Aqui eu guardo meus escritos.
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Uma historinha curiosa contada por Sérgio Porto, digo, Stanislaw Ponte Preta, digo, são a mesma pessoa: Deu no Jornal “O Fluminense”, de Niterói/RJ, em julho de 1967, que o então prefeito de Bom Jesus/RJ, Jorge Assis de Oliveira, convocou extraordinariamente a Câmara de Vereadores para tratar de assunto de máxima urgência. O motivo: a aquisição, pelo município, de três porcos reprodutores, cujo pedigree foi profundamente elogiado na mensagem do Executivo. O prefeito justificou que, como muitos fazendeiros não tinham dinheiro para comprar seus próprios reprodutores, “há muita porquinha solteira em Bom Jesus”.
Publicado em janeiro/2006

Aurélio: ergofobia é um substantivo masculino que designa horror ao trabalho.
É um fator humano dos mais desprezíveis que existe desde que o mundo é mundo, mas que na contemporaneidade parece ter alcançado um grau astronômico. A rejeição, a ojeriza ao trabalho digno como forma primordial de subsistência potencializam a incrível onda de violência que nos assola. Não é um fenômeno exclusivamente brasileiro, é bom ressaltar, muito embora o historiador e sociólogo Paulo Prado já demonstrasse há muito tempo certo pessimismo sobre nossa formação. No seu best-seller “Retrato do Brasil” ele imprimiu conclusões desanimadoras sobre a fusão das três raças, que Olavo Bilac chamou de “Três raças tristes”. Prado viu na luxúria e na cobiça dos portugueses, na incultura dos negros, na preguiça dos índios e na indolência dos mulatos, fatores negativos irremovíveis na história de nossa formação, todos de consequências graves para o futuro.
Não há a presunção de querer apresentar aqui um tratado sobre a preguiça como fator que gera a violência, mas é forte a percepção de que ela ocupa um papel coadjuvante num contexto incrível de desmandos políticos onde a corrupção que grassa nos mais graduados centros de poder parece ser o ator principal nesse palco de horrores porque realça a malandragem como sinônimo de prosperidade. A falta de emprego, oriunda da corrupção que estagna o país é a mãe da ociosidade e o álibi perfeito para os que não gostam de trabalhar, exista trabalho ou não. Nessa inversão de valores que vem de cima para baixo devastando dignidades, adjetivos como desocupação, inação, preguiça, indolência, moleza passaram a ser características primordiais de quem está na crista da onda, que num passado nem tão distante, estar na crista significava ter um emprego, um lar, família.
O cidadão contemporâneo que tem apreço pelo trabalho, que cumpre horários, valoriza a disciplina é um bobão que trafega na via inversa da modernidade. O assistencialismo criminoso de governos populistas e demagógicos é o mel do ócio, mas a garantia do continuísmo desse establishment político que pelo visto não vai mudar com Lula. Tomando Bom Jesus do Norte como exemplo dessa apatia que acomete significativa parcela da população brasileira, parece não haver dúvidas que a vadiagem exerce papel importante na ilicitude. Nada pode emergir de produtivo, de edificante em bandos de desocupados nos botequins e nas ruas em dias e horários úteis. É angustiante perceber o vício e a devassidão que acometem boa parcela da juventude com seus cabelos amarelos, ostentando piercings e balangandãs que emolduram mentes moles e corações duros.
Vinte e quatro por cento dos jovens brasileiros rechaçam a ideia de que podem melhorar o mundo ou suas próprias vidas, segundo pesquisas recentes. Não enxergam impactos econômicos, sociais ou ambientais em suas ações. O índice é considerado altíssimo para o padrão médio mundial. Longe do pecado da generalização, a cultura da malandragem marcou seu espaço a ferro e fogo no ventre da sociedade. Prova disso é a dificuldade de encontrar quem queira realmente trabalhar na verdadeira acepção do verbo. Hoje em dia, oferecer uma tarefa remunerada em contrapartida a quem pede uma caridade sujeita o benfeitor ao constrangimento da recusa porque vivemos num país em que o paternalismo dá o bujão de gás e o peixe, mas a desfaçatez política não propicia formas dignas para a aquisição do comburente nem ensina a pescar.
