Aqui eu guardo meus escritos.

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Em Brasília, pizzas de todos os sabores, para todos os gostos

Uma rede de pizzarias no Reino Unido afirma testar a entrega de pizzas usando drones no país, de acordo com reportagem do site Mashable. Os robôs controlados à distância conseguiram entregar a pizza aos clientes normalmente, segundo comunicado da pizzaria. Foi o bastante para o desenhista Lute fazer a charge com muito senso de oportunismo.

Nossos ouvidos já estão familiarizados com a frase “a CPI vai dar em pizza”. CPI da Corrupção, do PC Farias, dos Anões do Orçamento, dos Precatórios, do Judiciário, do Narcotráfico, do Banestado, dos Correios, da Petrobrás, do Cachoeira…, e tantas outras. Aliás, minto: uma CPI que não acabou em pizza foi a da Pedofilia. Uma das poucas que realmente trouxeram coisas úteis para a sociedade. Mas pensando bem, talvez porque, se não me falha a memória, é que não houve nenhum político envolvido (pelo menos nenhum do bando das raposas felpudas), daí o sucesso retumbante. Ou será que meu raciocínio está errado?

Uma coisa que devemos lembrar é que as CPIs não têm poder de processar ou punir ninguém, apenas adianta o lado da Justiça. Portanto, pizzaiolos não são prerrogativa apenas do Poder Legislativo. Dizem que esse negócio de associar resultado nenhum de CPI e pizza começou no futebol, década de 1960, quando a Sociedade Esportiva Palmeiras vivia uma grave crise. Daí que os dirigentes, depois de discutirem um dia inteiro, se reuniram numa pizzaria para continuarem a troca de ideias. Chope vai, chope vem, pizza vai, pizza vem, selaram a paz ali mesmo; a crise sumiu. Então, um jornalista esportivo não titubeou em estampar como título de sua matéria no dia seguinte: “Crise do Palmeiras acaba em pizza!”

Publicado em junho/2013

Pobre povo brasileiro: é roubado em bilhões e só protesta por vinte centavos

A charge do Nani é uma gaiatice visual que ajuda a gente a colocar em ação o velho adágio rir pra não chorar. São Paulo ferve no caos, faz lembrar Atenas, Damasco, Paris, Cairo, etc. As pessoas têm o seu direito de ir e vir cerceado, se alguém morreu porque não pôde ser socorrido a tempo…, paciência, a causa é nobre. Nas megalópolis estrangeiras os protestos são movidos a coisinhas, digamos assim, menos importantes: crises econômicas e políticas, vontade de mudar governos corruptos, autoritários ou incompetentes. Aqui, não, violão. Em Terra Brasilis não ficamos perdendo tempo com essas minudências. Pouco estamos nos lixando para os mensaleiros que desviaram milhões e milhões dos cofres públicos; com o Maluf gozando as delícias da vida nababesca, tendo a mão beijada pelo ex-presidente Lula em busca de apoio político, enquanto a maldosa da Interpol coloca, vejam só, cartazes de procura-se o homem em vários países; montanhas de dinheiro transportado em cuecas; escândalos pipocando a três por dois diariamente, e assim sucessivamente pelos séculos e séculos, amém. Isso a gente releva. Agora, aumentarem as passagens de ônibus em R$ 0,20? Aí já é querer gozar com a nossa cara. Roubar da gente tão pouquinho não dá, pensam o quê? Só aceitamos roubos milionários, somos mesmo os tais.

Incrível isso. Jovens vestindo camisetas de marcas famosas, tênis de R$ 600 o par, ferindo policiais, depredando, incendiando a cidade…, por R$ 0,20. Ah, mas estão brigando pelos carentes… Coisa nenhuma. Estão se divertindo, isso sim, às custas justamente dos mais carentes, os que mais sofrem com a baderna. Depois chegam em casa, ligam seus aparelhos nas redes sociais e celebram, frenéticos, suas performances.

