Aqui eu guardo meus escritos.

Obrigado pela visita.

Sangue a areia. O desabamento do Palace II é mais uma mazela de políticos criminosos

Qual a probabilidade de um irmão de presidente da República (Pedro Collor) denunciar publicamente a quadrilha que o assessorava? Qual a probabilidade de um graduado funcionário do Congresso (José Carlos Alves) ser preso, acusado de mandante do assassinato da própria mulher e, para se livrar da responsabilidade denunciar os anões robustos e corados do Orçamento? Qual a probabilidade de se gravar conversas comprometedoras de parlamentares à venda e arrematados em liquidação da hora? Qual a probabilidade de um prédio (Edifício Palace II) de 176 apartamentos ruir como um castelo de cartas, sepultando pessoas, objetos, sonhos?

E, no entanto, acontecem, desvendando de per si os mistérios estarrecedores da parte putrefata do poder, possibilitando uma análise ainda mais cruenta: Se estes raros acontecimentos trazem à baila tantas maracutaias, tantas falcatruas, tanta ladroagem, o que dizer da face oculta, já que nem todo dia aparecem irmãos com egos feridos, gravadores e grampos eficientes e edifícios se autoimplodindo?

O Sr. Sérgio Naya, exemplo desse naipe com sua im(p)unidade aviltante segue célere pelos labirintos do poder à margem da lei e da ética, subornando, corrompendo e construindo prédios descartáveis, mas omitindo perversamente seu prazo de validade. Esse picareta, um criminoso que deveria apodrecer na cadeia conta com o descaso, a omissão e incompetência igualmente criminosas de órgãos fiscalizadores dos seus empreendimentos de goma arábica com papelão nessa nossa “Suicindia” (Carlito Maia diz ser a mistura de Suíça das contas numeradas com India das turbas esfaimadas).

Não há muito o que dizer do episódio do edifício Palace II. Nosso vasto idioma carece de adjetivos superlativos para exprimir a real dimensão da revolta e indignação, principalmente ao nos dar conta de nosso destino ser delineado por muitos dessa estirpe onipotente de decidir sobre a vida e a morte, às vezes no sentido literal! Deste trágico episódio tira-se outra melancólica constatação: sem os manos delatores, gravadores ocultos, mulheres em holocausto ou prédios desabando ficam indisponíveis outros capítulos da novela subliterata “O jogo do poder”, cujo enredo inspira demais literatices macabras — porém reais, como este último episódio de “Sangue e areia”.

Publicado em março/1998

O Sr. Blatter administra o circo; o governo generoso dá o pão; e o povo, ingrato, vaia. Recebeu um pito do presidente da Fifa

Blatter e Dilma: constrangimento

Ontem (15/6) a presidente Dilma Roussef foi sonoramente vaiada no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, quando da abertura da Copa das Confederações. Não uma, nem duas, mas três vezes: quando anunciaram sua presença; quando o presidente da Fifa Joseph Blatter mencionou seu nome, e quando ela própria discursou rapidamente, em alguns segundos que duraram uma eternidade para ela, ao declarar aberto o torneio. Blatter até interveio censurando o povaréu, pedindo fair play que, no português claro, quis dizer educação.

Sem disfarçar o constrangimento, Dilma deve ter pensado, de dentro do buraco ontológico em que enfiou a cara, que o sábado foi um daqueles dias que não deveria ter saído de casa. Ninguém gosta de ser vaiado, claro. Mas nestes tempos em que os governantes petistas sentem-se como semideuses, o apupo do povão dói mais. O alarido da torcida magoou, mesmo considerando que Dilma já vinha sendo treinada em receber vaias metafóricas pela inflação, pelo pibinho, pela desaceleração da economia, pela queda vertiginosa nas pesquisas de popularidade, pela faxina ética que ameaçou fazer e não fez, pela base aliada mais infiel do que pensava Bentinho, de Capitu, pela mediocridade, enfim, deste governo que é uma cópia ruim e melancólica da única bandeira lulista — o assistencialismo desvairado.

Isso significa que ela corre riscos para se reeleger? Não sei. Ainda que a vaia fosse na Arena Pernambuco, na Fonte Nova ou no Castelão, permaneceria em dúvida porque público futebolístico é uma coisa, e público bolsafamilístico, outra. Fica, porém, definitivamente estabelecido: candidato a demiurgo desce do etéreo pedestal, coloca a empáfia n embornal e se conforma ser simples mortal, para rimar legal. O que precisa acontecer com Blatter. Mesmo o futebol sendo o esporte predominante, sua senhoria, ainda que o presidente da todo-poderosa Fifa, não tem o direito de se meter na vaia alheia. Que credenciais divinas o Sr. Blatter possui para se encher de razões e dar esporro no povo? A vaia, Sr. Blatter, assim como outras manifestações que não afrontem a lei e a ordem, são mecanismos democráticos que o cidadão tem para demonstrar insatisfação. Qualquer ato, ação ou atitude de censura a ela denota autoritarismo, princípios totalitários.