A violência é a canalização de todas as mazelas culturais e políticas. Está aí o tal do Big Brother, que retrata bem nossos valores de hoje: ficar de bunda para cima cultuando o egocentrismo, a traição e a frivolidade é tão importante que chega a valer meio milhão de reais a quem melhor os façam.
Publicado em março/2003

Na calada da noite um vulto furtivo preparava-se para fazer uma grande lambança contra um desafeto. E fez, literalmente. Os dois moram na mesma rua. A distância que separa as casas é de aproximadamente 50 metros. Um é partidário da atual prefeita e candidata derrotada Daisy Batista. O outro, de Ubaldo Martins, o prefeito eleito este ano. Em comum entre os dois, apenas o ardor com que defenderam e defendem seus candidatos.
O fato é verídico, vizinhos testemunharam a insólita confusão. Um senhor de idade, aposentado, que está morando em Bom Jesus do Norte há pouco tempo, talvez inconformado com a derrota de sua candidata, e talvez ainda mais com as gozações do vizinho, teve uma ideia curiosa e… nojenta para aplacar sua ira: Resolveu defecar e jogar as fezes no cartaz de Ubaldo, orgulhosamente ostentado na residência do vizinho mesmo 30 dias após as eleições, época do estranho e fedorento protesto.
Estava o cidadão nessa noite se deliciando em borrar a estampa do prefeito, onde retirava de uma lata a “munição” e mirava o alvo com uma pontaria certeira — atividade que lhe causava enorme prazer — que nem se deu conta quando o vizinho, despertado pelo barulho, surpreendeu-o com as mãos na massa…, digo, na merda!
— O que significa isso?, perguntou, possesso, o dono da casa. Aproximando-se mais do vingador desastrado, sentiu o fedor que recendia de suas mãos e não se conteve: — seu filho da puta! Vou chamar a polícia, ameaçou.
Apavorado, o infeliz balbuciou implorando que não o fizesse:
— Eu limpo tudo.
— Então limpa agora.
O homem correu em casa, voltou rápido com mangueira, vassoura e outros apetrechos.
— Com vassoura não. Com as mãos. Vai limpar com as mãos.
E o vingador, obediente, não hesitou.
— E se não ficar bem limpo terá de fazê-lo com a língua, desforrou-se o irado vizinho.
Moral da história: em futebol, religião e política, o acirramento exacerbado dos ânimos e o fanatismo é ignorância que costuma dar merda.
Publicado em novembro/2000

Raciocinemos: Sérgio Naya é um dos que fazem as leis neste país; os finórios criadores da Imobiliária Política S/A (e bota anônima nisso), que compram, vendem e alugam parlamentares e mandatos, idem; os que metem a mão no Orçamento e nos precatórios, também.
Desviando-me da armadilha do repúdio ao Congresso como um todo — onde há honrosas exceções — havemos de perceber que tais frequentadores impregnam o ambiente com seu ranço de má vontade em alterar qualquer vírgula nas leis que possam contrariar seus interesses pessoais. Alguém por acaso espera que Naya sinta vontade de mudar o Código Penal, por exemplo, se com 10% de mudanças seu destino seria as grades? Ou que desejasse dotar o INSS de mecanismos ágeis para a arrecadação, se ele é um dos maiores devedores da Previdência?
A sagacidade desses tipos contamina em efeito dominó muitos dos seus pares aparentemente hem intencionados. É difícil resistir a sofismas bem concatenados de bandidos, sim, mas perspicazes. Além do mais, uma carona num jatinho particular ali, um apartamento aqui, um empréstimo sem juros e a fundo perdido acolá costumam reverter caráteres nem tão convictos.