Triste, muito triste, Nani, concluir a que ponto chegamos, a quão vazia anda a mentalidade coletiva que nada idealiza no campo das conquistas éticas, morais e sociais, mas tão-só a bagunça pela bagunça. Só mesmo o cara aí da charge fazendo a promoção de três pedras a R$ 10 traz o alento que a comicidade propicia, mas que é, sobretudo, uma cruel metáfora do prejuízo fenomenal de um povo por causa de vinte centavos. Quem vocês acham que pagarão a conta, galera? Raciocinem, nem que seja uma vez!

Publicado em junho/2013

O gigante acordou e assusta a politicada. Que mande tentáculos para Bom Jesus e região

No início das manifestações em São Paulo fiz um texto condenando as depredações, a baderna, além de questionar os princípios de tão grande número de pessoas resolver brigar por causa do aumento de vinte centavos de Real no preço das passagens dos ônibus, enquanto políticos roubam bilhões e quase ninguém diz nada. Surpreendi-me muito positivamente depois com a continuidade da manifestação, que demonstrando fôlego para continuar mostrou que não se restringia a meia dúzia de bandoleiros (sempre há em qualquer movimento) e que os R$ 0,20 foram a gota d´água a romper o dique da gigantesca onda de indignação e revolta pelas circunstâncias de um país à deriva, cercado de vagas monstruosas de corrupção, incompetência, descaso, hipocrisia, megalomania, coisa e tal. Melhor: espraiou-se para os quatro cantos do país.

Censurei os valentes com coquetéis Molotov, pedras e bombas caseiras nas mãos, porque se violência e quebra-quebra resolvessem alguma coisa, a Terra seria o paraíso para os mais fortes fisicamente. Mas o que emergiu daquele casulo, inicialmente a meu ver purulento de bagunça pela bagunça, foi algo precioso, algo que parecia morto e sepultado, e que se mostra agora mais vivo do que supunha a vã filosofia da matreira política. Qual Fênix a ressurgir das cinzas, a indignação mostrou sua face jovial e bela, o descontentamento apresenta-se hígido, com brios de um Sansão de compridas madeixas, o conformismo se nutre de kriptonita e se transfigura em seu antônimo, sólido como aço. Demorou, mas veio, ardente como o vento do Saara a reação que, sem bandeiras políticas claramente definidas, aplica um duro golpe em todas elas. Aplica sobretudo às que se revezam há 10 anos, sejam tremulando no espectro de terra arrasada como protagonistas, ou coadjuvantes (na realidade todas, porque a rigor não há oposição com O maiúsculo).

Ficam com as caras abestalhadas até mesmo os papas da comunicação, os marqueteiros das agremiações partidárias nutridos a ouro em pó, incompetentes e incapazes, todavia, de preverem que o pessoal do mundo virtual estava prestes a tirar o traseiro da cadeira e os olhos nos facebooks e se materializar no mundo real. Está sendo um pandemônio! Políticos de variados matizes olham-se aparvalhados, perplexos, como passageiros de um Titanic de dimensões planetárias que acaba de colidir com um rochedo de gelo. Nestes momentos cai a empáfia — que os eleva ao altar da imortalidade — e se instala o pânico, a certeza nua e crua da fatal mortalidade.

Ainda que mais nada aconteça, uma transformação se fez no país. Nada mais será como antes, o espectro das redes sociais rondará como zumbi as cabeceiras do entourage político e despedaçará cada fibra da sensação de impunidade e pequenez de princípios éticos. Pensei que morreria sem desfrutar tal satisfação, que será ainda maior se puder presenciar algo semelhante em nossa microrregião, que vem merecendo, há décadas e décadas, um sonoro e retumbante BASTA!

Publicado em junho/2013

“O governo não é a solução, é o problema”; e as manifestações não são o problema, são a solução

O pedaço do título entre aspas é uma famosa frase do ex-presidente norte-americano, Ronald Reagan (1911/2004). Pior para nós é que o atual governo brasileiro não é apenas o problema, é o problemão, Absurdamente caro, ruim e inepto, é o vice-campeão na quantidade de ministérios (39), só perdendo para o garboso Congo (40). É ministro batendo cabeça com ministro, e das concussões cerebrais daí advindas o Brasil entrou em coma.