Quer dizer que o Sr. julga que o povo, além de pagar o preço estratosférico por suas arenas, pagar o preço exorbitante das mordomias que um simples beija-mão do papa por Dilma custara R$ 700 mil, não tenha o direito de vaiar? Tem de aplaudir de pé com as mãos, enquanto os senhores sacodem as joias para ditar o ritmo? Menos, Sr. Blatter, menos. Não venha dar pitaco na vaia dos outros. O povo já tem o pão da bolsa esmola, e o circo que, a propósito, um deles o Sr. administra. Mas ele, o povo, não quer só isso. E não sou eu quem diz; são as vaias!

Publicado em junho/2013

O governo se elege combatendo as elites e faz estádios para… a elite?

Até os azulejos do Maracanã e demais arenas cinematográficas em todo o país sabem que dinheiro público grosso, que se empilhado cédula por cédula chegaria a Marte, foi gasto nas obras megalomaníacas dos estádios. Enquanto isso, cidadãos morrem nos corredores dos hospitais sem leitos; animais morrem de sede no Nordeste, e seus proprietários contemplam com amargura as obras inacabadas de transposição do Rio São Francisco, que só Deus sabe se, e quando, serão concluídas, não obstante terem tragado uma montanha gigantesca de dinheiro do erário.

Pois bem. No sábado (14/6) a presidente Dilma foi intensamente vaiada no Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Os apupos foram de tão grande intensidade, que Joseph Blatter, presidente da Fifa, pediu fair play (minha tradução livre: seus mal-educados, respeitem a inatacável presidente). Uma pausa: mesmo não estando presente no Mané Garrincha, vaiei também, pelas ondas magnéticas da decepção com os rumos do país, e, por suposto, também fui repreendido por sua senhoria, o todo-poderoso Blatter. Não aceitei, contudo, o esporro, e até fiz dois textos em repúdio (aqui e aqui.)

Aliás, se o Brasil fosse uma nação que se desse ao respeito, esse estrangeiro seria admoestado por se imiscuir na soberania alheia e constranger tantos milhares de brasileiros na própria casa destes. Pior: repreendeu-os por terem exercido o direito sagrado de protestar pacificamente, o que é legítimo num regime democrático.

Retomo o fio: nem bem a presidente se refez da ressaca vaialítica, muitos analistas — presumo que chapas-brancas — entenderam ter as vaias partido das elites. O raciocínio é que pobre não pode pagar R$ 280 por uma entrada, nem seria convidado de patrocinadores ou parceiros da festa de abertura da Copa das Confederações, que distribuíram ingressos a personalidades vips.

Então tá. Se não foram os pobres que vaiaram Dilma…, o governo fez estádios para as elites, é isso? Será que esses analistas dirão também que as gigantescas manifestações de rua, em número sem precedentes de participantes e de abrangência terão sido compostas só pelos muito bem remediados?

Publicado em junho/2013

O imposto do sonho

Paga-se para nascer, viver e morrer. Impostos, taxas, contribuições. Paga-se tudo, exceto o ar que se respira, ao menos por enquanto. Mas não está longe a época que se pagará também por este elemento vital. Já estamos chegando lá, e a maior prova é que atualmente já estamos pagando para… sonhar! Mega-Sena; Super-Sena; Quina; Loteria Esportiva; Loteria Federal; Raspadinha, explorados pelos estados e pela União; Tele-Sorte, Tele-Sena; Papa-tudo; Bingos; sorteios diversos, explorados pela iniciativa privada, especialmente pela mídia televisiva, fazem parte dos chamados jogos legais. O jogo do bicho; cassinos; briga de galos e outros animais são os ilegais.

Além dos citados acima ainda existem inúmeras modalidades de jogos que a imaginação humana concebeu com a finalidade de explorar seus semelhantes. O Brasil é o quarto país do mundo em movimentação de bilhetes de jogos e o décimo em arrecadação. No ano passado, a arrecadação ultrapassou a casa dos 2,5 bilhões de reais, isto somente com os jogos considerados legais. A CEF, detentora de mais de 95% da exploração do jogo, tornou-se uma instituição especializada na arte de faturar em cima dos devaneios do povo, agravados pela falta de perspectiva e pelo arrocho sem precedentes patrocinado pelo Real. É uma instituição que realiza sua função social às avessas, muito morosa e burocrática, além de ineficiente com a política habitacional, porém extremamente serelepe quando se trata de tirar o suado dinheiro do povo através dos jogos.

