Caos na Saúde Pública para a plebe rude; Sirio Libanês pago a peso de ouro pela plebe rude para a casta política privilegiada

O Hospital Sirio Libanês, em São Paulo, um dos mais completos e avançados do Planeta frequenta o noticiário com bastante regularidade, quase concorrendo com a previsão do tempo. Isto porque 10 em cada 10 famosos e notáveis — políticos em profusão — lá acorrem quando daqueles terríveis momentos em que a vida se vê ameaçada. Principalmente para políticos de todos os naipes, oriundos dos mais variados recantos brasileiros, o Sirio Libanês é o amigo certo das horas incertas. Alguns para lá se deslocam em reluzentes jatinhos e helicópteros.

Para a plebe, só desacolhedores incertos. Incertos, não sabidos, esquivos. Muitas vezes aboletados numa Van ou veículos outros, consomem-se em longas viagens para municípios um tantinho melhores que os de origem, curtindo sua dor física e sua amargura dessa tremenda, terrível, inaceitável injustiça social. Lá se misturam aos nativos, formando uma massa de desesperados e desesperançados. E o país tão vasto, tão rico, nada menos que a 6ª economia do Mundo, que gasta bilhões de dólares para sediar Copa do Mundo, outros tantos bilhões para nutrir a corrupção desenfreada, destina migalhas para a Saúde da população.

A situação lamentável dos hospitais abarrotados, atendendo a pacientes nos corredores, com carência de médicos, sem medicamentos, incapazes de realizar o mais simples procedimento, pululam no noticiário como um contraponto cruel e infame aos boletins do Sirio Libanês. Estes boletins são lidos com a fleuma de um lorde inglês por médicos componentes da mais fina flor da ciência, que em seus jalecos alvíssimos e de boa grife dão aos desventurados os informes sobre a quantas anda o tratamento do figurão da hora.

O senador Cristóvam Buarque foi ridicularizado certa feita ao sugerir um projeto que obrigasse a que todo político devesse educar os filhos em escolas públicas. Só assim, dizia o senador, teríamos uma Educação de qualidade. E da mesma forma que na Educação, se ao político fosse vedado o atendimento em instituições particulares de saúde teríamos o melhor sistema do mundo. Um dos candidatos a prefeito de Bom Jesus do Itabapoana/RJ se diz disposto a, entre outras coisas no setor, reabilitar o Hospital São Vicente de Paulo. E sabe que o município nada tem a ver com a administração da entidade, que é de natureza privada. Mesmo assim, propõe-se a interagir com a direção, afirmando que poderá até despachar o expediente como prefeito dentro das dependências do nosocômio até que ele volte ao atendimento pleno de outrora.

Se essa disposição do candidato é em sentido literal ou figurada, pouco importa, mas a mensagem que dela se manifesta, sim. Neste sentido, e enquanto a Saúde estiver tão calamitosa, prefeitos, governadores e até a presidente da República deveriam despachar nas secretarias de Saúde e no Ministério da Saúde. E só retornarem a seus gabinetes suntuosos quando a população que lhes paga o Sirio Libanês puder dispor de centros de saúde condizentes com suas necessidades e direitos.

Publicado em setembro/2012