Naya não será preso. Roubou, falsificou, corrompeu, matou, mas através de renomados advogados pagos a peso de ouro logrará escapar. Será mais um beneficiado pelas filigranas jurídicas num Código injusto — que ele ajudou a manter ou criar — mas não terá sido culpa dos profissionais da Justiça desaparelhada e obsoleta, vitimada também de alguma forma por seus truques. Sua crença na impunidade é tanta que, certa feita, dissera textualmente: “O preço da Justiça está no canhoto do meu cheque”, de acordo com o jornalista Salomão Scwartzman, que reproduziu a frase em seu programa do dia 3/3/1998 na Rede Manchete. Ou então, “falsifico mesmo”, frase reprisada dezenas de vezes pela Rede Globo.
O gosto amargo que fica de toda essa canalhice é que ele matou gente. Matou fisicamente, matou moralmente, matou economicamente, matou emocionalmente. Destruiu sonhos, projetos de vida, recordações! E ficará sem castigo porque, da mesma forma que determina seu próprio salário, determina também sua impunidade. A menos que… MUDA, BRASIL!
Publicado em Março/1998

No Japão, manifestação de trabalhadores contra a proposta do governo de ampliar o período das férias anuais, que é de sete dias. Sim, isso mesmo, não há erro no enunciado: os trabalhadores japoneses são contra a ampliação do seu próprio período de férias. Nos EUA respeita-se com fervor o Dia de Ação de Graças, tradição centenária desde o século XVII em agradecimento pela generosa colheita obtida depois do primeiro inverno que os colonos passaram na Nova Inglaterra, atual território americano, então colônia da Grã-Bretanha. Os norte-americanos também cultuam o Dia da Independência (obtida em 4/7/1776, que os livrou do colonismo inglês); o Natal e mais uma ou outra data regional relevante. Nada mais. Quando o presidente Kennedy, um dos ícones americanos foi assassinado brutalmente em novembro de 1963 causando uma comoção generalizada jamais vista, nada de feriado ou ponto facultativo no dia seguinte; ao trabalho.
Na Inglaterra não se brinca Carnaval, e no restante da Europa, de maneira geral, feriados são poucos, e “enforcamentos” são traços nas estatísticas. Não por acaso são nações ricas. E nós? Bem, além do Natal e Ano Novo, que se coincidirem cair numa terça a gente mata a segunda, ou, se numa quinta, a gente rifa a sexta, vem janeiro, que é um mês maravilhoso por ser muito quente e coincidir com as férias escolares. Aí a gente dá um jeitinho de cabular o trabalho por uns dias e pegar uma praia. Depois vem o Carnaval, que apesar de oficialmente ser na terça, nós paramos desde a sexta anterior até a quinta seguinte, com algumas exceções, claro, como na Bahia, onde a folia dura mais de 10 dias.
Seguindo a cronologia (não podemos esquecer que tudo isso vem entremeado com datas regionais e municipais, afinal, temos que parar também para prestar homenagens aos nossos inúmeros santos e heróis que, a propósito, só são santos e heróis por terem trabalhado muito de alguma forma) vem depois a Semana Santa dos “enforcamentos”; depois, o nosso dia, que trabalhamos tanto! Temos que parar no 1° de maio, afinal, ninguém é de ferro!
Depois…, ah, depois…, sempre há um motivo para não trabalharmos, como a Copa do Mundo este ano! Praticamente parados durante um mês inteirinho, gente. E ai do Zagallo se ele tirar prematuramente o time de campo. Depois, julho, novamente coincidindo com as férias dos guris. Legal. Agosto é um saco para quem não mora em Bom Jesus (a tradicional festança nos livra do trabalho ao menos três dias úteis); setembro tem nossa Independência, e havemos de parar para tecer loas a Dom Pedro, sujeito supimpa.
Outubro é foda, mas logo chega novembro, que a gente já no primeiro dia para e faz uma visita rapidinha ao cemitério e volta correndo para casa a fim de saborear um churrasco e muitas geladas, homenageando os que se foram (algumas homenagens são por terem ido). Depois, dezembro, ótimo mês pelas perspectivas das folgas que se avizinham e por consumirmos com mais avidez o que não produzimos.
Eles são ricos? Ah.., mas não têm mulatas, Ronaldinho e Silvio Santos, nem a louríssima número Huuuuummmm…
Fernando Henrique, cuide bem de minha cesta básica, viu?
Publicado em março/1998