“Perseguição política”: panaceia

Nenhum brasileiro pode atualmente, em sã consciência, na plenitude da lucidez, olvidar que estamos vivendo talvez a fase mais perversa da corrupção da história republicana. O achincalhe é total, já não há sequer uma pequena preocupação da salvaguarda das aparências, a coisa se institucionalizou de tal forma, tão às escâncaras e tão impunemente, que parece não haver mais solução (vale enaltecer o trabalho da Polícia Federal, que jamais teve tanto trabalho e se mostrou tão eficaz.)
Já a Justiça… Interessante notar que políticos extremamente inteligentes, perspicazes, bem preparados de intelecto, que roubam da forma mais engenhosa não encontram desculpa melhor elaborada quando se veem denunciados do que a mesmíssima cantilena, velha do vento sul, de que tudo não passa de perseguição política. Ora, ora, ora, como dizia o velho Teotônio. Nem sequer respeitam nossa inteligência.
Mas eu, em verdade, lhes digo: tirem o cavalinho da chuva, macanudos, pra cima de mim, não. De há muito acabou o que se denominava ‘movido pela causa’. Poucas são as exceções que se preocupam realmente com o destino do seu país, do seu município. O negócio hoje é dê cá aquela palha, e dessa profusão de interesses pessoais resulta a “perseguição política”. E ai de nós se não fosse ela, pois se com perseguição, que gera denúncias, estamos na fossa do Planeta, ganhando apenas de Serra Leoa (alguém sabe que Serra Leoa é um país paupérrimo nos confins da África Ocidental?) em distribuição de renda, como seria “sem perseguição”?
“Ei, você aí com o bocão nesse tetão, sabe quantas crianças seriam salvas da inanição (com rima e tudo) se você mamasse menos?”, seria uma reação edificante. “Ei você aí com este bocão…, vai mamar tudo? E eu, como fico?”, é a realidade. Daí, repito, a “perseguição”… Bom Jesus também foi alvo recentemente dos “perseguidores”. Só que os nossos envergonham a classe persecutória, cujos membros têm, em muitos casos, a coragem de mostrar a cara. Os daqui, não, se esconderam na covardia do anonimato, são a essência do mais repugnante X-9. Aos denunciados caberia, se tivessem o preparo necessário, inovar a justificativa fácil e cômoda do “é perseguição política”.
Fernando Collor também evocou em sua defesa esta frase imorredoura, e para não me alongar, todos, rigorosamente todos os políticos que são pegos com a boca na botija se valem da indefectível “é perseguição política”. Se os de Bom Jesus estiverem realmente com as consciências tranquilas, nada a temer, até pelo contrário. Provem que não estão também no valhacouto da imoralidade, reabilitem o nome de nossa cidade manchado pelas “perseguições”. Haveríamos de desfrutar dessa pretensa luz que se faria no fim do túnel e a “perseguição” de hoje se transformaria na mais eficiente publicidade política de amanhã.
Publicado em junho/2005