O Banco Mundial listou os 10 países campeões em carga tributária. Sabem quem é o campeoníssimo absoluto? Sim, ´é nóis´. De acordo com o Banco, o Brasil é o país em que as empresas precisam trabalhar mais horas para pagar os impostos. Uma empresa média tem de trabalhar 2.600 horas, colocando o país na 183ª posição no ranking mundial — último lugar. A Bolívia, segunda pior colocada em 2011, 1.080 horas, menos da metade. Diria a vizinha gorda e patusca de alguém na Ucrânia (país na décima colocação – 657 horas) que o brasileiro deve ser o povo mais bem atendido no serviço público em nível mundial, quiçá planetário. E qual não deve ser o tamanho da estupefação dessa ucraniana, olhos arregalados na TV e nas redes sociais vendo as manifestações de quem possui uma saúde pública impecável, a melhor Educação e segurança total.

Na cabeça da ucraniana deve passar um filme do genial sistema de transporte coletivo brasileiro, onde todos viajam sentados nas poltronas estofadas de ônibus moderníssimos, que trafegam em vias elevatórias exclusivas, cujo trajeto de Santa Cruz ao Centro do Rio de Janeiro dura apenas 30 minutos, em viagem direta, os passageiros sentindo a brisa refrescante do ar-condicionado e ouvindo música ambiente suave e relaxante. Tudo a 1 Real. Ela contemplaria Bom Jesus do Itabapoana pela Internet e sentiria inveja da praça Governador Portela, pensando lá com seus botões que, pela exuberância da praça, coerentemente nossos hospitais (no plural majestoso) só não podem realizar o que Jesus Cristo fez a Lázaro, ou seja, ressuscitar defunto. Vendo estádios cinematográficos padrão Fifa, e tanta ostentação dos próprios públicos, a vizinha patusca perguntaria: que diabos esse povo quer mais?

Publicado em junho/2013

Sangue a areia. O desabamento do Palace II é mais uma mazela de políticos criminosos

Qual a probabilidade de um irmão de presidente da República (Pedro Collor) denunciar publicamente a quadrilha que o assessorava? Qual a probabilidade de um graduado funcionário do Congresso (José Carlos Alves) ser preso, acusado de mandante do assassinato da própria mulher e, para se livrar da responsabilidade denunciar os anões robustos e corados do Orçamento? Qual a probabilidade de se gravar conversas comprometedoras de parlamentares à venda e arrematados em liquidação da hora? Qual a probabilidade de um prédio (Edifício Palace II) de 176 apartamentos ruir como um castelo de cartas, sepultando pessoas, objetos, sonhos?

E, no entanto, acontecem, desvendando de per si os mistérios estarrecedores da parte putrefata do poder, possibilitando uma análise ainda mais cruenta: Se estes raros acontecimentos trazem à baila tantas maracutaias, tantas falcatruas, tanta ladroagem, o que dizer da face oculta, já que nem todo dia aparecem irmãos com egos feridos, gravadores e grampos eficientes e edifícios se autoimplodindo?

O Sr. Sérgio Naya, exemplo desse naipe com sua im(p)unidade aviltante segue célere pelos labirintos do poder à margem da lei e da ética, subornando, corrompendo e construindo prédios descartáveis, mas omitindo perversamente seu prazo de validade. Esse picareta, um criminoso que deveria apodrecer na cadeia conta com o descaso, a omissão e incompetência igualmente criminosas de órgãos fiscalizadores dos seus empreendimentos de goma arábica com papelão nessa nossa “Suicindia” (Carlito Maia diz ser a mistura de Suíça das contas numeradas com India das turbas esfaimadas).

Não há muito o que dizer do episódio do edifício Palace II. Nosso vasto idioma carece de adjetivos superlativos para exprimir a real dimensão da revolta e indignação, principalmente ao nos dar conta de nosso destino ser delineado por muitos dessa estirpe onipotente de decidir sobre a vida e a morte, às vezes no sentido literal! Deste trágico episódio tira-se outra melancólica constatação: sem os manos delatores, gravadores ocultos, mulheres em holocausto ou prédios desabando ficam indisponíveis outros capítulos da novela subliterata “O jogo do poder”, cujo enredo inspira demais literatices macabras — porém reais, como este último episódio de “Sangue e areia”.

Publicado em março/1998