“Quem poupa o lobo, mata as ovelhas” – Victor Hugo

A maior tragédia não foi o menino João Hélio Fernandes, 6, ter sido arrastado por 7 km por bandidos no Rio de Janeiro, preso pelo cinto de segurança do carro que estava sendo roubado de seu pai. O horror maior é que já caiu no esquecimento! Como de praxe, três ou quatro dias em todos os noticiários e depois nem uma notinha de pé de página. E como de praxe também, as autoridades se esforçando nos ares de contrição sem, contudo, terem a capacidade de tomar uma miserável atitude! Ah: o presidente da República tomou, sim. Reafirmou ser radicalmente contra a redução da maioridade penal que puniria, entre outros, aquele que disse ou ouviu do comparsa que o inocente martirizado, destroçado, esfolado vivo era o judas deles.
Mas votar este marginal pode, pois tem o discernimento para saber escolher o seu prefeito, o seu senador, o seu presidente. Só não sabe, coitadinho, que não se pode matar, nem estuprar, nem barbarizar, nem torturar uma criança de 6 anos da forma a mais cruel e covarde. A sociedade tem de condescender com esse pobre injustiçado e deixar que ele faça o que bem entender com os seres humanos, sem relevar o fato de que ele não seja humano.
É claro que a injustiça social no Brasil é parceira constante da violência, mas se a miséria fosse a principal causa da violência, a ameaça à paz do mundo viria de países pobres, e não como se vê e sempre se viu. Bin Laden, por exemplo, é ultramilionário, que arregimenta pessoas de bom nível social e econômico para matar por ideologia religiosa milhares de pessoas da maneira a mais diversa e perversa. O tráfico também exerce seu sombrio e perene papel de estímulo à violência, mas a impunidade ganha disparada.
Nos Estados Unidos, alguns estados punem, como se adultos fossem, crianças de até 7 anos de idade, com cana dura mesmo, conforme a natureza de seus crimes (a idade mínima é 7 na maioria dos estados, de acordo com a tradição anglo-saxã da “common law” – lei comum); no México, a partir de 11 (para crimes federais) e 12 (demais crimes); na Inglaterra, 10; França, 13; Alemanha, Itália, Japão e Rússia (e algumas ex-repúblicas soviéticas), 14; Argentina, 16. E estas não são republiquetas quaisquer, diga-se.