Incontáveis as vezes que ela mudou as regras dos jogos, sempre de olho cada vez mais gordo no aumento da arrecadação. Em cada mudança ocorre um fenômeno cada vez mais sórdido, pois ao contrário do comércio, onde um produto que sofra aumentos de preços tem a tendência de vender menos, no caso dos jogos tem um efeito duplo no crescimento do valor arrecadado, porque como o prêmio fica maior, as pessoas tendem a apostar mais. De olho nesse filão inesgotável entraram a iniciativa privada, clubes e associações. Muitos, inconformados com a perda do lucro fácil proporcionados pela inflação alta, ou pela incompetência operacional, resolveram lançar mão da pilantragem para poder sobreviver, inundando o Brasil das mais variadas modalidades.

Na TV aposta-se de tudo pelo telefone, desde resultados de futebol até a cor da calcinha da Carla Perez. Tudo por módicos R$ 3 — que vêm incluídos na sua conta de telefone. “É uma moleza… Ligue, ligue, se você não ganhou agora vai ganhar na próxima” e, digo eu, só se for o “que a Luzia ganhou atrás da horta.”

Ironias à parte, o problema é sério. A verdadeira lavagem cerebral que a mídia patrocina é uma sandice. O jogo desvirtua os valores morais, deteriora os alicerces da cultura do trabalho que deve ser o único caminho para se ganhar dinheiro. O “imposto do sonho” para muitos é alto e de calamitosas consequências: costumam ser cobrados, às vezes, emprego, projeção social, bens materiais, desmoronamento familiar e até mesmo o suicídio. E convenhamos: jogar não vale a pena, pois a chance que se tem de ganhar, por exemplo, num milhar do jogo do bicho é uma em dez mil. E olha que essa é uma das modalidades consideradas mais fáceis entre as inúmeras opções que as velhas raposas, com suas bochechas coradas de tanto sugar o sangue alheio, colocam à disposição dos incautos.

Publicado em março/1997

Notas despretensiosas à la personagens Disney

  • Os PM’s Oscar Rasco, Cleomar Ginal e Vicente Nebroso, comandados pelo tenente Vitor Tura foram flagrados extorquindo e espancando os comerciantes Izaque Brado e Josafá Lido. O outro acompanhante, Afonso Fredor foi baleado e está mal no hospital. O flagrante só foi possível porque passava com sua câmera naquele momento, perto do local, o Sr. Rossine Grafista.
  • Os sem-terra, comandados pelo líder José Rainhame, chegaram hoje a Brasília com uma extensa pauta de reivindicações. Foram recebidos pelo Ministro do INCRA Vado, Raul Jungman Comunado. O Ministro não pôde atendê-los, haja vista que a bancada ruralista dos deputados Fernandes Falque e Ronaldo Caiado Entio informou que toda terra é produtiva, não servindo para assentamentos. Porém, num gesto de extrema solidariedade, a bancada latifundiária reservará um pedacinho para cada um, medindo dois metros quadrados por sete palmos e meio de profundidade na cidade dos pés-juntos.
  • Preso ontem, em Manaus, o japonês Shibata Rado, acusado de praticar sexo com uma menor de 11 anos de idade. Indagado sobre o motivo que o levou a cometer este grave delito, Shibata alegou que sua ferramenta é incompatível com mulheres adultas.
  • O técnico Mário Jorge Nial Zagalo Prado convocou novamente o jogador Dunga Rotão. Espera-se que, ao lado dos seus companheiros Ronaldin Eirama, Romário Marra, Mauro Silva Cilão, Edmundo Cão (o Animal) e demais colegas consigam trazer o Penta para o Brasil.
  • Conhecido por sua avareza, o pão duro Celso Vina foi vítima de tentativa de assalto nesta madrugada. O fato aconteceu nas imediações do Bar do Salim Digesto onde a vítima estava catando palitos de dente usados, (os de sua casa haviam acabado), quando apareceram Ângela Drona e Leandro Gado ameaçando-o com um 38. Na presença do Juiz Justino Meado, os meliantes informaram que nada puderam levar, pois só encontraram em poder da vítima, além de palitos usados, um pente Flamengo Leado com apenas dois dentes, algumas guimbas de cigarro Mistura Finados e vários lenços descartáveis devidamente descartados.
  • A Prefeita de B.J. Norte, Daisy Dratada, anunciou que finalmente colocará em pleno funcionamento o Hospital Jamile Nário. A equipe médica será chefiada pela Dra. Joelma Tadora, e a parte odontológica ficará a cargo do Dr. Fonseca Riado. Os casos mais graves serão solucionados pelo Dr. Amadeu Tanásia.
  • Banco Nacional Fragado – Causou pena ver o olhar triste do banqueiro Emílio Nário, que estava em sua mansão em Excalibur Guesia rodeado de belas donzelas quando comentou sobre a falência do seu banco Nacional Dacioso. Ele se disse vítima do Ministro da Fazenda Pedro Malan Dragem.

 

Publicado em abril/1998